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Reino De Deus E Suas Parábolas

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Por:   •  23/4/2014  •  2.801 Palavras (12 Páginas)  •  288 Visualizações

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Introdução:

Estudar o conceito do Reino de Deus no Novo Testamento constitui-se um grande desafio para os teólogos há gerações. Existe uma tensão evidente nos textos neotestamentários entre o presente e o futuro quando se refere ao reino de Deus.

Em alguns casos, o leitor tem a convicção de que o reino se estabelece no “presente”, enquanto em outros o estabelecimento do reino num tempo “futuro” e indeterminado parece ser mais razoável.

Quem quer aventurar-se a compreender a ideia do Reino de Deus precisará primeiramente aprender a lidar com a noção de tempo do reino. É o que estou chamando aqui de “agora” e “ainda não”, ou seja, agora Deus pode ser o rei sobre aqueles que são obedientes à sua voz, mas ainda não o é sobre todo o mundo. C.H. Dodd diz que Deus é rei de seu povo Israel, e sua autoridade real é efetiva na medida em que Israel é obediente a vontade divina revelada na Torah1. Jesus, em Lucas 11.20 e Mateus 12.28, diz que “se expulso demônios pelo Espírito de Deus, é chegado a vós o reino de Deus”. O poder e autoridade sobre os demônios, no ministério de Jesus, era o sinal de que o reino de Deus, de uma certa forma especial, estava presente2. Joachim Jeremias lembra que à pergunta por que os seus discípulos não jejuam, Jesus responde: “Porventura podem os convidados das bodas jejuar enquanto está com eles o noivo?” (Mc 2.19; Mt 9.15 e Lc 5.34). As bodas são, na linguagem figurada do Oriente, imagem do tempo da salvação3. Neste sentido, o reino de Deus é um fato presente. Mas, num outro sentido, o reino ainda não chegou, é algo que ainda está por revelar-se. Todos os valores do reino ainda não estão implantados. Assim, o reino também é eschaton, é futuro e final. Miranda propõe que o reino deve ser considerado como a consumação ou a realização do plano ou propósito de Deus. Em vez de o reino vir no fim, deve-se dizer que o reino é o fim, ou que ele põe fim àquilo que não condiz com a vontade de Deus, como se fosse a manifestação final de Deus na qual ele transforma e renova sua obra de forma definitiva, levando-a à perfeição5. Neste sentido, o reino de Deus é uma esperança para o futuro, é profético e apocalíptico.

Além desse aspecto cronológico, de tempo, o reino também está exposto no Novo Testamento comunicando a ideia de bem e mal, ou seja, o reino é anunciado para o bem (salvação) quanto para o mal (opressão).6 O reino tem um caráter redentor como também condenatório. Traz salvação aos que se submeterem ao Rei, todavia traz juízo aos demais. Assim, o reino é de paz, mas também de horror, trará alívio para uns sem deixar de ser uma realidade trágica para outros. Jesus repetidamente levantou a voz para advertir, para abrir os olhos a um povo obcecado7.

Torna-se também fundamental, ao estudar o reino de Deus, observar o aspecto da antiguidade do tema. É preciso dar atenção ao fato de que o reino de Deus é a ideia básica do Antigo Testamento; com isso, Jesus não estava pregando algo novo, mas anunciando uma esperança que já tinha longa história em Israel. Se é verdade que não podemos entender o reino de Deus abstraindo-o de suas encarnações históricas concretas, também é verdade que não podemos compreender as esperanças do século I centralizadas em torno dele, sem compreendermos, ao mesmo tempo, sua história particular em Israel.8 O reino de Deus era objeto das profecias do Antigo Testamento e alimentava a esperança do povo de Iahweh. Assim, o reino não era novidade, mas uma realidade esperada pelas pessoas dos tempos de Jesus.

O Reino de Deus nos Evangelhos

O projeto histórico do Reino de Deus provou ser capaz de sobreviver até mesmo ao colapso da Guerra judaico-romana, inspirando a religião cristã e movendo a esperança daqueles primeiros seguidores de Cristo que viviam na Palestina do século I. O Reino de Deus, conforme revelado nos Evangelhos, concorda a erudição moderna, constituía o centro da mensagem de Jesus. O relato de Marcos demonstra que Jesus iniciou seu ministério falando do Reino: “Depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galiléia, pregando o evangelho de Deus, dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho” (Marcos 1.14-15). Na ótica de Mateus, o resumo do ministério de Jesus está em 4.23: “Percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo”.

Nos Evangelhos, a expressão “Reino de Deus” (basileia tou theou) aparece 51 vezes, sendo 4 em Mateus, 14 em Marcos, 31 em Lucas e 2 em João. Além dos Evangelhos a expressão também aparece em Atos e em algumas cartas de Paulo (Romanos, 1 Coríntios, Gálatas, Colossenses e 2 Tessalonicenses) totalizando 65 ocorrências no Novo Testamento. A expressão “Reino dos Céus” (basileia tôn ouranôn) aparece somente em Mateus em 32 ocorrências.9

A palavra basileia (Hebraico – malkuth) significa basicamente governo, domínio, poder real. O conceito espacial – ou seja, geográfico – é secundário. No Antigo Testamento e no judaísmo rabínico, o Reino de Deus possui uma dinâmica tal que não é possível restringi-lo ao eschaton, mas denota uma realidade também presente. Conforme G.E. Ladd Deus já é o Rei, mas ele também precisa tornar-se Rei10. Isso significa que, embora indiscutivelmente Deus seja Rei, ele ainda há de manifestar sua soberania real no mundo dos homens.

Já a expressão “Reino dos Céus” tem provocado algumas especulações. Em alguns círculos evangélicos têm-se adotado a postura que leva a uma diferenciação entre o Reino de Deus e o Reino dos Céus, sendo este último uma referência ao Reino teocrático terreno conforme prometido a Israel no Antigo Testamento. Visto que Israel rejeitou o domínio de Deus não aceitando seu Messias, Jesus introduziu uma nova mensagem, oferecendo descanso e serviço para todos os que cressem, começando assim uma nova família de fé que participará do Reino de Deus futuro.

Não creio ser essa diferenciação plausível. O “Reino dos Céus” é uma expressão semítica, na qual a expressão “céus” (ouranos) está sendo usada para substituir o nome divino – Deus. Em Lucas 15.18, no relato do chamado “filho pródigo”, temos um exemplo disso. Ali quando diz “Pai pequei contra o céu e diante de ti” está claro que “céu” substitui Deus. É contra Deus que o filho está dizendo ao pai que pecou. Para Ladd desde que a tradição dos Evangelhos mostra que Jesus não criticou de modo consistente a palavra “Deus”, isto é, o uso do nome divino – Deus,

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