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A arte de argumentar Artista da vida

Por:   •  28/1/2016  •  Trabalho acadêmico  •  5.562 Palavras (23 Páginas)  •  675 Visualizações

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A arte de argumentar

Em quase todos domínios profissionais é preciso que estejamos sempre a procura do que é válido, mais aceitável ou verdadeiro. Para isso, precisamos conhecer a arte de argumentar e entender o que é um argumento, como se usa nossa  linguagem materna e como se constrói uma argumentação, isso entendido no sentido de arte de usar de modo crítico afirmações, quer sejam estas oriundas de investigação ou emissão de uma opinião. Conforme diz Abreu, o que importa ao homem  transformar as informações a que tem acesso em conhecimento:

O verdadeiro sucesso depende da habilidade de relacionamento interpessoal, da capacidade de compreender e comunicar idéias e emoções. (...) O mais importante não são as informações em si, mas sim a transformação destas informações em conhecimento. As informações são tijolos e o conhecimento é o edifício construído com eles. Mas onde vamos buscar esses tijolos? A maior parte das pessoas os obtém unicamente dentro da mídia escrita e falada. Desde 1924, filósofos como Theodor Adorno, Walter Benjamin e, mais tarde, Herbert Marcuse e Erich Fromm nos alertaram sobre os perigos da cultura de massa e da indústria cultural. Na verdade, a mídia nos oferece uma espécie de “visão tubular” das coisas. É como se olhássemos apenas a parte da realidade que ela nos permite olhar, e da maneira como ela quer que nós a interpretemos. (...) Por meio da leitura, podemos, pois, realizar o saudável exercício de conhecer as pessoas e as coisas, sem limites no espaço e no tempo. Descobrimos, também, uma outra maneira de transformar o mundo, pela transformação de nossa própria mente. Isso acontece quando nós adquirimos a capacidade de ver os mesmos panoramas com novos olhos. [1]

        O mesmo autor afirma que “é no relacionamento com o outro que vamos nos construindo como pessoas humanas e ganhando condições de sermos felizes”. (Abreu, 2001, p. 20).

Pelo que conhecemos da história, desde a antiguidade a humanidade se interessa pela argumentação e reflete sobre métodos para determinação das circunstâncias em que um raciocínio ou inferência merece ser considerada válida. A primeira pessoa de que temos conhecimento a pensar sobre isso foi Aristóteles. Seu exemplo foi seguido por muitos outros filósofos.  

A retórica - arte de convencer e persuadir - surgiu em Atenas, por volta de 427 a.C., com a primeira experiência de democracia de que se tem noticia na História, com as leis sendo feitas pela própria sociedade, para aperfeiçoar a convivência. Tais leis foram sistematizadas por Sólon e Clístenes, a partir de conflitos sociais e debates em assembléias de cidadãos. Sem autoritarismo, era importante que os cidadãos dominassem a arte de falar bem e de argumentar. Dada esta demanda, afluíram a Atenas mestres que tinham competência para ensinar essa arte e que se autodenominavam sofistas (sábios, professam a sabedoria). Os mais importantes foram Protágoras e Górgias. Em Atenas, havia duas grandes instituições educacionais, a Escola Retórica de Isócrates e a Academia de Platão. Como mestres itinerantes, faziam muitas viagens e conheciam diversos usos e costumes. Isso lhes dava uma visão de mundo mais abrangente e lhes permitia mostrar que uma questão admite, geralmente, diferentes pontos de vista. Esse tipo de pensamento levou Protágoras à afirmação “O homem é a medida de todas as coisa” e outra em que dizia que o verdadeiro sábio é aquele capaz de julgar as coisas segundo as circunstâncias em que elas se inserem e não aquele que pretende expressar verdades absolutas.

A retórica, ao contrário da filosofia, professada por Sócrates e Platão, trabalhava com paradigmas e múltiplas perspectivas, motivo do conflito entre retóricos ou sofistas e os filósofos, estes acreditando em dicotomias como verdadeiro/falso, bom/mau etc. Atentemos que a retórica clássica tinha natureza heurística[2], pois descobria temas conceituais para discussão. Conforme Abreu:

Tudo aquilo que pensamos e fazemos é fruto dos discursos que nos constroem (...) somos moldados por uma infinidade de discursos: discurso científico, discurso jurídico, discurso político, discurso religioso, discurso do senso comum, etc. (...) o mais significativo deles é o discurso do senso comum. Trata-se de um discurso que permeia todas as  classes sociais, formando a chamada opinião pública. (...) Esse discurso tem um poder enorme de dar sentido à vida cotidiana e manter o “status quo” vigente, mas tende a ser, ao mesmo tempo, retrógrado e maniqueísta. (...) os momentos das grandes descobertas, das grandes invenções, foram também momentos em que as pessoas foram capazes de opor-se ao discurso do senso comum. (...) Em Atenas, uma das técnicas mais utilizadas pelos professores de retórica para arejar a cabeça dos atenienses contra o discurso do senso comum, era a de criar paradoxos – opiniões contrárias ao senso comum - levando, dessa maneira, seus ouvintes ou leitores a experimentarem aquilo que chamavam maravilhamento, capacidade de voltar a se surpreender com aquilo que o hábito vai tornando comum. Essa palavra foi substituída no expressionismo alemão, no surrealismo francês e, sobretudo no formalismo russo, pela palavra estranhamento, definida como a capacidade de tornar novo aquilo que já se tornou habitual em nossas vidas. A retórica clássica se baseava, portanto, na diversidade de pontos de vista, no verossímil, em não em verdades absolutas. Isso fez com que a dialética e a filosofia da época se aliassem contra ela. Platão, em sua obra chamada Górgias, procura mostrar que a retórica visava apenas aos resultados, enquanto que a filosofia visava sempre ao verdadeiro. Isso fez com que a retórica decaísse perante a opinião pública (discurso do senso comum) durante séculos. A própria palavra sofista passou a designar pessoas de má-fé que procura enganar, utilizando argumentos falsos. O interessante é que o próprio Platão, na sua República, utiliza amplamente os recursos retóricos que ele próprio condenava. Nietzche comentou, ao seu estilo, que o primeiro motivo que levou Platão a atacar Górgias foi que Górgias, além de seu sucesso político, era rico e amado pelos atenienses. (...) Nos dias de hoje, a partir dos estudos da Nova Retórica e do chamado Grupo µ, de Liège, na Bélgica, a retórica foi reabilitada, tendo sido, sobretudo a partir dos anos 60, beneficiada pelos estudos de outras ciências que se configuraram em nosso século, como a Lingüística, a Semiótica, a Pragmática e a Análise do Discurso. Os métodos retóricos da exploração da verossimilhança e dos diferentes pontos de vista sobre um objeto ou situação têm sido o motor que vem impulsionando o grande avanço moderno da ciência e da tecnologia. [3]

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