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GEOPOLITICA

Por:   •  23/3/2016  •  Resenha  •  1.310 Palavras (6 Páginas)  •  189 Visualizações

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A Geopolítica da “nova ordem mundial” Definida como uma relação de competição entre duas superpotências, a Guerra Fria terminou com um dos competidores a sucumbir sob o peso das suas próprias contradições. Porém, nunca foi simplesmente uma relação antagónica, mas sim um sistema de controlo geopolítico com um complexo sistema de instituições estatais, forças militares, interesses económicos, coligações políticas, valores culturais e intelectuais da governação em ambos os lados. À medida que o sistema soviético começou a desintegrar-se, o conjunto ocidental de ideologia, instituições e intelectuais mantiveram-se presumivelmente coerentes. O fim da Guerra Fria foi sentida como uma vertigem geopolítica, um estado de confusão em que as velhas panaceias eram redundantes e as novas ainda não tinham sido inventadas, publicadas e aprovadas. O grande problema foi que ninguém, no Ocidente, tinha previsto o colapso do comunismo, a implosão da URSS e o fim da Guerra Fria. O colapso do império soviético revelou, não só o falhanço do comunismo, mas também o falhanço intelectual das instituições do Ocidente peritas em Geopolítica. O fim da ordem bipolar pôs em evidência as características da “nova ordem mundial”, nomeadamente: a existência de uma única superpotência; a tendência para a criação de grandes blocos económicos e a decorrente competição entre eles; a internacionalização dos mercados e do capital; o aparecimento de novos confrontos ideológicos, baseados já não em doutrinas políticosociais, mas em extremismos nacionalistas, étnicos e religiosos; novas atitudes e princípios na política internacional, como a soberania limitada, o dever de ingerência, os direitos humanos e a protecção do ambiente; por fim, uma opção unilateralista do governo dos EUA nas decisões sobre os grandes temas globais, colocando em segundo plano os acordos e compromissos internacionais anteriormente assumidos.[14] Aconselhando sobre os perigos da euforia, a administração Bush (pai) proclamou a “incerteza”, a “imprevisibilidade”, a “instabilidade” e o “caos” como as novas ameaças, e encontrou a razão e a racional para definir a “nova ordem mundial”, com os EUA no centro, com a “responsabilidade sem igual” de fazer o “trabalho sujo” de trazer a liberdade ao resto do globo. O excepcionalismo nacional e o triunfalismo que caracterizaram a declaração de Bush de uma “nova ordem mundial” durante a Guerra do Golfo de 1991, eram já evidentes no verão de 1989 na cultura estratégica e política dos EUA. Um exemplo gritante foi o ensaio “O fim da História?”, de Francis Fukuyama, e a admiração e o entusiasmo que ele recebeu de muitos sectores da comunicação social ocidental. Este artigo foi apresentado como uma declaração filosófica importante, principalmente para proeminentes intelectuais neoconservadores. O “fim da História” era aquele ponto em que a humanidade tinha conseguido as verdades universais expressas primeiramente pela Revolução Francesa, os princípios da liberdade e da igualdade. O “estado homogéneo universal” tinha alcançado o pináculo da evolução histórica. Era homogéneo porque todas as contradições anteriores, como a divisão geopolítica ou em classes, estavam resolvidas e todas as necessidades humanas estavam satisfeitas. O que restava era primariamente a actividade económica. O artigo de Fukuyama foi importante porque ilustrou uma tentativa precoce dos neoconservadores para refazer o discurso da Guerra Fria à luz do colapso do comunismo na Europa. Dado que tinha atingido o “fim da História”, o Ocidente era “pós-histórico”, ao passo que o resto do mundo estava ainda a lutar no “histórico”. As ideias de Fukuyama tinham contudo, na opinião de O’Tuathail, duas falhas importantes. Em primeiro lugar, era um esquema fortemente etnocêntrico que não reconhecia os problemas sérios que afectavam os estados ocidentais. Classificar certos estados como “liberais” não diz grande coisa sobre a estrutura geográfica específica de estados e as contradições das suas versões históricas particulares de liberalismo, nacionalismo e militarismo; os estados ocidentais estão longe de ser homogéneos em termos de liberalismo. Em segundo lugar, a suposição que o declínio da ideologia marxista-leninista e a suposta expansão do liberalismo levará à diminuição dos conflitos internacionais entre os estados, é indevidamente optimista. A sua conclusão que a vida internacional para aqueles que alcançaram o “fim da História” está mais preocupada com a economia do que com a política e com a estratégia, vai de encontro à suposição falaciosa que as democracias capitalistas são pacíficas e não belicosas.