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Resumo do livro - O Consenso de Washington

Por:   •  17/11/2017  •  Trabalho acadêmico  •  5.595 Palavras (23 Páginas)  •  427 Visualizações

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1) Introdução:

a) Do que se trata?

Em novembro de 1989, reuniram-se em Washington funcionários do governo norte-americano, do FMI, do Banco Mundial e do BID (organismos financeiros internacionais ali sediados). O objetivo era proceder a uma avaliação das reformas econômicas empreendidas nos países latino-americanos. Para relatar a experiência desses países, também estiveram presentes economistas da américa latina.

Nessa avaliação,registrou-se amplo consenso sobre a excelência das reformas realizadas ou iniciadas na região, exceção feita, até aquele momento ao Brasil e o Peru. Ratificou-se, então, a proposta neoliberal que o governo norte-americano vinha recomendando insistentemente como condição para conceder cooperação financeira externa bilateral ou multilateral.

b) O pano de fundo

A mensagem neoliberal que o consenso de Washington registraria vinha sendo vigorosamente transmitida desde o início da administração de Reagan nos Estados Unidos com fartos recursos financeiros e humanos por intermédio de agências internacionais e do governo daquele país. Acabaria absolvida por parcela substancial das elites políticas, empresariais e intelectuais dos países latino-americanos como sinônimo de modernidade.

Um exemplo desse processo de cooptação intelectual é o documento publicado pela Fiesp em 1990 sob o título: “Livre para crescer - Proposta para um Brasil moderno”. Neste documento, a Fiesp inclui algo que o Consenso de Washington não chega a explicitar ainda que claro em um documento do banco mundial de 1989 que recomendava que a inserção internacional de nossa pátria fosse realizada pela revalorização da cultura de exportação. O órgão máximo da indústria paulista endossa uma sugestão de volta no passado, de inversão do nosso processo nacional de industrialização.

Tudo se passaria, então, como se as classes dirigentes latino-americanas houvessem espontaneamente se dado conta de que a crise econômica que enfrentavam não tinha raízes externas e sim internas. Os latino-americanos passariam então a culpar suas políticas nacionalistas pela crise em que viviam. Dessa forma, eles acreditariam que a solução residiria em reformas liberais.

Além disso, a aceitação dessa proposta liberal contou com a contribuição e apoio de um grande número de cientistas políticos e economistas formados em universidades norte-americanas. Alguns deles, inclusive, seriam chamados a ocupar posições de comando nos países latino-americanos. Exemplos disso seriam: Salinas de Gortari no México e Domingos Cavallo na Argentina.

Outrossim, a ação promocional de fundações estrangeiras muito ativas no financiamento e a monopolização de debates acadêmicos auxiliaram a ressurreição das velhas idéias liberais. Haja vista que esses fatores exerceram forte influência na orientação de atividades extracurriculares das universidades da América Latina que, junto com o Estado, encontravam-se em dificuldades financeiras.

c) O fim da guerra fria e a restauração liberal

A disputa ideológica Leste-Oeste estereotipada inviabilizava a discussão racional e serena de alternativas importantes. A desintegração da União Soviética, somados a adesão do socialismo espanhol e francês ao discurso neoliberal, facilitaria a disseminação cancerígena das propostas do Consenso de Washington e a desmoralização do modelo de desenvolvimento inspirado pela Cepal que se havia montado na América Latina com a participação ativa do Estado como regulador.

Com a queda do Muro de Berlim, fez-se a leitura do significado do fim da guerra fria, contatando-se precipitadamente a emergência de nova ordem internacional à qual seria inevitável ajustar-se. Cria-se um clima de tal conformismo que até mesmo um intelectual como Vargas Llosa ousaria tomar a imensa liberdade de sugerir que Porto Rico, como estado associado dos Estados Unidos, passasse a constituir o modelo para a América Latina. Proposta vexaminosa que passou indene de forma a indicar o grau de anestesiamento da consciência nacional da região.

Os países latino-americanos comportam-se como derrotados. Ficam na defensiva, com complexo de culpa, como se eles tivessem, como a União Soviética, sido derrotados na guerra fria. Nota-se resignação, acomodo e ausência de vontade de se afirmar como verdadeiras nações.

d) Rumo à dependência

De um não-alinhamento automático, a deslumbrada reação da América Latina à Iniciativa Bush (de uma criação eventual de uma Área Hemisférica de Livre Comércio mediante acordos bilaterais) ilustra bem a nova postura externa das elites latino-americanas. Sem qualquer estudo prévio, essas elites anteciparam sua anuência a uma integração inevitavelmente desequilibrada para nossa economias. Estranhamente, numa total inversão da atitude assumida pelo século anterior, em 1890, os países da região haviam recusado a proposta norte-americana de formação de “União Aduaneira das Américas”.

A propaganda das idéias neoliberais foi tão bem feita que, além de sua identificação com a modernidade, permitiria incluir com toda sua naturalidade no Consenso de Washington, a ilusão de que as reformas realizadas na América Latina tinham o mérito na visão, iniciativa e coragem dos líderes dos países situados naquela região. Essa ilusão levava as pessoas a acreditarem que essas reformas partiam de decisões próprias, sem nem considerarem a existência de uma intervenção dos Estados Unidos e de órgãos internacionais.

e) Crise do Estado e da Nação?

Tamanha foi a eficácia da mensagem, e ao mesmo tempo tão desmoralizadora da auto-estima nacional latino-americana, que tornou-se possível a discussão pública, até mesmo em meios de comunicação, sem qualquer pudor, de soluções visivelmente comprometedoras da capacidade nacional de decisão. Nesse contexto que se passa a admitir abertamente a tese da falência do Estado, visto como incapaz de formular política macroeconômica, e à conveniência de transferir essa grave responsabilidade a organismos internacionais.

Neste momento, não se discute mais apenas, então, se o Estado podia ou devia ser empresário ou monopolizar atividades estratégicas. Passou-se, simplesmente, a admitir a premissa de que o Estado não teria mais condições de exercer o essencial atributo de soberania que é a efetuação de uma política monetária e fiscal. Pôs-se em dúvida, inclusive, se o Estado

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