A Ilha das flores

O que dizer da primorosa obra do conceituado e célebre cineasta Jorge Furtado, Ilha das Flores?

O nome do lugar, altamente sugestivo, fala por si: Ilha das Flores...

Tal nome reporta o imaginário a uma bela e deslumbrante paisagem florida, onde se aspira o mais puro ar e o olfato se deleita por tragar da brisa mansa o aroma perfumado que inunda a alma de leveza e paz. Imagina-se o ar puro, oriundo da verdejante floresta, por onde paira um deslumbrante colorido da natureza, peculiaridade quase que única daquele paradisíaco e privilegiado pedaço da terra, cercada por todos os lados de água límpida que ondeia e afaga mansamente suas margens serenas e calmas.

Pressupõe-se, portanto, que todas as pessoas que ali habitam transbordam felicidade.

Não obstante o garboso nome, como que por mera ironia, a realidade de Ilha das Flores é bem outra, diametralmente avessa ao que se imagina mediante o que o nome exprime.

O filme traduz, com cristalina nitidez, a cruel e inimaginável realidade social de um determinado lugarajo, onde pessoas vivem em condições meramente subumanas, aviltadas e reduzidas a uma situação de inferioridade em relação a porcos e a outros animais, de quem aproveitam as sobras dos alimentos.

A aludida obra não apenas pontua o caso isolado de Ilha das Flores, como chama, de modo bastante contundente, a atenção para a drástica realidade brasileira, no sentido macro da caótica e paradoxal desigualdade social em que estamos inseridos. Onde alguns desfrutam e gozam de condição extremamente privilegiada, em detrimento de muitos que sucumbem na extremidade da pobreza, privados do básico e submersos num mundo sem porvir. Expõe à mostra a avassaladora desigualdade em que muitos vivem, subjugados à condição de animais. Por fim, exibe e traz à tela a ilustração de o quanto alguns vivem e luxam como poucos, enquanto outros apenas sobrevivem e padecem como porcos.