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FEEDBACK E DEFINIÇÃO EVIDENT OLHE A LÍNGUA

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Por:   •  24/9/2014  •  Tese  •  2.352 Palavras (10 Páginas)  •  230 Visualizações

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CONOTAÇÃO E DENOTAÇÃO

UM OLHAR PROVOCADOR SOBRE A LINGUAGEM

Provavelmente todos nós já tivemos alguns contatos com a obra de Monteiro Lobato. Emília, a boneca irreverente da obra de Monteiro Lobato, é uma boneca muito mais ligada à cultura brasileira do que a Barbie. E muito mais inteligente. Neste texto, ela brinca com o significado das palavras. Vamos pensar um pouco sobre essas brincadeiras? Em primeiro lugar, ela nos faz pensar sobre as palavras que nomeiam as coisas. Com isso ela nos faz recordar um assunto que já vínhamos tratando nas aulas anteriores: a relação entre as palavras e as coisas que elas representam , ou seja, as palavras são signos linguísticos.

“ – (...) Há por aqui uns animais que são malvadíssimos, umas verdadeiras pestes, como a tal cobra que tem veneno nos dentes e o tal tigre que é estúpido e crudelíssimo. Todos os homens têm tamanho ódio às cobras e aos tigres que não podem ver um só sem o destruir imediatamente. Mas se num verso um poeta compara uma mulher a uma cobra, dizendo, por exemplo, que ela tem movimentos de serpente (serpente é o mesmo que cobra), a “elogiada” rebola-se de gosto. E se um homem compara outro a um tigre, este outro sorri. Existiu na França um célebre Clemenceau que foi apelidado o Tigre. Pensa que ele puxou faca? Nada disso. Babava-se todo, quando o tratavam de tigre. Mas fosse alguém tratá-lo de cão ou vaca!... Ah, vinha tiro na certa...

O anjinho ouvia, ouvia e ficava a cismar. Realmente, era-lhe impossível entender as coisas da terra.

– Todo o mal vem da língua, afirmava a boneca. E para piorar a situação existem mil línguas diferentes, cada povo achando que a sua é a certa, a boa, a bonita. De modo que a mesma coisa se chama aqui dum jeito, lá na Inglaterra de outro, lá na Alemanha de outro, lá na França de outro. Uma trapalhada infernal, anjinho.

Quem ficava atrapalhado era o anjinho. Emília tinha um modo desnorteante de pensar. Assim, por exemplo, as suas célebres “asneirinhas”. Muitas vezes não eram asneiras – eram modos diferentes de encarar as coisas, como quando explicou ao anjinho o caso das frutas do pomar.

– Frutas são bolas que as árvores penduram nos ramos, para regalo dos passarinhos e das gentes. Dentro há caldos ou massas de todos os gostos. As maçãs usam massas. As laranjas usam caldo. E as pimentas usam um ardor que queima a língua da gente.

– Então têm fogo dentro? Fogo é que queima.

Emília ria-se.

– Ah, anjinho! Você vai custar a compreender os segredos da língua humana. Este “queima” é outro caso. Queimar é uma arte que só o fogo faz, mas quando uma coisa arde na língua nós dizemos que queima.

– Mas queima mesmo?

– Não queima, mas nós dizemos assim. Um ácido que pingamos na pele nós também dizemos que queima. Uma loja que está em liquidação nós dizemos que está “queimando” as suas mercadorias. No brinquedo do esconde-esconde, quando o que está de olhos vendados chega perto do escondido, nós dizemos que está “queimando”.

– Então... então... então, dizia o anjinho, a trapalhada deve ser medonha.

Emília ria-se, ria-se.

– Eu já estive no País da Gramática, onde todos os habitantes são palavras. E um dia hei de contar por miúdo como a Gramática lida com elas e consegue dar ordem ao pensamento.

– Dar ordem não é mandar uma pessoa fazer uma coisa?

– É e não é. Às vezes é, outras vezes não é. Dar ordem pode ser mandar fazer uma coisa e também pode ser botar cada coisa no seu lugar.

– E como a gente sabe quando é dum jeito ou de outro?

– Pelo sentido.

– E o que é sentido?

Emília desanimou. Nada ha mais difícil do que ensinar anjinhos.

– Escute cá, Flor. Quem entende bem disto de línguas e gramáticas é o Quindim. Tome umas aulas com ele.

– Que é aula?

Emília saiu correndo, senão ficava louca...

(LOBATO, Monteiro (1945). Memórias da Emília. São Paulo: Companhia Editora Nacional, p. 27 e 28)

MONTEIRO LOBATO (1882 – 1948) nasceu em Taubaté/SP. É considerado o criador da Literatura Infantil/Juvenil brasileira. Dedicou-se a inúmeras atividades : foi Promotor Público, fazendeiro, jornalista. Já era colaborador assíduo do jornal O Estado de S. Paulo , quando publica seu primeiro livro: Urupês. Funda a editora Monteiro Lobato & Cia. que imprime grandes novidades no mercado editorial e em 1920 Lobato se volta para a área menos atendida em nossa literatura, a infanto-juvenil. Publica A Menina do Nariz Arrebitado. Sua obra infantil contraria a seriedade adulta e introduz o humor , substitui a visão do adulto moralista pela ótica irreverente da criança. Cria novas palavras para provocar o riso, e muitas vezes imita o falar inventivo das crianças.

Em vários trechos do texto de Monteiro Lobato a personagenm Emília utilizou “palavras para explicar palavras”. Esta função da linguagem nós a chamamos de metalinguagem. Falamos de metalinguagem quando o locutor se utiliza da linguagem para destacar o código. É o caso dos dicionários que se utilizam de palavras para explicar o significado das próprias palavras. Os signos linguísticos representam realidades, mas não são a própria realidade. Temos uma relação com a realidade ao nosso redor e outra com os signos verbais que a representam. Para desenvolvermos um olhar criativo que nos permita escrever bem, temos de tomar cuidado com essas duas relações, ou seja, temos de cultivar um olhar diferenciado em relação à realidade ao nosso redor e um outro olhar, também diferenciado, em relação à língua que representa essa realidade.

DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO

Agora, observemos um outro fenômeno da linguagem. O emprego das palavras no seu sentido literal, isto é, nomeando as coisas, referindo-se à realidade em si. E nesse caso, ocorre a linguagem denotativa. A palavra pimenta, na fala da Emília, no texto de Monteiro Lobato, está no sentido literal. É a fruta. O mesmo ocorre na frase o gato está dormindo perto do fogão, a palavra gato também está sendo usada denotativamente. Mas as palavras, no seu uso cotidiano, podem ganhar outros significados além do literal,

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