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Arquitetura Brutalista

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Por:   •  6/3/2015  •  6.075 Palavras (25 Páginas)  •  354 Visualizações

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Preservação da arquitetura brutalista

Os brutos também querem ser amados

Cecília Rodrigues dos Santos

“L'architecture, c'est, avec des matières bruts, établir des rapports émouvantes” (1)

A recente tentativa de definição de brutalismo como um “movimento de arquitetura que o público ama odiar, e os arquitetos ousam amar” (2), só veio confirmar a suspeita de que nada que se possa dizer sobre a arquitetura brutalista representa uma tarefa simples, muito menos discutir critérios para sua preservação. Brutalismo seria um conceito? Uma tendência de cunho ético ou estético, retomando Reyner Banham (3)? Um estilo? Um estilo ou uma causa, retomando Anatole Kopp (4)?

Ao aprofundar a discussão sobre a arquitetura brutalista, Ruth Verde Zein chama a atenção para a surpreendente ausência de definições mais sistemáticas do brutalismo, apesar da facilidade com que o termo vem sendo empregado. Acrescenta ainda que a arquitetura do brutalismo dos anos 1950-1980 não recebeu até o momento a devida atenção nem tratamento e reconhecimento mais sistemático por parte da critica:

“(...) pode-se simplesmente afirmar, com base nos fatos, que determinadas obras serão brutalistas, apenas e suficientemente porque parecem ser; e que o que determina sua aproximação e inserção na tendência não é sua essência, mas sua aparência, não é seu íntimo, mas sua superfície, não são suas características intrínsecas, mas suas manifestações extrínsecas.”(5)

Ainda segundo a autora, o brutalismo chegou quase a ser execrado “vincado por um desamor ativado tanto por leigos como pela revisão crítica da arquitetura moderna dos anos 1980, que lhe devotou um profundo desprezo” (6); mesmo fora do círculo erudito, o brutalismo nunca chegou a ser uma tendência arquitetônica das mais populares. Situação que pode ficar mais critica quando se trata da arquitetura paulista brutalista:

“(...) se existem em razoável quantidade, análises descritivas das características da ‘arquitetura paulista’, ao se procurar traçar as possíveis influências que recebeu, aceitou e transformou, dentro do amplo marco das realizações da arquitetura contemporânea enquanto fato de cultura encontra-se um panorama muito menos sistematizado. As referências são esparsas, fugidias, feitas quase à revelia dos protagonistas.” (7)

João Batista Vilanova Artigas, Residência Martirani, São Paulo, 1964

Foto Luis Espallargas Gimenez

Preservação da arquitetura brutalista: feios, sujos e malvados

Isolado de seu contexto histórico original, o termo brutalismo mais do que caracterizar a arquitetura moderna de um determinado período, passa a estigmatizar esta arquitetura, sendo empregado, indiscriminadamente, quando se deseja designar qualquer edifício moderno em concreto aparente, principalmente aqueles que desagradam ao público em geral. Um grupo de arquitetos de Boston chegou mesmo a propor que se rebatizasse a arquitetura brutalista como arquitetura heroica. Considerando a rápida substituição dos atributos positivos associados a essa arquitetura por outros negativos – autenticidade, honestidade, verdade e força, foram substituídos por hostilidade, frieza, opressão, desumanidade – e a dificuldade de contornar a conotação pejorativa que adquiriu o termo brutalismo, Michael Kubo, Mark Pasnik, e Chris Grimley propõem uma revisão da historiografia e uma campanha de conscientização para a preservação desta arquitetura, que se iniciou em 2009 com a exposição HEROIC: BOSTON CONCRETE 1957-1976 (8), e teve continuidade na recente publicação BRUTALISM / CLOG (9). Os autores explicam porque decidiram chamar a arquitetura brutalista de arquitetura heroica:

“Heróico refere-se ao mesmo tempo aos atributos formais dos edifícios – poderosos, singulares, icônicos – e às atitudes dos arquitetos e das instituições que os criaram. [...] Heróico carrega tanto as conotações positivas como as negativas, ressaltando a ambição, mas também a arrogância que marcaram a produção arquitetônica da época. Ao contrário de Bruto, termo quase impossível de ser dissociado de conotações negativas, Heróico reconhece a complexidade desses edifícios, as intenções que lhes deram origem e sua atual situação controversa.” (10)

De qualquer forma, existe um consenso sobre o fato de que o termo brutalismo deriva do discurso de Le Corbusier em defesa do béton brut de decoffrage que ele utiliza em larga escala no projeto e na construção da Unidade de Habitação de Marselha, ampliando a discussão conceitual para nomear a arquitetura que, a partir da década de 1950 e por mais ou menos 30 anos, se caracteriza pela franca e honesta exposição dos materiais brutos, sem tratamento ou revestimento, especialmente o concreto, tanto nos interiores e como nos exteriores; exibição e valorização da estrutura bem como de elementos pré-moldados como brises soleil, calhas e gárgulas; plasticidade dos volumes e dos elementos estruturais; além de certa “castidade moral”, da busca de certos “padrões rigorosos de conduta”, da observação de um certo “espírito revolucionário” que procura o verdadeiro sentido da relação entre arquitetura e sociedade (11). Se, para Le Corbusier, desde a década de 1920 e principalmente a partir de meados da década de 1940, fazer arquitetura é “estabelecer relações de emoção a partir de materiais brutos“ (12), a partir da conclusão da Unidade de Habitação de Marselha e das primeiras obras que escancaram o uso em grande escala do beton brut de decofrage depois de 1952, durante o processo de apropriação dos princípios arquitônicos ali enenciados, a componente “emoção” da equação original passa a ser deixada de lado, ao mesmo tempo em que é reforçada a economia representada por um processo de construção que viabiliza a rapidez, a economia e a larga escala, e a compreensão de brutcomo sinônimo de grosseiro e feio, na sua missão pela justa verdade, construtiva e politica ideológica.

A partir desta caracterização geral, tem-se tentando aprofundar a difícil discussão sobre os valores que poderiam estar na origem da preservação e da proteção da arquitetura moderna brutalista, procurando impregnar a positiva verdade do concreto rude e das grandes estruturas, com adereços tão imateriais quanto nobreza, dignidade ou autenticidade. Nesse contexto destaca-se o importante papel dos debates provocados pelas ameaças de demolição, ou de reforma e transfiguração, de algumas das obras mais emblemáticas

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