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A Fome no Brasil

Por:   •  30/8/2021  •  Artigo  •  3.090 Palavras (13 Páginas)  •  159 Visualizações

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Fome volta ao Brasil e quase dois terços da população urbana sofrem de insegurança alimentar. Entrevista especial com Renata Motta

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Foto: Tomaz Silva | Agência Brasil

O estudo “Efeitos da pandemia na alimentação e na situação da segurança alimentar no Brasil” aponta que nas zonas rurais a situação é ainda mais grave, atingindo 75% da população

Há oito anos a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura – FAO (na sigla em inglês) declarou que o Brasil, pela primeira vez na série histórica, havia eliminado a fome. O índice leva em conta nações em que menos de 5% da população vivem em situação de insegurança alimentar grave. A pesquisa Efeitos da pandemia na alimentação e na situação da segurança alimentar no Brasil revela, no entanto, que a atual situação é, além de grave, inaceitável.

“Nosso principal resultado é que 59,9% dos domicílios entrevistados declararam estar em uma situação de insegurança alimentar. Esse percentual pode ser dividido em três grupos, sendo que 31,7% estão em insegurança alimentar leve, 12,7% moderada e 15% grave. Esta é a média nacional”, explica a pesquisadora e uma das autoras do estudo, Renata Motta, em entrevista por telefone ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU. “Sim, podemos falar que a fome voltou ao Brasil e, mais do que isso, essa fome tem consequências irreversíveis para a saúde”, assevera.

 A escala que classifica os diferentes níveis de restrição alimentar a que a população vulnerável está submetida é dividida em “leve” quando há uma preocupação ou incerteza de se ter alimentação no futuro, a insegurança alimentar “moderada” quando há redução de alimentos entre os adultos e a “grave” quando essa restrição atinge todos os membros do domicílio.

“Estamos vendo as consequências de escolhas sociais, da opção de eleger representantes no Congresso Nacional e no poder Executivo que não têm nenhuma agenda social e não estão comprometidos com nenhuma agenda de promoção da renda, de promoção do direito à alimentação”, critica a entrevistada. “A política mais urgente de que precisamos agora é o Auxílio Emergencial em valores adequados para suprir as necessidades das famílias”, propõe.

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Renata Motta (Foto: Arquivo pessoal)

Renata Motta é professora de sociologia no Instituto de Estudos Latino-americanos na Freie Universität Berlin e, atualmente, líder do Grupo de Pesquisa Alimento para Justiça: Poder, Política e Desigualdades Alimentares na Bioeconomia. Possui doutorado em sociologia pela Freie Universität Berlim. É graduada em Relações Internacionais pela PUC-MG, Mestre em Ciências Sociais pelo CEPPAC/UnB.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Como foi feito o estudo do qual a senhora participou, segundo o qual seis em cada dez casas brasileiras vivem em insegurança alimentar?

Renata Motta – O estudo é uma pesquisa representativa da opinião pública brasileira. Ela foi feita por meio de uma coleta entre os dias 21 de novembro e 19 de dezembro de 2020. A amostra foi delimitada com base nas estatísticas atuais do eleitorado, segundo o Tribunal Superior Eleitoral – TSE, usando cálculo de confiança e margem de erro de 2%. Foram analisadas respostas de duas mil pessoas, que foram coletadas por telefone em função das necessidades de distanciamento social na pandemia. Para esse trabalho, utilizamos um banco de dados que nos permite fazer uma seleção aleatória certificada. É interessante que esta amostra incluiu telefones fixos e móveis para refletir a realidade brasileira. Utilizamos uma plataforma que permite discagem automática e registra o gerenciamento do projeto.

O mais importante a se dizer é que se tratava de um questionário cuja aplicação média durava 29 minutos, com 73 perguntas que nossa equipe, junto com os parceiros, preparou. Havia vários blocos de questões: o primeiro incluía características sociodemográficas e econômicas; o segundo, os impactos da pandemia na alimentação; o terceiro, os efeitos da pandemia sobre trabalho e renda; o quarto, trabalhos domésticos e de cuidados no contexto da pandemia; o quinto, o número de infectados com Covid-19 no domicílio e na vizinhança; o sexto, sobre a participação social em ação de enfrentamento da Covid-19; e o sétimo, opinião política sobre a pandemia.

É importante ressaltar que esta amostra foi estratificada, buscando os perfis que mais interessavam à nossa análise. São eles: gênero, raça ou cor, idade, escolaridade, situação territorial (o que incluía analisar se era urbana ou rural, mas também as cinco regiões do país).

IHU On-Line – Qual o panorama sobre a situação de insegurança alimentar no país? Em quais regiões brasileiras o quadro é mais preocupante?

Renata Motta – Nosso principal resultado é que 59,9% dos domicílios entrevistados declararam estar em uma situação de insegurança alimentar. Esse percentual pode ser dividido em três grupos, sendo que 31,7% estão em insegurança alimentar leve, 12,7% moderada e 15% grave. Esta é a média nacional.

Outro fator relevante é que todos esses dados sofrerão variações segundo os marcadores de desigualdades que selecionamos. Nesse sentido, é importante explicar como se diferenciam os níveis de insegurança alimentar. Há um parâmetro chamado Escala Brasileira de Insegurança Alimentar – Ebia, que mensura a vivência e percepção de insegurança alimentar no nível familiar. Esta escala dimensiona não somente a dificuldade no acesso aos alimentos, mas as dimensões psicológicas e sociais.

Segurança alimentar é quando a família tem acesso permanente a alimentos em quantidade e qualidade suficientes sem comprometer as necessidades essenciais.

A insegurança alimentar leve é quando há uma preocupação ou incerteza quanto ao acesso a alimentos suficientes no futuro. Isso leva à qualidade inadequada dos alimentos, visando não comprometer a quantidade de alimentos, ou seja, a pessoa faz escolhas de modo que não falte alimento no final do mês. Pode ser que a pessoa compre alimentos mais baratos e deixe, por exemplo, de comer carne.

A insegurança alimentar moderada é quando há uma redução significativa de alimentos entre os adultos ou uma ruptura nos padrões de alimentação, cortando ou pulando refeições devido à falta de alimentos.

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