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ESTUDOS LITERÁRIOS I / GRACIELA MASSIRONI CARUS

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Por:   •  23/3/2014  •  Tese  •  1.401 Palavras (6 Páginas)  •  244 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

DEPARTAMENTO DE LÍNGUA E LITERATURA VERNÁCULAS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM LETRAS – PORTUGUÊS

ESTUDOS LITERÁRIOS I / GRACIELA MASSIRONI CARUS

Charles Baudelaire

O Flanêur

Este ensaio propõe um estudo sobre a figura do flâneur, importante criação do poeta francês Charles Pierre Baudelaire (1821-1867) durante o século XIX. É interessante, para melhor compreensão desse estudo, um breve conceito sobre o termo flâneur: substantivo masculino que designa um andarilho, ocioso e que vem do verbo francês flâneur, que significa “para passear.” Baudelaire conduz a uma reflexão acerca desse personagem, como um indivíduo que anda na cidade, a fim de experimentá-la, senti-la e assim de forma subjetiva transformá-la num cenário de paisagem urbana e consequentemente objeto literário. Assim o autor compartilha sua definição de flâneur:

“Para o perfeito flâneur, para o observador apaixonado, é um imenso júbilo fixar residência no numeroso, no ondulante, no movimento, no fugidio e no infinito. Estar fora de casa, e, contudo sentir-se em casa onde quer que se encontre; ver o mundo, estar no centro do mundo e permanecer oculto ao mundo, eis alguns dos pequenos prazeres desses espíritos independentes, apaixonados imparciais, que a linguagem não pode definir senão toscamente. O observador é um príncipe que frui por toda a parte o fato de estar incógnito”.

(BAUDELAIRE, 1996, p. 21)

Nesse contexto a cidade de Paris, em plena nascente da modernidade, desenvolve o capitalismo e o crescimento acelerado da metrópole, em virtude da Revolução Industrial. Assim diante de tantas mudanças na sociedade parisiense surgem através de Baudelaire, a poética da modernidade, em cujas obras ele advoga a necessidade de introduzir a cidade, a temática urbana e seus novos personagens, elementos fundamentais na poesia moderna. Então na poesia baudalariana encontramos o flâneur em meio à multidão vagando nas ruas de Paris, um sujeito que caminha pela cidade sem ser notado como se as ruas fossem sua própria casa, observando a intimidade exposta no meio das ruas, nas vitrines, nas galerias, nas fachadas dos prédios. Sua vida é a cidade, a agitação e aglomeração num espaço totalmente público sem privacidade.

Em sua obra “As Massas”, Baudelaire sobre o tema se manifesta como um observador tentando colher características dessa multidão, mas podemos vê-lo também como um flâneur, tentando decifrar o homem fragmentado, que se adapta as mudanças brutas, observando profundamente as pessoas que ali transitavam, suas manifestações e ao mesmo tempo seu silêncio.

Mas existem algumas características do flâneur que divergem de seu criador:

 O gosto pelo disfarce e pela máscara;

 O ódio do domicílio e

 A paixão pela viagem.

Como característica de Baudelaire podemos mencionar seu olhar voltado à miséria da cidade e o mostra-ser para o desconhecido.

Dessa forma ele vai descobrindo que multidão na Modernidade é sinônimo de solidão. Multidão e solidão nesse contexto são termos iguais e permutáveis para o poeta ativo e fecundo.

“Quem não sabe povoar sua solidão, também pouco sabe estar só em meio a uma massa atarefada” (BAUDELAIRE, Charles Pierre. “As Massas”).

Nesse ensaio podemos constatar que o precursor da modernidade consegue ver além, consegue ver beleza onde não há, vê a beleza da modernidade e a beleza do velho que permanece, enquanto o novo é transitório e se perde.

Baudelaire se apropria do espaço urbano da cidade de Paris, tornando-a um objeto da poesia lírica e assim exprime a experiência, a crise do mundo moderno e o choque com o capitalismo.

A figura do flâneur se mostra em diversas obras literárias, e o presente ensaio a partir desse momento, tentará descrever brevemente como isso ocorre em algumas delas.

No conto “O Homem da multidão” de Edgar Alan Poe, o narrador encontra-se em um café, em Londres, observando a multidão em trânsito. Ele observa e descreve suas fisionomias, tentando classificar as pessoas, como um flanêur.

O autor dessa obra compartilha a ideia que o flâneur é “o gênio do crime profundo” pois é aquele que consegue se diluir na multidão, ele não se deixa ler. Há certos segredos que não se deixam contar. Ele retoma este ponto como aquele que não tem fisionomia, que não se deixa ler pela fisionomia.

