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IXIGREC - Natureza, S. F. (do Latim Natura)

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Por:   •  1/6/2014  •  Tese  •  2.180 Palavras (9 Páginas)  •  207 Visualizações

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Esse termo pode ser entendido em sentidos muito diferentes, seja designando de modo geral tudo o que existe, seja indicando mais particularmente as qualidades e a essência própria de cada objeto examinado separadamente.

No primeiro caso, seria quase sinônimo de universo, mas num sentido mais restrito, mais humano, mais personalizado, mais ativo e materialista, abarcando múltiplas nuanças, seja como designação impessoal da evolução da substância em movimento, seja como compreensão de um princípio ativo agindo sobre essa mesma substância; finalmente, como concepção do estado do mundo, principalmente do mundo terrestre, fora da influência humana.

No segundo caso, menos sujeito a discussão, ele designa, sobretudo, os atributos particulares de cada coisa, o aspecto característico sob o qual ela impressiona nossa sensibilidade. Para os seres vivos, ele compreende tudo o que é inato, espontâneo, instintivo, anterior à educação.

Em seu esforço de compreensão, os homens tentaram, através de métodos racionais ou especulativos, classificar suas impressões, dar um sentido a tudo que os rodeava e a explicação animista deve ter sido uma das mais fáceis e mais primitivas a se apresentar para a inteligência humana. De acordo com essa concepção antropomórfica, tudo era dotado de vontade, de objetivo, de finalidade. A ambiguidade dos textos antigos não permite uma ideia muito precisa da concepção que seus autores tinham da natureza. A abundância e a multiplicidade dos atributos de suas inúmeras divindades não facilitam tal pesquisa. É difícil saber se, no espírito dos primeiros povos, a Natureza personificou-se abstratamente como princípio ativo de tudo que se move, sob a forma imprecisa de um princípio universal contido em toda substância, ou se ela era concebida como muitas vontades separadas, agindo em cada objeto.

O estudo dos povos primitivos não mostra a existência entre eles de especulações muito profundas, e suas concepções simplistas atribuem aos espíritos tais poderes que acabam suprimindo qualquer busca de causas menos voluntárias. Entre os povos cultivados, o espetáculo do mundo revelou-se rico de contradições e sua engenhosidade esforçou-se por conciliar o problema insolúvel do determinismo manifesto das coisas com o sentimento da liberdade individual.

Toda poesia antiga é marcada por esse dualismo, onde o homem se encontra perpetuamente em luta contra as forças simbolizadas da natureza. A filosofia grega aprofunda realmente essa questão, mas certa ética atrapalha essa pesquisa, que só se realiza com sucesso fora de qualquer intervenção das ideias de bem e mal. Nem o epicurismo, nem o estoicismo chegaram a abordar profundamente o problema. Tampouco a Idade Média, impregnada de peripatetismo, os filósofos do século XVII e XVIII ou os filósofos modernos deram passos decisivos na compreensão da evolução do universo. A causa desse insucesso é provavelmente resultante do fato de que o homem busca em sua explicação do universo algo de humano que se insinua involuntariamente ou inconscientemente em suas meditações. Foi assim que as ideias de harmonia, de ordem, de leis, de evolução, de regularidade, geradas pelas próprias condições nas quais vivem os humanos, mas que são apenas consequências de sua adaptação ao meio, acabaram sendo postuladas como uma realidade independente do homem, necessitando uma explicação evidentemente finalista.

Quando já de início se pensa que a natureza é harmoniosa, que a evolução universal é grandiosa e bem ordenada, a seguir pode parecer espantoso que isso não seja a obra de uma causa inteligente, pois apenas uma inteligência poderia conceber a ordem e realizar a harmonia dentro do caos.

Portanto, a solução do problema está em analisar no que consistem a ordem e a harmonia da natureza e em pesquisar se essas duas concepções não seriam um produto de nosso funcionamento. Notemos que a ideia de ordem subentende a de organização visando certo objetivo, uma finalidade, e seria preciso em primeiro perguntar se existe realmente ordem no universo. Ora, é aqui que a questão da relação entre a duração humana e a duração dos fenômenos permite-nos rejeitar o conceito da bela ordenação do cosmo. De fato, chamamos de ordem o arranjo, a coordenação das diversas partes de uma coisa visando um objetivo a ser realizado, e o espetáculo do mundo mostra-nos apenas destruição mútua, instabilidade, perpétuos recomeços. Nenhuma forma dura eternamente, tudo se dissolve sob a influência do movimento universal. A ordem, a harmonia são apenas aspectos momentâneos do mundo ambiente, que duram o suficiente para formar em nossa memória uma sucessão de imagens cujo conjunto não é imediatamente prejudicial a nossa conservação. Mas exatamente devido ao fato de que tudo se destrói, é evidente que aquilo que chamamos de harmonia é formado por um conjunto de minúsculas destruições ou mudanças imperceptíveis, em equilíbrio com nossa própria variação permanente. É esse equilíbrio, essa adaptação criadora de nossa duração que maravilha os finalistas. Eles não enxergam que a ordem natural é desordem que dura, e que o conceito da infinidade do tempo e espaço, criado por nossa duração humana, está em oposição com qualquer concepção de objetivo, de limite, de fim.

O mundo biológico, com suas atrocidades basta por si só para arruinar o conceito da harmonia universal e o da excelência da natureza. O sofrimento e a morte não servem para nada, pois tudo sofre e morre, e essa gigantesca hecatombe não possui qualquer sentido do ponto de vista dos eternos recomeços.

Portanto estamos confrontados com a inutilidade de todas essas coisas e é difícil admitir que ser ou não ser se equivalem exatamente quanto às consequências finais. Essa desastrosa constatação determinou que os partidários das causas finais acreditassem que o mundo possuía um objetivo desconhecido e que todas as contradições aparentes desse mundo devessem se conciliar harmoniosamente em vista dessa meta misteriosa. Tal conceito é irremediavelmente destruído pela impossibilidade de se cindir a eternidade em duas partes e de se destruir a eternidade que nos precedeu. Essa eternidade equivale, logicamente, àquela que nos sucederá, podendo-se dizer que o mundo atual, tal qual é, oferece-nos o espetáculo do que é realmente o universo, sem qualquer esperança de se supor que ele já foi ou será melhor. Ao contrário, devemos ter certeza que ele é aquele em que nossa existência, boa ou má, é a única

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