Resenha crítica: A posse de Donald Trump como presidente dos EUA pode afetar todo o planeta?

1. INTRODUÇÃO

A vitória inesperada de Donald J. Trump trouxe para o mundo uma onda de insegurança e incerteza. Sua campanha foi marcada por propostas polemicas, baseada em três principais pilares: isolacionismo internacional, nacionalismo e protecionismo. Conforme afirma Heni Ozi Cukier, especialista em relações internacionais em entrevista à revista Época (2016), o instinto isolacionista baseado no conceito nacionalista que diz “os Estados Unido em primeiro lugar” levará o mundo a uma grande instabilidade, e isso é o que mais preocupa.

Países como o México, Tailândia, Israel e também o continente Europeu estão preocupados com rumos que a administração do republicano pode tomar, é notável a tensão acerca do futuro de todos. Para o México além da campanha agressiva e por vezes xenofóbica que deixou milhões de mexicanos residentes nos Estados Unidos revoltados, a previsão à curto prazo é de grande dificuldade, a moeda mexicana pode cair ainda mais e o mercado reagir de forma negativa.

Trump em sua política protecionista pretende sacrificar os interesses de seus aliados mais próximos, alegando que os estes estão muito dependentes dos EUA e isso fez com que o país perdesse seu poder de ameaça. Pode-se perceber essa situação como algo bastante preocupante para a Tailândia que ao perder o apoio dos EUA em busca de uma democracia liberal fará com que forças autoritárias ganhem força dificultando o processo da democracia e a busca por nova eleição. A relação dos EUA com Israel também sofrerá maior violência. Com a intervenção dos EUA, Israel se beneficia, sem esta intervenção as forças hostis ganham força, os inimigos ganham força. Na Europa Central e Oriental o isolacionismo da política de Trump facilitará aos regimes majoritariamente não-liberais impor suas regras.

Na Europa a população encontra-se bastante preocupada acerca do mais novo presidente da maior potência do mundo. Tido como desqualificado, sua vitória causou grande alarme e pavor aos europeus, eles acreditam que Trump não fará coisas as coisas certas em relação aos assuntos globais. A admiração do presidente americano por Vladimir Putim (presidente russo) assusta, o recuo dos EUA deixa a Rússia mais assertiva e forte, ficando livre para agir. Tal situação combinada com a crise migratória ameaça o futuro da Europa.

A China recebeu a vitória de Trump com preocupação e otimismo. Se por um lado Trump prometeu impor tarifas punitivas à China para proteger a indústria americana, favorecendo uma guerra tarifária, por outro a China pode obter grandes benefícios com a menor proteção dos EUA no o sudeste asiático. Sem a intervenção americana, a China ganha força fazendo com que os países do sudeste asiático fiquem sem alternativa, tornando-os grandes dependentes financeiros do país. Desta forma haverá grande aniquilamento dos países dessa região, que endividados serão sufocados pela China. A política isolacionista e protecionista de Trump favorecerá fortemente o crescimento descontrolado da China e Rússia, que ganharão espaço no vácuo deixado pela não intervenção americana.

2. O QUE PODE MUDAR NAS RELAÇÕES DO BRASIL COM OS EUA E COM OUTROS PAÍSES?

Como no mundo todo, a chegada do presidente republicano Donald Trump à Casa Branca foi recebida pelo Brasil com preocupação e muitas dúvidas. Apesar do Brasil e a América Latina, com exceção do México, não terem sido alvos de Trump sua política pode trazer reflexos para o ambos. Os EUA é o segundo principal parceiro comercial do país atrás da China, mas contrário ao que se esperava de um candidato republicano, que traria maior benefício econômico para o Brasil, Trump pretende renegociar acordos comerciais afim de preservar os empregos em seu país e reduzir o déficit americano com os outros países. O republicano acredita que o Brasil leva vantagem em cima dos EUA através de práticas comerciais tidas por ele como injustas. Numa visão mais pessimistas, a professora de Relações Internacionais da ESPN Denilde Holzhacker afirma que as consequências seriam imediatas e negativas, e causariam o que muitos economistas estão chamando de “efeito Trump”. Apesar dessa previsão acredita-se que o Brasil não é um alvo dos EUA, contrário da China o país possui déficit com os americanos. Porém seu temperamento imprevisível pode tornar a perspectiva do Brasil de exportar mais e diminuir seu déficit com eles uma realidade mais distante.

Observadores com notável experiência na área econômica e diplomática como José Augusto de Castro (presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil – AEB), Luiz Felipe Seixas Corrêa (embaixador e ex-cônsul do Brasil e Nova York) e Marcos Troyjo (diretor do BRICLab da Universidade Columbia /EUA) acreditam que o Brasil não chama muito atenção de Trump e que por isso não haverá mudanças significativas.

Indiretamente os efeitos Trump no Brasil se dará pelo fato do Brasil ser mais dependente de decisões no exterior que no mercado interno. Se os EUA aumentar a taxa de produtos importados da China afetará suas importações de commodities e consequentemente as exportações brasileiras, principalmente na indústria de petróleo e de minério de ferro que são produtos que o Brasil vende para a China. Se os EUA adotar medidas tarifárias nos produtos chineses tornará a China mais agressiva, que terá que colocar mais produtos dela no Brasil e nos países da América Latina.

Acerca dos investimentos americanos no Brasil, Luiz Gonzaga Beluzzo (economista e professor aposentado da Unicamp) acredita que o Brasil não terá problemas com o investimento americano.

"O Brasil tem uma grande presença de empresas americanas, mas é uma presença para o mercado local. Cada vez menos participam de exportações.