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ASIM É A VIDA

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Por:   •  19/3/2014  •  Resenha  •  1.710 Palavras (7 Páginas)  •  140 Visualizações

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Currículo, gênero e sexualidade —

refletindo sobre o "normal", o "diferente" e o "excêntrico"

Guacira Lopes Louro

Resumo:

Na contemporaneidade, "novas" identidades culturais obrigam a reconhecer que a cultura, longe de

ser homogênea e monolítica, é complexa, múltipla, desarmoniosa, descontínua. Um novo

movimento político e teórico se pôs em ação, nas últimas décadas, e nele as noções de centro, de

margem e de fronteira passaram a ser questionadas. O presente artigo assume essa perspectiva para

analisar a constituição de diferenças e identidades de gênero e sexuais e, mais especificamente, as

formas como esse processo vem se expressando no campo do currículo. Destaca as estratégias

públicas e privadas que são postas em ação, cotidianamente, para garantir a estabilidade da identidade

"normal" e de todas as formas culturais a ela associadas; bem como as estratégias que são mobilizadas

para marcar as identidades "diferentes" e, ainda, aquelas que buscam superar o medo e a atração

provocados pelas identidades "excêntricas".

Palavras-chave: identidades de gênero e identidades sexuais; normal, diferente e excêntrico.

Nós, educadoras e educadores, geralmente nos sentimos pouco à vontade quando somos

confrontados com as idéias de provisoriedade, precariedade, incerteza — tão recorrentes nos

discursos contemporâneos. Preferimos contar com referências seguras, direções claras, metas sólidas

e inequívocas. Apesar disso, hoje são poucos os que se atrevem a negar que a instabilidade e a

transitoriedade se transformaram em "marcas" do nosso tempo. Já não é mais possível desprezar tais

afirmações como se elas se constituíssem numa ladainha rezada por intelectuais pós-modernistas,

uma espécie de mantra que tem o poder de desmobilizar e que, por isso, deve ser exorcizada do

campo educacional. De formas muito concretas, temos sido lançados a situações absolutamente

imprevisíveis, algumas trágicas, outras fascinantes, quase todas inexplicáveis. Mais do que nunca nos

percebemos vulneráveis, sem qualquer preparo para enfrentar os choques e os desafios que aparecem

de toda parte.

Que fazer? A muitos talvez pareça mais prudente buscar no passado algumas certezas,

algum ponto de estabilidade capaz de dar um sentido mais permanente e universal à ação. O ritmo e

o caráter das transformações podem, contudo, converter esse recuo em imobilidade. Para outros —

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http://vsites.unb.br/ih/his/gefem/labrys1_2/guacira1.html 02/08/2010

e aqui pretendo me incluir — a opção é assumir os riscos e a precariedade, admitir os

paradoxos, as dúvidas, as contradições e, sem pretender lhes dar uma solução definitiva, ensaiar, em

vez disso, respostas provisórias, múltiplas, localizadas. Reconhecer, como querem os/as pósmodernistas,

que é possível questionar todas as certezas sem que isso signifique a paralisia do

pensamento, mas, ao contrário, se constitua em fonte de energia intelectual e política.

Este ambiente de transformações aceleradas e plurais, que hoje vivemos, parece ter se

intensificado desde a década de 1960, possibilitado por um conjunto de condições e levado a efeito

por uma série de grupos sociais tradicionalmente submetidos e silenciados. As vozes desses sujeitos

faziam-se ouvir a partir de posições desvalorizadas e ignoradas; elas ecoavam a partir das margens da

cultura e, com destemor, perturbavam o centro. Uma outra política passava a acontecer, uma

política que se fazia no plural, já que era — e é — protagonizada por vários grupos que se

reconhecem e se organizam, coletivamente, em torno de identidades culturais de gênero, de raça, de

sexualidade, de etnia. O centro, materializado pela cultura e pela existência do homem branco

ocidental, heterossexual e de classe média, passa a ser desafiado e contestado. Portanto, muito mais

do que um sujeito, o que passa a ser questionado é toda uma noção de cultura, ciência, arte, ética,

estética, educação que, associada a esta identidade, vem usufruindo, ao longo dos tempos, de um

modo praticamente inabalável, a posição privilegiada em torno da qual tudo mais gravita.

"Novas" identidades culturais obrigam a reconhecer que a cultura, longe de ser

homogênea e monolítica, é, de fato, complexa, múltipla, desarmoniosa, descontínua. Muitos

afirmam, com evidente desconforto, que essas novas identidades "ex-cêntricas" passaram não só a

ganhar importância nestes tempos pós-modernos, como, mais do que isso, passaram a se constituir

no novo centro das atenções. Não há como negar que um outro movimento político e teórico se

pôs em ação, e nele as noções de centro, de margem e de fronteira passaram a ser questionadas. É

preciso, no entanto, evitar o reducionismo teórico e político que apenas transforma

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