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Os Evangélicos no Período Militar no Brasil (1964-1985)

Por:   •  4/11/2019  •  Monografia  •  5.722 Palavras (23 Páginas)  •  188 Visualizações

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Os Evangélicos no Período Militar no Brasil (1964-1985)

André Ulisses da Silva Peres

Alessandra Silveira Borghetti Soares

Resumo

Durante o período militar no Brasil (1964-1985), a população teve optar por acolher e apoiar ou se opor ao governo dos militares. Mesmo a indiferença ante ao cenário político era um posicionamento. As igrejas evangélicas, de maneira institucional, também fizeram sua opção. E seus posicionamentos foram decisivos para a manutenção do regime. A população evangélica, era menos numerosa que hoje, mas já bastante influente nas questões nacionais. Seu apoio decisivo, ajudou a conter os ânimos mais exaltados e em momentos pontuais teve importante participação na identificação e silenciamento de eventuais opositores do governo dentro das fileiras evangélicas. Este artigo visa tratar da relação oficial e institucional, mesmo que de forma velada dos quatro maiores grupos evangélicos do Brasil naquele período: As Igrejas presbiteriana, Assembleia de Deus, Batista e Metodista.

Palavras Chaves: Período Militar. Igrejas Evangélicas. História do Brasil

  1. INTRODUÇÃO

Ultimamente, o papel do voto evangélico tem sido decisivo nos resultados eleitorais no Brasil e o público evangélico tem sido atraído das mais diversas maneiras por todas as campanhas eleitorais dado o grande percentual de cristãos evangélicos no Brasil, bem como sua influência dentro do cenário político nacional.

Há muito tempo essa influência existe e faz diferença no contexto político nacional. Durante o período militar não foi diferente. As igrejas evangélicas se posicionaram ante a ascensão dos militares ao poder com a deposição de João Goulart. Em geral, se alinharam àqueles que chegaram ao poder.

Movidos por diferentes interesses, as igrejas formaram uma base de apoio aos governos militares, que ajudaram a controlar os discursos e ações de opositores, e até identificar e denunciar às autoridades aqueles que tinham algum tipo de participação o envolvimento com a oposição ao governo.

Esse artigo pretende traçar as linhas gerais de como isso se deu nas Igrejas mais influentes do período: Presbiteriana, Assembleia de Deus, Batista e Metodista. Através de uma pesquisa bibliográfica, foram levantados dados que mostram que já desde antes do período militar já existe uma participação efetiva das igrejas evangélicas no processo político brasileiro, mas que por razões diversas, sobretudo ligadas ao pragmatismo, houve um alinhamento dos evangélicos ao governo instaurado em 1964.

Este tema, mostra-se relevante dada a influência crescente dos evangélicos na política nacional, a influência da bancada evangélica no governo nacional e soma-se ao processo de levantamento de dados que visam esclarecer cada vez mais o que ocorreu no Brasil durante o período militar em todas as esferas da sociedade, trazendo luz sobre o posicionamento efetivo de uma parte importante e numerosa da população brasileira, que teve no silêncio e nas falas papel importante durante os anos de governos militares no Brasil.

  1. A posição da Igreja Presbiteriana

Desde antes da chegada dos militares ao poder, os presbiterianos tinham uma preocupação com os rumos da política nacional. Desde 1903, os presbiterianos se envolveram numa celeuma acerca da influência dos missionários estrangeiros na denominação. Desse episódio, surgiram dois grupos identificados com os presbiterianos, mas com gestões distintas: a Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), ligada aos missionários americanos e tolerante com a maçonaria e de outro lado a Igreja Presbiteriana Independente (IPI), mais nacionalista e anti-maçonaria.

O posicionamento nacionalista da IPI naquele primeiro momento tinha mais a ver com questões internas da igreja, mas se desdobrou em uma justificativa para muitas das ações dos presbiterianos inclusive durante o período militar. A IPI contava com um jornal chamado ‘O Estandarte’. As publicações desse jornal são fonte importante para verificar como se posicionava politicamente a IPI.

Quando João Goulart assumiu a presidência em 1961, queria promover no Brasil as reformas de base. Uma dessas reformas estava relacionada a questão agrária. A questão da luta pela terra, estava ganhando forma. Um dos líderes de maior destaque no Nordeste na causa da Reforma Agrária era Francisco Julião. Muitos pastores protestantes aderiram à causa de Julião como ele mesmo afirma em depoimento:

Às vezes, a gente tomava um caminhão, e vinham os pastores protestantes, com outros protestantes. Eu, no meio deles, e eles, cantando os seus hinos. Lá, eles pregavam a Sagrada Escritura, em geral o Velho Testamento, que é muito bom para isso. Para o problema camponês, os profetas são melhores do que os apóstolos, estão muito mais ligados à terra, são mais radicais, mais consequentes na luta pela terra. Então, eles pregavam essas coisas, e eu falava de outras. Muitos presidentes de ligas foram realmente pastores protestantes: em Jaboatão, em Sapé, em vários outros lugares. Não bebiam, não fumavam, tinham somente uma família, impunham grande respeito, e isso os tornavam, naturalmente, líderes, com esse sentido de honestidade em conduzir o movimento. E se radicalizavam.[1]

Nessa atmosfera de engajamento político na luta pela terra, o Setor de responsabilidade social da Igreja (SRSI) da Conferência Evangélica Brasileira (CEB) realizou em junho de 1962 em Recife a 4ª reunião de estudos. Essa reunião ficou conhecida como Conferência do Nordeste. O tema da conferência era ‘Cristo e o processo revolucionário brasileiro’, tanto nas plenárias como na assistência a presença de presbiterianos era de quase 50% dos participantes. Além de pastores e teólogos, a conferência deu espaço para a fala de intelectuais como Celso Furtado, Gilberto Freyre e Paul Singer.

Como consequência da conferência, os posicionamentos políticos foram se desenhando e uma verdadeira disputa ocorreu entre os presbiterianos para definir qual seria o real papel e posição da igreja ante a questão agrária. A ala conservadora ganhou força e fez com que sua posição fosse assumida pelo SRSI e aqueles cujo discurso destoava da posição oficial começaram a ser perseguidos e pressionados em disputas internas da igreja antes mesmo de abril de 1964.

O engajamento social deixa de fazer parte das publicações presbiterianas e não se vê mais referências à Conferência do Nordeste. O Conselho Mundial de Igrejas, de linhas ecumênica passa a ser atacado e muitos nomes proeminentes dentro da estrutura denominacional são deixados de lado das grandes discussões. A pretexto de uma isenção quanto a esses assuntos, dizia-se oficialmente que a solução dos problemas do Brasil não estaria nem à esquerda, nem à direita. Tal solução seria Cristo.

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