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O LITERÁRIO, O TEÓRICO E O PEDAGÓGICO: UM DIÁLOGO POSSÍVEL NA FORMAÇÃO DO SUJEITO LEITOR

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Por:   •  15/11/2013  •  5.876 Palavras (24 Páginas)  •  396 Visualizações

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O LITERÁRIO, O TEÓRICO E O PEDAGÓGICO: UM DIÁLOGO POSSÍVEL NA FORMAÇÃO DO SUJEITO LEITOR

Valmira Lucio da Silva

Resumo

O presente artigo tem como objetivo refletir sobre os sentidos da leitura e sua implicação na formação de leitores numa escola pública de periferia através da articulação entre literatura, teoria e prática pedagógica. Os procedimentos metodológicos tiveram como base a sistematização de dados encontrados no desenvolvimento do Projeto de Pesquisa “Formação de Comunidades Leitoras na Periferia: a articulação da dimensão pedagógica e política no acesso a leitura” (UERJ/FAPERJ); e o estudo das obras Capitães da Areia (2001), de Jorge Amado e A Importância do Ato de Ler (1995), de Paulo Freire. O projeto de pesquisa, que teve como objeto de estudo o processo de leiturização na Escola Municipal Barro Branco, localizada no Município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, foi iniciado em 2011, tendo como objetivo analisar as maneiras que práticas de leitura desenvolvidas junto às famílias, pertencentes à classe popular, podem repercutir no desenvolvimento dos hábitos de leitura e na ampliação do repertório dos alunos das escolas públicas. De acordo com a abordagem sócio-histórica, fundamentada nas ideias de Bakhtin e Bourdieu, a leitura é uma arena onde estão presentes disputas de sentidos em seus aspectos: teórico, estético, político, ético e ideológico. As obras do escritor Jorge Amado e do educador Paulo Freire, apesar de tratarem de períodos históricos diferentes, e se enquadrarem em gêneros textuais distintos, abordam contradições sociais presentes nas sociedades capitalista atuais. Vinculadas à pesquisa desenvolvida, estas obras levantam questões concretas da vida, que possibilitaram articular literatura, teoria e prática pedagógica no que concerne a formação de leitores nas camadas populares. Com a obra amadiana, temos uma abordagem ficcional da realidade retratando as contradições sociais capaz de promover um maior posicionamento crítico, sendo, ela própria, a prova da importância da leitura na conscientização e formação/modificação de opiniões. Ainda podemos destacar a dramaticidade e o lirismo de seus personagens, a linguagem do autor que, mesmo de forma simples sem erudição, é carregada de poesia fazendo da literatura uma ponte entre o ensino/aprendizagem da leitura no espaço escolar e a realidade da dinâmica social. O pensamento de Freire nos incentiva a resgatar a leitura do mundo que precede o registro da palavra, como elemento fundamental para que a apropriação do conhecimento de fato ocorra e ao mesmo tempo, como instrumento de luta política para superar os obstáculos e garantir às classes populares a leitura e a escrita como práticas libertadoras. A partir dessas reflexões, destacamos as possibilidades e desafios de uma escola necessariamente pública, possibilitar o acesso, a construção e a reconstrução de culturas, de conhecimento, de práticas de diálogos que deem voz, resgatem sonhos, iluminem histórias e produzam um leitor sujeito de seu discurso tendo como suporte textual Jorge Amado e Paulo Freire.

Palavras-chave: leitura; formação; sociais; práticas pedagógicas.

INTRODUÇÃO

[...] Sim Senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam [...] Prosterno-me diante delas [...] Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as [...] Amo tanto as palavras [...] As inesperadas [...] As que avidamente a gente espera, espreita até que de repente caem [...] Vocábulos amados [...] Tudo está na palavra [...] Uma idéia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar ou porque outra se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a esperava e que a obedeceu [...]. (NERUDA, 1978, p.51)

Na contemporaneidade, a leitura, dentro e fora do espaço escolar, tem se apresentado como alvo de pesquisa, de produções acadêmicas, assim como de políticas públicas. Estas incursões têm sustentado reflexões sobre o uso, a função e a importância das práticas leitoras das diversas linguagens e nos diferentes campos de comunicação tanto como fonte de prazer, conhecimento, desenvolvimento cognitivo e construção de sentidos para a realidade, logo, tanto como meio de aperfeiçoamento humano, quanto como instrumento básico de participação, efetiva, na vida econômica, cultural e política da sociedade.

A partir dessas constatações verificamos que essas incursões no universo da leitura, materializaram uma gama incontável de discursos, em suas diferentes formas, que buscaram significar e ressignificar a leitura. Notamos também que, essa busca de significação e ressignificação para a leitura vêm se constituindo em uma arena onde estão presentes disputas de sentidos relacionados aos aspectos: teórico, estético, político, ético e ideológico e uma tensão e, ao mesmo tempo, luta política para superar os obstáculos e garantir às classes populares a leitura e a escrita como práticas libertadoras (FREIRE, 1995).

Alem disso, as questões referentes à leitura que as incursões levantam e buscam elucidar, trazem contribuições para os atores do meio acadêmico, em especial os que transitam no espaço educacional, pois, as temáticas abordadas contribuem para responder aos muitos questionamentos que perseguem os pesquisadores e sinalizam questões paradoxais e embates históricos travados na prática e na formação de leitores e que estão presentes no espaço escolar.

Neste artigo, nosso objetivo é refletir sobre os sentidos da leitura e sua implicação na formação de leitores numa escola pública de periferia no contexto do Projeto de Pesquisa: “A formação de comunidades leitoras na periferia: a articulação da dimensão pedagógica e política no acesso a leitura” (doravante Projeto de Pesquisa), no qual desenvolvemos atividades como pesquisadoras de Iniciação Científica, e das obras de Jorge Amado (Capitães da Areia) e de Paulo Freire (A Importância do Ato de Ler), cujo estudo possibilitou articular dialeticamente teoria e prática com o fito de promover um diálogo intertextual entre ficção e realidade; ciência e cultura; pesquisa e criatividade.

Dessa maneira, o objeto de estudo deste trabalho, os sentidos da leitura e a formação de leitores na periferia, compreende campos singulares. Ele se reporta a um lugar – a periferia urbana, a um grupo – a classe popular e a uma prática sociocultural – a leitura. Envolvendo uma relação

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