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Por:   •  24/8/2014  •  1.776 Palavras (8 Páginas)  •  265 Visualizações

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O aumento no número de cesarianas no Brasil, já chegam a 52% do total de nascimentos, e os benefícios do parto normal em casa ou no hospital nem sempre são conhecidos. Um documentário intitulado "O renascimento do parto", de Érica de Paula e Eduardo Chauvet, cuja estreia no país ocorre a partir desta sexta-feira (9).

O filme alterna depoimentos de mães, parteiras, médicos obstetras, especialistas e cenas de partos e paisagens, ao som de uma trilha bastante emotiva. Entre os especialistas entrevistados, estão a antropóloga americana e ativista do parto natural Robbie Davis-Floyd, a epidemiologista e professora da Universidade de Brasília (UnB) Daphne Rattner e a enfermeira obstetra Heloisa Lessa.

A ideia do documentário, segundo os diretores, é destacar a importância do parto normal – que, como defendem, poderia ser feito em até 90% dos casos, contra 10% gestações de maior risco – e do trabalho de parto, que "avisa" o bebê sobre seu tempo de maturidade e libera um coquetel de hormônios – como oxitocina ("do amor"), prolactina, endorfina e adrenalina – para ajudar mãe e filho nesse processo.

Além disso, o filme aponta os motivos diversos que teriam levado a um excesso de indicações de cesarianas, a não necessidade de tantas intervenções no bebê logo após o nascimento, a frequente falta de contato imediato dos filhos com as mães, nos dois tipos de partos, e o aumento de crianças prematuras ou com complicações que demandam uma UTI neonatal depois de uma cesárea, ligadas ao fato de que a criança ainda não estava "pronta" para nascer.

De acordo com Érica de Paula, que fez a pesquisa e o roteiro do documentário, ele não mostra o "outro lado", das vantagens da cesariana, porque "a visão contrária é o que a gente vê 24 horas por dia, sete dias por semana. Os 90 minutos que tínhamos para fazer o filme foram usados justamente para mostrar esse outro lado".

Cesáreas 'limitadas' a 15%

Segundo a obstetriz (profissional da saúde que atua em partos) Ana Cristina Duarte, que participou do documentário, "o que se calcula é que não mais do que 15% das mulheres têm problemas de saúde ou da dinâmica do parto que necessite algum tipo de intervenção". O problema, de acordo com os especialistas, é que os casos complicados são muito marcantes.

Essa também é a porcentagem recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o limite máximo ideal de cesarianas em cada país. Mas em hospitais privados do Brasil, por exemplo, o número de cirurgias desse tipo chega a 90%, principalmente nas regiões Sul e Sudeste – o que vem sendo chamado por especialistas de "epidemia oculta" entre as classes sociais mais altas.

"Não é possível que quase 100% das mulheres tenham defeitos, problemas, e não possam ter bebês de forma natural. Nossos corpos não foram feitos para isso?", destaca Ana Cristina.

A obstetra Fernanda Macedo, outra entrevistada de "O renascimento do parto", acrescenta: "A cesariana é uma cirurgia maravilhosa que salva vidas todos os dias, mas ela não é para ser feita em todas as pacientes, de uma maneira desnecessária, fora do trabalho de parto. Quando mal indicada, põe o bebê em três vezes mais risco que o normal. (...) Hoje em dia, o parto no Brasil passou a ser um ato cirúrgico, em vez de um evento fisiológico".

"O paciente tem todo aquele ranço cultural de achar que o parto cesáreo é mais controlado, menos arriscado, que não tem risco nenhum, que o bebê dele vai ser salvo. (...) O médico, por sua vez, apesar de ter aprendido que o parto normal é seguro, que é bom para mãe e para o bebê, acaba acreditando um pouco nessa falsa verdade de que o parto cesáreo é mais seguro", diz Fernanda.

Para o obstetra Paulo Nicolau, que não participou do filme, mas compareceu à pré-estreia em São Paulo na segunda-feira (5), muitas pacientes acham "chique" fazer cesariana e logo pedem para o médico.

"O segundo problema é que a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) não regula essa situação, e o médico recebe cerca de R$ 200, R$ 300 por parto. O terceiro ponto é que, se der algum problema na criança – como paralisia –, e o caso for para a Justiça, a primeira coisa que o juiz vai perguntar é por que o médico não fez uma cesariana", enumera Nicolau. Segundo ele, os médicos atualmente estão desaprendendo a fazer parto normal, e a maioria já não sabe.

No filme, a obstetra Melania Amorim afirma que, "quando se entrevistam mulheres no pós-parto, elas muitas vezes acreditam que houve uma indicação real de cesariana. (Mas) Quando se entrevistam os médicos, eles vão atribuir a culpa da cesariana a uma decisão da mulher".

'Motivos' para o parto não ser vaginal

De acordo com a obstetriz Ana Cristina Duarte, quase tudo hoje em dia se tornou motivo para uma indicação de cesárea, muitas vezes sem necessidade.

"São dezenas de motivos: pressão alta, cordão umbilical enrolado no pescoço, falta de dilatação, bebê grande ou pequeno demais, mãe velha (acima de 30 ou 35 anos) ou jovem demais, gorda ou magra demais, sedentária, diabética. Também dizem que o parto normal dói demais, que a mulher pode ficar larga", diz Ana Cristina.

Segundo o obstetra Ricardo Chaves, muitas cesáreas são feitas por conveniência médica – já que são agendadas com antecedência e duram de 15 a 20 minutos, o que permite ao profissional voltar para o consultório, em vez de passar até 12 horas acompanhando um trabalho de parto.

"A gente tem muito mais internações em UTIs nas vésperas de grandes feriados, (...) porque evidentemente (os médicos) querem passar o feriado sem o susto de terem que sair de casa para atender um parto, mas isso faz parte da nossa escolha", diz Chaves.

A obstetra Fernanda Macedo complementa: "O valor que o plano paga não compensa você desmarcar um consultório inteiro. Você ganha mais numa tarde em consultório do que num parto. O plano de saúde, os hospitais não têm interesse na gestante de parto normal".

'Cabeça moderna atrapalha'

Na opinião da antropóloga e parteira mexicana Naoli Vinaver, que também fala no filme, "a cabeça da mulher moderna atrapalha muito", pois muitas são inseguras e se acham incapazes de dar à luz sozinhas.

Segundo a obstetriz Ana Cristina Duarte, a maioria das mães

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