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Oliveira Najmam

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Por:   •  25/3/2014  •  4.893 Palavras (20 Páginas)  •  221 Visualizações

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OS PRIMEIROS PASSOS DO SAMBA COM A INDÚSTRIA FONOGRÁFICA: DA CASA EDISON À DIVERSIFICAÇÃO DAS GRAVADORAS

THE FIRST STEPS OF SAMBA WITH THE PHONOGRAPHIC INDUSTRY: FROM CASA EDISON TO THE DIVERSIFICATION OF RECORD

Gabriel Valladares GIESTA •

Resumo: O presente artigo parte de um estudo de caso sobre o samba e as gravadoras nas primeiras décadas do século XX no Rio de Janeiro, tendo como objetivo refletir sobre o conceito de indústria cultural. Neste caso, tem como foco a relação entre indústria cultural e cultura popular, principalmente no que tange à indústria fonográfica. Sendo assim, busca-se trabalhar uma construção teórica e conceitual no fazer historiográfico a partir do diálogo com o objeto de pesquisa em questão, neste caso, os sambas gravados no Rio de Janeiro das décadas de 1910, 1920 e 1930. Palavras-chave: Indústria fonográfica – Indústria cultural – Samba – Cultura popular.

Abstract: This article presents a case study on Samba and record labels in the first decades of the Twentieth Century at Rio de Janeiro, aiming to discuss the concept of culture industry. In this case, this article focuses on the relation between the culture industry and popular culture, mainly concerning the phonographic industry. Thus, it seeks out to work on a theoretical and conceptual construction in the historiographical craft dialoguing with the research object in question, in this case, the samba songs recorded at Rio de Janeiro in the 1910s, 1920s and 1930s. Keywords: Phonographic industry – Culture industry – Samba – Popular culture.

Parte da historiografia tradicional sobre a Primeira República tem resumido o

período como um momento de “embranquecimento” do Brasil, quando as manifestações

culturais com identidades associadas a matrizes e referências afro-brasileiras teriam sido

perseguidas e deletadas pelas autoridades. No entanto, pesquisas atuais demonstram que

as políticas e posturas que perseguiram estas manifestações não foram totalmente

hegemônicas, mesmo atuando em uma relação de poder desigual. Da mesma forma,

também não foram capazes de impedir que músicas e expressões culturais com marcas

afro-brasileiras circulassem na sociedade carioca de então, sendo afirmadas, defendidas

• Mestre em História – Doutorando – Programa de Pós-graduação em História Comparada – Instituto de Filosofia e Ciências Sociais – UFRJ – Universidade Federal Fluminense, Largo de São Francisco 1, CEP: 20051-070, Rio de Janeiro, RJ - Brasil. Professor de História – Secretaria de Estado de Educação – RJ e Secretaria Municipal de Educação e Cultura – Prefeitura de Itaboraí. E-mail: gabrielgiesta@msn.com .

Página | 36 Revista História e Cultura, Franca-SP, v.2, n.2, p.35-54, 2013. ISSN: 2238-6270.

e transformando-se, em diálogo com diferentes culturas e grupos da época (GOMES e

ABREU, 2009).

A nascente indústria fonográfica do país - representada principalmente pela Casa

Edison, nos primeiros anos da República, e por outras gravadoras, com o passar do

tempo - foi um importante meio pelo qual músicos populares puderam negociar e

encontrar espaço de difusão para suas canções, dentre elas o samba, com todas as

características das expressões culturais citadas acima. Diversas foram as músicas

registradas e veiculadas por esta indústria fonográfica, muitas delas tratando de temas

relativos a afro-religiosidades, culturas e identidades negras.

A presença do samba (e da música popular em geral) nas gravadoras surge,

então, como espaço privilegiado para analisarmos os conflitos em torno da cultura

popular. Aqui, parte-se do princípio conceitual de Hall sobre Hegemonia Cultural.

Segundo o autor, esta “nunca é uma questão de vitória ou dominação pura (...); sempre

tem a ver com a mudança no equilíbrio de poder nas relações da cultura; trata-se sempre

de mudar as disposições e configurações do poder cultural e não se retirar dele” (HALL,

2006, p. 320). Assim sendo, a indústria fonográfica configurou-se enquanto veículo de

expressão da música popular, no qual identidades culturais estiveram em disputa,

estando o samba inserido nestes conflitos em torno da cultura.

Em primeiro lugar, é importante ressaltar o fato de que, ao se tratar de indústria

fonográfica, não se está lidando com a simples reprodução das canções assim como elas

eram produzidas pelos músicos populares em momentos de espontaneidade. Ou seja, as

gravadoras foram (e são) um meio de reprodução e divulgação das canções, em que as

músicas passam por um processo de seleção, negociação e adaptação para então serem

comercializadas. Muitos indivíduos inseridos no contexto histórico aqui trabalhado já

apontavam para esta questão. Repórteres do próprio Jornal do Brasil, em matéria sobre

o carnaval carioca, datada de 4 de fevereiro de 1932, demonstram suas percepções em

relação à diferença entre a música gravada e a realizada na prática social: “O público

que conhece a música do ‘malandro’ pelo disco ainda não calculou talvez o sabor que

tem a melodia na boca do próprio ‘malandro’. O efeito é muito maior e a sugestão é

muito intensa.” (apud CABRAL, 2011, p. 72).

Um ano depois, o jornalista Francisco

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