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Cultura Popular

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Por:   •  3/1/2015  •  3.811 Palavras (16 Páginas)  •  366 Visualizações

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1. INTRODUÇÃO

Cultura é uma construção humana e se opõe à natureza, aquilo que não passa pelo trabalho do homem. Para não deixar o conceito tão amplo, algumas divisões são criadas, entre elas as de popular e erudita. Fala-se em cultura popular e cultura erudita como se houvesse um rio que separasse claramente as duas margens. Este rio não existe, mas a divisão tem alguma utilidade operacional. A cultura popular seria aquela que é produto de um saber não institucionalizado, que não se aprende em colégios ou academias; exemplo disso é o crochê, ou a culinária tradicional, ou ainda a literatura de cordel. A cultura erudita, por outro lado, pressupõe uma elaboração maior e por isso uma institucionalização do saber. Isto é: o domínio da cultura erudita passa não pela tradição familiar, mas por academias, bibliotecas, conservatórios musicais, etc., que selecionam o material e impõem regras rígidas e complexas elaborações.

No âmbito da cultura erudita, participada, sobretudo pelas elites, as relações entre Estado e Cultura talvez sejam mais condescendentes. Abrangem a manutenção de teatros, museus, bibliotecas, ministérios, secretarias e outras instituições ou atividades e enfrentam geralmente carências de verbas e de pessoal qualificado.

No campo da cultura popular, participada majoritariamente pelos grupos dominados, há o risco e a tendência predominante ao populismo e ao clientelismo, que não estão ausentes nas outras esferas. Atualmente o interesse do Estado no campo das culturas populares relaciona-se, crescentemente com o potencial e a demanda turística.

Na medida do possível pretendemos discutir aqui relações entre cultura popular, folclore e cultura erudita; destacando no passado o maior prestígio da cultura erudita e perseguições contra religiões e festas populares; o despertar do interesse pela cultura popular e a ação pioneira de Mário de Andrade e o dever de proteção da cultura popular na atualidade.

2. CULTURA POPULAR, FOLCLORE E CULTURA ERUDITA.

Para muitos, folclore equivale à cultura popular. Para outros, cultura popular equivale à cultura de massas e seria diferente do folclore. Cultura popular e folclore são conceitos considerados mais ou menos como sinônimos e que provocam mal estar em muitos ambientes. São considerados confusos, complexos e mal definidos, pois possuem múltiplos significados. Para os mais jovens, folclore é sinônimo de coisa velha e ultrapassada e, muitos cientistas sociais consideram tanto os termos cultura quanto povo, de difícil definição. É pertinente lembrar, como mostram Mata e Mata (2006, p. 11), o preconceito contra este campo de estudos, pois em nosso país, historiadores e cientistas sociais “durante décadas, negaram-se a reconhecer a importância do trabalho dos folcloristas”. A cultura erudita é valorizada como produção e consumo da elite social enquanto o folclore e a cultura popular refletem interesses, valores e ideologia das classes dominadas, como destacou Antônio Gramsci (1978), que a opõe folclore à cultura oficial ou dominante.

A expressão cultura popular pode ser entendida como uma forma mais moderna de designar o folclore. A palavra folclore encontra-se desgastada e tem conotações pejorativas. A expressão cultura popular, como vimos é também discutível.

Alguns como Canclini (1983), propõem a expressão culturas do povo. O conceito de cultura popular, criticado, por numerosos cientistas sociais, vem sendo hoje largamente utilizado no âmbito da História.

François Isambert (1982) discute o renascimento do interesse pelo estudo da religião, da cultura popular e das festas, como conceitos interrelacionados e com múltiplas utilizações. Como diz Renato Ortiz (1992, p. 61), a noção de cultura popular é relativamente recente, tendo surgido na Europa com o movimento romântico de inícios do século XIX, justamente quando aumentou a separação entre cultura de elite e cultura popular. Hoje se constata a diversidade da cultura popular, que não constitui um todo homogêneo, como pensavam intelectuais românticos, que inventaram este conceito, no dizer de Peter Burke (1989).

Satriani (1986), comentando Gramsci mostra que no estudo da cultura de qualquer sociedade é indispensável levar em consideração as distinções de classe. Considera o folclore como cultura das classes subalternas e diz que seu estudo constitui uma das formas de documentar os valores e a ideologia destas classes.

Inspirados em Canclini (1983, p. 30), estamos interessados em analisar a cultura popular como “prática simultaneamente econômica e simbólica”, como produção da classe subalterna, como elemento de reflexão sobre a realidade e a identidade social.

Canclini (1997, p. 220) defende a idéia que “o popular não é monopólio dos setores populares”. De acordo com suas idéias e como muitos constataram que hoje não se pode mais procurar uma idade de ouro da cultura popular. Também não podemos proceder como Malinowski que mostrava os Argonautas do Pacífico quase que independente das transformações que sofriam. Da mesma forma referindo-se principalmente ao artesanato e a festas no contexto Latino Americano, CANCLINI (1997, p. 220-221), mostra que: A evolução das festas tradicionais, da produção e venda de artesanato revela que essas não são mais tarefas exclusivas dos grupos étnicos, nem sequer de setores camponeses mais amplos, nem mesmo da oligarquia agrária; intervêm também em sua organização os ministérios de cultura e de comércio, as fundações privadas, as empresas de bebidas, as rádios e a televisão. Os fenômenos culturais folk ou tradicionais são hoje o produto multideterminado de agentes populares e hegemônicos, rurais e urbanos, locais, nacionais e transnacionais. Por extensão, é possível pensar que o popular é constituído por processos híbridos e complexos, usando como signos de identificação elementos procedentes de diversas classes e nações. Ao mesmo tempo, podemos tornar-nos mais receptivos frente aos ingredientes das chamadas culturas populares que são reprodução do hegemônico, ou que se tornam autodestrutivos para os setores populares, ou contrários a seus interesses: a corrupção, as atitudes resignadas ou ambivalentes em relação aos grupos hegemônicos. Para Gramsci existe cultura popular na medida em que existe cultura dominante. Nesta perspectiva, segundo alguns, a cultura popular assumiria em face da cultura dominante uma posição diversa contestadora de sua autoproclamada universalidade. A este respeito parece enriquecedora a hipótese de Bakhtin, destacada por Ginzburg (1987), de que existe uma 3 influência recíproca ou uma circularidade entre

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