[15] De acordo com Fukuyama sobre a importância da economia na “nova ordem mundial”, mas discordando com o seu raciocínio e com as suas conclusões, esteve Edward Luttwak um ano mais tarde. Argumentava que era visível que todos defendiam que os métodos de comércio estavam a destronar os métodos militares na política mundial. Porém, como consequência quer da globalização da economia americana, quer da modernização militar levada a cabo pela administração Reagan, no início da década de 1990’s, os EUA tiveram um orçamento recorde e um défice comercial. Examinada mais atentamente, a argumentação de Luttwak era meramente uma extensão dos pressupostos essencialmente realistas que tinham legitimado e alicerçado a corrida armamentista da Guerra Fria. Tal como a oposição de Fukuyama entre economia e política/estratégia, a oposição de Luttwak entre geopolítica e geo-economia caracterizava mal uma realidade mais complexa. Por um lado, a Geopolítica da “guerra fria” também englobava a geo-economia. Por outro, o fim da “guerra fria” não marcou, por si só, o fim da Geopolítica; apenas da ideológica. A globalização da economia americana e o poder crescente das empresas transnacionais não eram antagonizadas pelos líderes políticos dos EUA, mas sim activamente encorajadas por eles. Quer Reagan, quer Clinton, subscreviam o discurso do liberalismo transnacional (ou neoliberalismo), acreditando na extensão mundial dos princípios do comércio livre e da desregulamentação. Geopolítica e geoeconomia não são conceitos opostos mas sim que se entrelaçam. Alguns intelectuais neoconservadores, como Samuel Huntington, moldaram todo o mundo pósGuerra Fria como uma guerra cultural entre diferentes grupos civilizacionais. Huntington escreveu sobre um “choque de civilizações” à escala mundial, que, no final, opunha “o Ocidente contra o resto”. Esta tese do “choque de civilizações” causou um enorme debate nos meios estratégicos americanos. Como outros intelectuais da governação estabelecida, Huntington tentou “civilizacionar” a turbulência e o caos da “nova (des)ordem mundial”, desenhando um mapa da política mundial que baseava o “Ocidente” à volta de valores conservadores, e redefinia novos inimigos contra quem se mobilizar (i.e. fundamentalistas islâmicos, imigrantes e multiculturalistas). O acontecimento que marcou oficialmente o início da “nova ordem mundial” foi a invasão do Kuwait pelo Iraque. Em termos práticos, esta “nova ordem” para Bush era um mundo onde os EUA, aliados àqueles que os quisessem seguir, impusessem a ordem. Qualquer alteração à ordem geopolítica desfavorável aos EUA e aos “interesses do Ocidente”, eram consideradas agressões fora da lei que “não podiam ser aceites”. A “guerra do Golfo” foi a oportunidade perfeita para o complexo industrial militar americano se relegitimar e definir a situação fluida do pós-“guerra fria” como um mundo de “Estados-pária” e “fora-da-lei nucleares” (Iraque, Irão, Líbia, Síria, Coreia do Norte, etc.) que ameaçavam a segurança do Ocidente. Com a “guerra do Golfo” como relações públicas de grande impacto, o Pentágono e outras instituições foram capazes de justificar a nova doutrina como a sua nova postura pós- Guerra Fria. O argumento que as Forças Armadas dos EUA deviam manter uma capacidade de combater duas guerras regionais, pilar estratégico da sua defesa, era fundamental para a nova doutrina “pária”. O objectivo do padrão das “duas guerras” era conter os cortes na defesa, mais do que ameaças geopolíticas reais. Sem uma superpotência como inimigo claro, e ajudada pela globalização da actividade económica, criou-se uma crise de significado e de coerência para o “Ocidente”. Adicionalmente, dentro da sociedade ocidental, vozes sobre o multiculturalismo, a defesa do ambiente, as perspectivas feministas e das minorias étnicas e raciais, começaram a desafiar as posições privilegiadas de quem tinha detido historicamente a autoridade. Para alguns neoconservadores, a tendência crescente das ideias do “multiculturalismo” – que desafiava os mitos excepcionalistas do Ocidente e a aplicação limitada dos seus princípios de liberdade e igualdade – ameaçavam balcanizar por dentro o “Ocidente” como identidade.

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