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REDES DE COLABORAÇÃO SOLIDÁRIA E COMÉRCIO JUSTO

Por:   •  8/7/2018  •  Trabalho acadêmico  •  3.575 Palavras (15 Páginas)  •  176 Visualizações

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1 – REDES DE COLABORAÇÃO SOLIDÁRIA

1.1 – Conceito

Rede de Colaboração Solidária, segundo Mance (2002), refere-se a uma estratégia desenvolvida para interligar os empreendimentos solidários em um movimento de realimentação e crescimento conjunto, autossustentável e adverso ao capitalismo, com o objetivo de remodelar de maneira solidária e ecológica as cadeias produtivas. Tem se apresentado como uma importante estratégia de organização econômica, política e cultural, na visão de construir coletivamente, a superação da sociedade capitalista, desenvolvendo, a solidariedade e a justiça.

A concepção de rede deriva da Teoria da Complexidade, que estuda qualquer conjunto de elementos ou agentes que interagem dinamicamente entre si reproduzindo seu próprio comportamento. A ideia de rede enfatiza as relações entre diversidades que se integram, os fluxos de elementos presentes nessas relações, os laços que potencializam a união coletiva, a capacidade de produzirem a si próprios, a possibilidade de transformação de cada parte pela sua relação com as demais e a transformação do conjunto pelos fluxos que circulam através de toda a rede. Assim a consistência de cada membro depende de como ele se integra à rede, dos fluxos de que participa, de como acolhe e colabora com os demais. (MANCE, 2002).

1.2 – Contexto Histórico

Em um mundo onde crescem as desigualdades sociais ao passo em que a concentração da riqueza é cada vez maior, as práticas de economia solidária surgiram com o objetivo de enfrentar essa realidade de injustiça estrutural. Diversas práticas diferentes de financiamento, produção, comércio e consumo solidários foram bem-sucedidas, no entanto, o isolamento dessas práticas dificultava a expansão local e global.

Isto posto, a proposta das Redes de Colaboração Solidária foi desenvolvida a partir dessas práticas socioeconômicas solidárias realizadas ao redor do mundo, com base na perspectiva da filosofia da libertação, que em suma indica a necessidade de superação da ordem posta, para estabelecer uma nova situação onde seja possível a inclusão do pobre, do assalariado, da mulher submissa ao marido da sociedade machista, visando uma ruptura com o modelo conhecido, tido como eurocêntrico e a criação de uma nova realidade. (ANGELUCCI, 2006).

Segundo Mance (2005), no final dos anos 90, a integração das práticas bem-sucedidas em sistemas de rede transformou a economia solidária em uma alternativa de desenvolvimento sustentável, com foco na geração de postos de trabalho e na distribuição de renda, em contrariedade à realidade estrutural de concentração da riqueza e de exclusão social características do capitalismo globalizado.

1.3 – Objetivos

A pesquisa pelos objetivos das redes de colaboração solidária apresentou como recorrente as premissas estabelecidas por Mance (2002). O referido autor afirma que “o objetivo básico das redes de colaboração solidária é remontar de maneira solidária e ecológica as cadeias produtivas”, observando ainda alguns critérios, listados a seguir:

a) produzindo nas redes tudo o que elas ainda consomem do mercado capitalista: produtos finais, insumos, serviços, etc;

b) corrigindo fluxos de valores, evitando realimentar a produção capitalista, o que ocorre quando empreendimentos solidários compram bens e serviços de empreendimentos capitalistas;

c) gerando novos postos de trabalho e distribuindo renda, com a organização de novos empreendimentos econômicos para satisfazer as demandas das próprias redes;

d) garantindo as condições econômicas para o exercício das liberdades públicas e privadas eticamente exercidas.

Além disso, o autor ressalta que “o reinvestimento coletivo dos excedentes possibilita reduzir progressivamente a jornada de trabalho de todos, elevar o tempo livre para o bem viver e aprimorar o padrão de consumo de cada pessoa”, assim, podendo ser considerado um possível objetivo secundário das redes de colaboração solidárias.

1.4 – Propriedades Básicas

Ainda tomando como referencial a obra de Mance (2002), as propriedades básicas das redes de colaboração solidária são definidas por: autopoiese, intensividade, extensividade, diversidade, integralidade, realimentação, fluxo de valor, fluxo de informação, fluxo de matérias e agregação.

Para o autor, “a gestão de uma rede solidária deve ser necessariamente democrática”, visto que a presença dos membros é totalmente voluntária, de acordo com os contratos firmados entre eles.

Além disso, dentre as características dessas organizações constam: descentralização, gestão participativa, coordenação e regionalização, as quais procuram garantir a autodeterminação, bem como a autogestão de cada organização e da rede de modo pleno.

A explicação das propriedades básicas das redes de colaboração pode ser feita de acordo com Schnorr (2004), a qual descreve cada um dos elementos apresentados por Mance da seguinte forma:

• Autopoiese: funciona como um sistema aberto que se auto-reproduz;

• Intensividade: cada unidade da rede deve atingir e envolver um maior número de pessoas no local onde aquela unidade atua, articulando-se à rede em geral.

• Extensividade: A rede deve expandir-se para outros territórios colaborando no surgimento de novas unidades e fortalecendo o seu conjunto;

• Diversidade: integra, de maneira criativa e fecunda, as ações realizadas na esfera pública não-estatal (“terceiro setor”) envolvendo o maior número possível de ONG’s, organizações populares, associações, movimentos, etc.

• Integralidade: Todos os objetivos da colaboração solidária defendidos pelas diversas unidades da rede em particular devem ser assumidos pelo conjunto da rede, garantindo sua organicidade.

• Realimentação: significa que as ações desenvolvidas pela rede, através de cada unidade, agencia novas ações da própria rede, ampliando-a enquanto tal.

• Fluxo de Valor: na rede é importante a correção permanente do fluxo de valor. Isto possibilita que os valores produzidos na rede realimentem a produção e o consumo dela mesma. Assim a rede poderá crescer rapidamente, possibilitando que as riquezas produzidas por ela circulem e melhorem o padrão de consumo de todos.

• Fluxo de Informação: considerando que também são objetivos básicos a descentralização

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