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Por:   •  2/12/2014  •  1.506 Palavras (7 Páginas)  •  198 Visualizações

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C a p í t u l o 21

O Dr. Paulo Mello não era apenas um cientista de renome internacional, mas também um eloqüente conferencista. Não tinha medo de colocar

suas idéias. Durante sua exposição, comentou sobre as bases biológicas dos transtornos mentais. Disse que a deficiência de neurotransmissores, e especial a serotonina, era a causa fundamental da depressão e de outras

doenças psíquicas. Abordou que os neurotransmissores eram como carteiros do cérebro que transmitem as mensagens nas sinapses nervosas, ou seja, no espaço de comunicação entre os neurônios ou células cerebrais. A sua deficiência gerava falta de comunicação na rede de neurônios, diminuindo as respostas emocionais e causando crises depressivas. O papel dos antidepressivos, disse ele, era preservar esses carteiros em doses aceitáveis no metabolismo cerebral.

Incomodado, Marco Polo fez um gesto com as duas mãos, querendo expressar: "Paciência! Acalmem-se, a conferência ainda não terminou." Melh

or que tivesse terminado.

Marco Polo nunca tinha assistido a uma conferência do Dr. Paulo, apenas conhecia sua fama. Sabia que muitos neurocientistas tinham uma visão estritamente biológica e química da psique. Também sabia que a portentosa indústria farmacêutica dos psicotrópicos era condescendente com esta visão, utilizava-se dela e ajudava a disseminá-la na imprensa leiga mundial: jornais, revistas e TV.

Vários jornalistas, desconhecendo os fundamentos da ciência,noticiavam com segurança que o déficit de serotonina e outros neurotransmissores eram causadores de doenças psíquicas, e que este déficit precisava ser corrigido através dos medicamentos. Não sabiam que essas informações eram apenas suposições e não verdades científicas irrefutáveis. Sem perceber, divulgavam a séria e restrita tese de que a psique era química e, sem ter consciência, contribuíam para os ganhos elevadíssimos da indústria farmacêutica.

Marco Polo sentiu que tinha sido o maior ingênuo do mundo ao convidar os estudantes de psicologia para esse evento. Eles poderiam sentir-se frágeis para iniciar sua profissão. Seqüelas inconscientes poderiam ocorrer. Visivelmente preocupado, pediu mais uma vez com gestos que eles não saíssem.

o renomado conferencista deu o golpe fatal na psicologia. Ele não sabia que

havia uma platéia de formandos nesta área, pensara que seu público fosse constituído de médicos, em especial de psiquiatras. Precisamos de medicamentos Os alunos quedaram paralisados, incrédulos diante do que ouviram. Eles, bem como a maioria dos presentes, não sabiam que por trás desse cenário estava em pauta muito mais do que a opinião de um cientista num congresso de psiquiatria. A palestra do Dr. Paulo era o reflexo do perigoso caminho que a ciência moderna estava trilhando.

Nos bastidores da ciência estava em jogo uma disputa intelectual seriíssima sobre a natureza do Homo sapiens. Muitos dos atores que participavam desse jogo, incluindo cientistas e profissionais, por saberem cada vez mais do cada vez menos, ou seja, por serem especialistas em suas áreas, não tinham consciência do próprio jogo e muito menos das suas conseqüências para a humanidade. Marco Polo há alguns anos pensava e se preocupava muitíssimo com essas conseqüências.

O que estava em questão era se a psique humana seria ou não meramente um computador biológico, um aparelho químico. Se pensar, produziridéias, sentir medo, amar, odiar, sonhar, ousar, recuar eram ou não apenas frutos do metabolismo cerebral. Se o ser humano possuía ou não um espírito, um mundo psicológico que ultrapassava os limites da lógica e das reações bioquímicas. Estava em jogo o eterno debate sobre quem somos e o que somos. Estava em pauta a última fronteira da ciência.

Além disso, se a mente humana fosse meramente um complexo computador biológico, ela poderia ser alimentada pelos computadores eletrônicos. Os professores desapareceriam, seriam substituídos por sofisticados programas mais baratos, e não reclamariam. A Internet se tornaria uma babá eletrônica, como já estava ocorrendo nos tempos de Marco Polo. Ele pressentia que a juventude estava entristecendo-se mundialmente. Em sua época, os jovens já haviam perdido a capacidade de contestar as loucuras dos adultos, como no período da contracultura. Não criticavam mais o veneno do capitalismo selvagem, ao contrário, brigavam para bebê-lo em doses cada vez maiores. Exploravam seus pais. Eram ávidos consumidores, vítimas de uma insatisfação crônica e insaciável.

As religiões também desapareceriam caso prevalecesse a idéia de que a alma humana é apenas uma fantástica máquina biológica, pois o vazio existencial, as inquietações do espírito, a procura pelo Criador e pela transcendência da morte seriam meros desarranjos bioquímicos. Uma vez corrigidos esses desarranjos, os conflitos existenciais se dissipariam, pondo um fim na religiosidade humana.

Ao analisar todos esses fatores, Marco Polo pressentia que o mundo científico estava dentro de um imenso Coliseu. Embora houvesse diversas interconexões entre as partes, de um lado se encontravam as neurociências, da qual participava a medicina biológica, a farmacologia, a neurologia, uma parte da psiquiatria clássica e as ciências da computação. Elas discursavam sobre neurotransmissores, sistema límbico, amígdalas, corpo caloso, lobo frontal, enfim estruturas anatômicas e metabólicas cerebrais como a grandiosa

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