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Uma Visão Histórico Cultural do Comportame Financeiro

Por:   •  14/7/2022  •  Ensaio  •  1.052 Palavras (5 Páginas)  •  86 Visualizações

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Uma visão histórico-cultural do comportamento financeiro

Luiz Alves da Silva Cruz Neto

Resumo: Este texto constitui-se como um ensaio teórico que tem como objetivo refletir sobre a possibilidade da utilização da abordagem histórico-cultural nos estudos sobre comportamentos financeiros. Discutimos a utilização da “vivência” como categoria de análise das Finanças Comportamentais.

INTRODUÇÃO

O comportamento humano não deve ser explicado somente por meio do processo mental interno do ser humano, mas também nas condições externas vividas pelas pessoas, principalmente, do contexto social vivido pelo sujeito (VAN DER VEER, 2007).  Do mesmo modo, o comportamento que o indivíduo desempenha com seu recurso financeiro deve ser levado em consideração o contexto social que o indivíduo vive e viveu. Esse contexto, a ser considerado, dever ser analisado além de uma perspectiva socioeconômico, deve ser visto os aspectos culturais no sentido de ideias, tradições e crenças sobre utilidade, distribuição e sentido dos recursos financeiros.

Assim, as finanças comportamentais que é a aplicação da psicologia às finanças, com foco nos vieses cognitivos a nível individual (HIRSHLEIFER, 2015), devem transcender esta visão unilateral do indivíduo para o entendimento do contexto e da socialização do sujeito. A Psicologia Histórico-Cultural, corrente do pensamento psicológico desenvolvida por autores russos como Vygotsky, Luria e Leontiev, pode fornecer categorias de análises que transponham os aspectos atuais das finanças comportamentais.

Hirshleifer (2015) já argumentava da necessidade de transcender as finanças comportamentais para as finanças sociais, que estudam a estrutura das interações sociais. O objetivo das finanças sociais é entender como as ideias financeiras se espalham e evoluem e como os processos sociais afetam os resultados financeiros. Deste modo, tomando como base a abordagem Histórico-Cultural e sua compreensão acerca dos fenômenos psicológicos, pode-se realizar uma disrupção do atual desenvolver das finanças comportamentais. Tal disrupção deve trazer resultados que vão além das fontes de julgamento e de vieses de decisão e de seus efeitos nos investimentos e no mercado, mas obter resultados que contribuam para construção de uma sociedade por meio da conscientização da distribuição e da utilização dos recursos financeiros.

A VIVÊNCIA COMO UNIDADE DE ANÁLISE DO COMPORTAMENTO FINANCEIRO

Dentre os autores da Psicologia Histórico-Cultural, o de maior projeção é Lev Vygotsky. Este autor entende que o psiquismo humano é necessariamente social e seus fatos são as funções psicológicas. O homem, então, não é naturalmente homem, mas se humaniza no contato com a cultura (LIMA; BENTO; BOMFIN, 2020). Vygotsky entende que a interação homem-ambiente não se dá de forma direta, mas mediada por instrumentos, por signos. Os sistemas de signos, assim como o sistema de instrumentos, são criados pelas sociedades ao longo do curso da história humana e mudam a forma social e o nível de seu desenvolvimento cultural (COLE; SCRIBNER, 1998). Vygotsky acreditava que a internalização dos sistemas de signos produzidos culturalmente provoca transformações comportamentais (COLE; SCRIBNER, 1998).

Desse modo, baseado neste conceito de mediação, da dialética meio e sujeito, Vygotsky emerge a categoria de análise a “vivência”, que vem do termo russo perejivânie.  Tal categoria é um conceito-coringa que baliza a relação do sujeito com o mundo, que está presente desde o nascimento do ser e se torna complexo com a estruturação das funções psicológicas superiores (consciência, personalidade, atividade e afetividade) (TOASSA; SOUZA, 2010). A vivência está atrelada aos sentidos e afetos (LIMA; BENTO; BOMFIN, 2020), aspectos que nos estudos de decisões financeiras carecem de teorias (HIRSHLEIFER, 2015).

As finanças comportamentais surgiram para contestar a crença da racionalidade, o qual se baseia na ideia de que a maioria, ou pelo menos os mais importantes, dos investidores são racionais no processamento de informações. Por outro lado, as finanças comportamentais estudam como as pessoas ficam aquém desse ideal em suas decisões e como os mercados são, até certo ponto, ineficientes (HIRSHLEIFER, 2015). Contudo, esse conhecimento de fronteira entre a psicologia, a economia e as finanças ficaram centrado nos vieses psicológico, estudando como fatores cognitivos (heurística) e fatores emocionais levam a desvios sistemáticos de lógica e a decisões irracionais (ACKERT; DEAVES, 2009).

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