Na obra de João do Rio, “A alma encantadora das ruas” o autor também faz menção ao flâneur logo no início:

“Para compreender a psicologia da rua não basta gozar-lhe as delícias como se goza o calor do sol e o lirismo do luar. É preciso ter espírito vagabundo, cheio de curiosidades malsãs e os nervos com um perpétuo desejo incompreensível, é preciso ser aquele que chamamos flâneur e praticar o mais interessante dos esportes — a arte de flanar. É fatigante o exercício? (...) Flanar! Aí está um verbo universal sem entrada nos dicionários, que não pertence a nenhuma língua! Que significa flanar? Flanar é ser vagabundo e refletir, é ser basbaque e comentar, ter o vírus da observação ligado ao da vadiagem. (RIO, João,” A alma encantadora das ruas, p.2”).

É importante destacar que, apesar das transformações urbanas e da pluralidade social que emergiu na época, no Rio de Janeiro e Paris serem as mesmas, a figura do flâneur restringe seu ponto de vista sobre a cidade moderna e seus personagens. Baudelaire concentra o flanêur na subjetividade individual das pessoas e dos novos tipos que compõe a sociedade da cidade moderna e industrializada. Para João do Rio o foco do flâneur é a rua e assim defende a tese que: “...a rua é um fator da vida das cidades, a rua tem alma!” (RIO, João, “A alma encantadora das ruas, p.1”) A influencia da rua sobre a vida do homem é descrita sobre a ação do flâneur; as pequenas profissões, os tatuadores, o povo que faziam as tatuagens, os mercadores de livros, músicos, ambulantes e os diversos tipos que transitavam em meio à multidão. Também chama a atenção às citações dos nomes dessas ruas e a importância delas na literatura como fonte de inspiração de grandes artistas como: Vitor Hugo, Balzac, Emile Zola entre outros.

O próprio Baudelaire, com o poema “A uma passante” e Chico Buarque com a música “As vitrines” abusam do tema das ruas na cidade através do flâneur. Embevecidamente, ambos compartilham um momento contemplativo, admirando a transformação da mulher no meio da rua, não mais como um troféu mas uma beleza que enfeita a cidade.

“A uma passante”

A rua em derredor era um ruído incomum,

longa, magra, de luto e na dor majestosa,

Uma mulher passou e com a mão faustosa

Erguendo, balançando o festão e o debrum;

Nobre e ágil, tendo a perna assim de estátua exata.

Eu bebia perdido em minha crispação

No seu olhar, céu que germina o furacão,

A doçura que embala o frenesi que mata.

Um relâmpago e após a noite! — Aérea beldade,

E cujo olhar me fez renascer de repente,

Só te verei um dia e já na eternidade?

Bem longe, tarde, além, jamais provavelmente!

Não sabes aonde vou, eu não sei aonde vais,

Tu que eu teria amado — e o sabias demais!

“As Vitrines”

Eu te vejo sumir por aí

Te avisei que a cidade era um vão

Dá tua mão, olha prá mim

Não faz assim, não vá lá, não

Os letreiros a te colorir

Embaraçam a minha visão

Eu te vi suspirar de aflição

E sair da sessão frouxa de rir

Já te vejo brincando gostando de ser

Tua sombra se multiplicar

Nos teus olhos também posso ver

As vitrines te vendo passar

Na galeria, cada clarão

É como um dia depois de outro dia

Abrindo o salão

Passas em exposição

Passas sem ver teu vigia

Catando a poesia

que entornas no chão

O presente ensaio tentou mostrar a importância do “flâneur na literatura moderna, cujo principal propósito desse personagem era manifestar uma crítica à forma de inserção do capitalismo no período do século XIX. Esse capitalismo que trouxe o progresso aniquilou o ser humano tornando-o apenas mais um componente da indústria e não mais um homem, capaz de perceber o outro como pessoa e não como um adversário.

É muito interessante percebermos que a literatura serve como meio de comunicação do homem com sua história, seja no passado, presente ou futuro.

BIBLIOGAFIA:

Baudelaire, Charles, “Sobre a modernidade o pintor da vida moderna”— Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.]ISBN 85-219-01984.

BAUDELAIRE, Charles Pierre. “As Massas”. In: Petits poèms em prose; pequenos poemas em prosa. Trad. De Dorothée de Bruchard. Florianópolis, Ed. Da UFSC, Aliança Francesa, 1988. p. 59.

Textos trabalhados em aula:

"O Flâneur", de Walter Benjamin (o que foi publicado em "Charles Baudelaire: um lírico no auge do Capitalismo")

"O homem da multidão", do Edgar Allan Poe.

Joao_do_Rio_A_alma_encantadora_das_ruas.pdf

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