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Clínica FILOSOFIA Zvone podrostkov de posições Sniatyn SEMEYNOGO

Seminário: Clínica FILOSOFIA Zvone podrostkov de posições Sniatyn SEMEYNOGO. Pesquise 860.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  13/11/2013  •  Seminário  •  7.362 Palavras (30 Páginas)  •  181 Visualizações

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A FILOSOFIA CLÍNICA NO ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE AFASTAMENTO FAMILIAR.

Quando um adulto, ciente de seus problemas procura ajuda terapêutica, ele sabe por que o faz e no momento em que pedimos que narre sua historicidade, ele o fará, mesmo que por algum motivo o faça de forma confusa ou deixando grandes lacunas entre as idades que cita. Mas aplicar a metodologia clínico filosófica seguindo as etapas: colheita categorial, com divisões e enraizamentos, exames categorias, EP autogenia e finalmente aplicação de submodos, em adultos é possível, ainda que em alguns casos surjam dificuldades.

Mas com crianças, seguir a essa sequencia pode não ser possível, logo vem a pergunta: como fazer da Filosofia Clínica uma forma de tratar crianças? Essa foi a pergunta que me fiz quando resolvi aceitar o convite para trabalhar em uma instituição que abriga crianças e adolescentes afastados de suas famílias por decisão judicial . Durante os doze meses em que lá trabalhei, pude aprender sobre como usar a Filosofia clínica. Durante esses doze meses tive a oportunidade de atender 16 crianças entre 3 e 14 anos de idade e como qualquer pessoa que se encontra em um drama existencial e precisa ser ajudado, essas crianças precisavam, ser acolhidas, respeitadas, ouvidas e assim, entendi que por meio da Filosofia Clínica elas poderiam ser ajudadas..

Na instituição havia uma sala própria para esses atendimentos com muitos livros, brinquedos, jogos, o que ajudava bastante, pois esses recursos lúdicos nos ajudam quando, por exemplo, a pessoa não consegue se expressar bem verbalmente, não consegue narrar os fatos de sua vida de forma organizada e no caso das crianças esses recursos oferecem ajuda para que elas se expressem de forma mais fácil, seja desenhando, cantando, dançando, movendo peças de um jogo onde para ela exista alguma relação entre o que está fazendo e dados de sua vida. Além do que, ao usarmos esses recursos temos a oportunidade de amenizar uma impressão de formalismo de um tratamento terapêutico, que a criança pode significar como algo que ela deve que fazer porque representa um problema para outras pessoas. Em meu entendimento é necessário que a criança entenda que um tratamento terapêutico é apenas uma das muitas formas que ela possui de aprender a lidar com tudo que compõe o seu universo e que muitas vezes ela não consegue entender.

Antes que eu atendesse as crianças, eu conversava com a assistente social da instituição para que ela me passasse algumas referencias como idade, data de nascimento, lugar onde nasceu a criança, os motivos que levaram a criança a ser afastada da família, como a criança vivia e se comportava, ou seja uma pequena historicidade a partir da narrativa de uma pessoa que acompanhou o processo de chegada da criança. Muitas das crianças tinham irmãos, na verdade era o mais comum, entre três e quatro irmãos viviam na mesma instituição. Algumas já se encontravam a disposição para serem adotadas, porém muitos fatores impediam o processo porque dificilmente uma família adotaria quatro irmãos, por exemplo, e quanto mais a criança avançava em idade, mais difícil se tornava, principalmente na visão delas mesmas, a possibilidade de serem adotadas.

A PRIMEIRA IMPRESSÃO

A impressão que tive nos primeiros atendimentos, a partir da narrativa da assistente social e do contato com as crianças me levou a entender que eu precisava inicialmente trazer conforto existencial aquelas crianças e logo, até que estabelecêssemos uma interseção positiva eu não perguntaria nada em relação a sua história de vida, os motivos pelos quais estariam ali, ou seja, perguntas que lhes trouxesse lembranças tristes que naquele momento, não ajudariam a estabelecer entre nós uma relação de confiança. E me parece ter dado muito certo porque não me coloquei ali como uma terapeuta, alguém que estava ali porque aquelas crianças tinham problemas e representavam problemas e coisas assim. A primeira impressão que a criança tem de nós também é muito importante, por isso muitos cuidados devem ser tomados, pois a nossa função antes de qualquer coisa é trazer o conforto para aquele que nos procura, mesmo no caso das crianças que nos são levadas por seus responsáveis.

Muitas dessas crianças chegavam, nos primeiros atendimentos, até a sala de atendimento, sujas, de pés descalços e muitas delas demoraram varias seções para se comunicarem verbalmente. Elas já tinham preconceitos formados sobre atendimentos com outros profissionais que na verdade, pelo próprio relato delas, as forçavam a falar sobre coisas que não queriam e as direcionavam de forma a adequa-las a vida naquela instituição. Esse foi o primeiro obstáculo que eu tive que vencer, de formas às vezes diferentes por serem pessoas diferentes. Como fiz isso? De várias formas, mas isso ficará claro nos relatos.

Eu quis passar uma imagem de confiança e arrisquei, nada de roupas brancas, nem nada muito formal, usei uma blusa da Minnie, com orelhinha e tudo, saia e crocs( sapato inspirado nos personagens da Disney)da Minnie e cada criança teve uma reação diferente, todas positivas, as meninas acharam fashion e os meninos, engraçado, mas como eu disse, a primeira impressão é muito importante.

RELATOS DE CASOS

Gostaria de relatar dois dos casos de forma resumida e ressaltar que todos os nomes usados são fictícios para preservar a integridade das crianças.

CASO 1

Henrique tinha onze anos de idade, no ano de 2010, já estava na instituição há três anos com seus outros três irmãos e nesse período tentou fugir quatro vezes. Todos os quatros estavam disponíveis para adoção, sem nenhuma chance de reabilitação familiar uma vez que a mãe se encontrava presa por ter matado o pai.

Na primeira seção eu mal pude ouvir o que ele dizia, falava muito baixo, mantinha os olhos para baixo, esfregava as mãos, estava descalço e antes de cinco minutos que estávamos juntos me perguntou: você é a doutora que veio tratar da gente? E eu o respondo da seguinte forma: você acha que sou? E ele me respondeu que sim apenas com o aceno da cabeça e eu lhe disse: acho que você precisa olhar pra mim, dá uma boa olhada e me diz o que você acha, e ele olhou e de repente sorriu, disfarçando, escondendo o rosto e depois de eu perguntar por que ria ele falou bem baixinho: você é a primeira doutora que eu vejo que usa roupa de criança e crocs da Minnie. E aos poucos ele foi erguendo o rosto, aumentando a voz de forma que eu poderia entender melhor o que dizia.

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