Resenha do Curta eu daniel blake

[pic 1]

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA BAHIA – UNEB

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS / CAMPUS I - SALVADOR

CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

CAIO SILVA BENGARD

EU, DANIEL BLAKE

Salvador

2017

CAIO SILVA BENGARD

EU, DANIEL BLAKE

Resenha crítica apresentada para a disciplina Direito e Sociedade, no curso de Direito, Universidade Estadual da Bahia - UNEB

Prof. Carlos Freitas

Salvador

2017

RESENHA CRÍTICA

EU, Daniel Blake. Direção: Ken Loach, Produção: Rebecca O'Brien. Bélgica, França, Reino Unido: BBC Films, 2016, 1 DVD.

Daniel Blake é um carpinteiro muito competente, mas que aos 59 anos, durante mais um dia de labuta, foi acometido por um ataque cardíaco e passou a depender do sistema de seguridade social inglês. Viúvo e morador de Newcastle – cidade ao Norte da Inglaterra, Daniel, maravilhosamente interpretado por Dave Johns, um comediante inglês em sua primeira incursão no cinema, é o retrato perfeito do processo de descidadanização, que aparentemente, também é um mal circundante de alguns países do primeiro mundo, porquanto confunde assistência com penitência.

Nesta crítica política dirigida pelo cineasta Ken Loach, justamente ganhadora da Palma de Ouro em 2016, é demonstrada a via crucis do carpinteiro idoso, na tentativa de se manter com a ajuda do governo após uma vida inteira de trabalho digno. O filme se inicia numa entrevista, conduzida por uma “profissional da saúde”, nomeada pelo Departamento de Trabalho e Pensões inglês, para fazer as avaliações e concessão do seguro invalidez, demonstrando claramente o excesso de burocracia no processo.  Em um plano secundário, outra via crucis também é focalizada. Desta vez a de Katie Morgan – interpretada por Hayley Squires – mãe solteira de dois filhos (teve o primeiro com 18 anos), vinda de Londres para uma casa providenciada pelo governo em Newcastle, a aproximadamente 400 km de distância de qualquer apoio familiar.

As vidas de Daniel e Katie se cruzam numa repartição pública, onde Daniel se sensibiliza com a forma injusta que a jovem é tratada na presença de seus dois filhos, somente por ter chegado atrasada para a audiência. Apesar de se tratarem de extremos: ele, um idoso viúvo, sem filhos, com a saúde fragilizada e que não trabalha porque não pode; ela uma jovem mãe solteira em plena saúde e que não consegue arrumar um emprego, ambos descobrem que têm mais em comum do que inicialmente possa parecer; são dependentes de um sistema que é questionado pelo próprio Daniel em certo momento do longa, se tem como finalidade a intenção de humilhá-lo até o fim e tirar o seu nome do sistema.

A partir do cruzamento entre os personagens, se dá a crítica propriamente dita. Juntamente com o roteirista Paul Laverty, o diretor do longa clarifica a obstaculização encontrada pelo cidadão comum na luta pelos seus direitos, passando pela burocracia extrema e as empresas terceirizadas que coisificam o cidadão; pela dependência tecnológica excludente, mas supostamente inevitável no processo globalizatório; pelo sistema de pontos na avaliação para concessão de benefício e até mesmo na torturante música clássica tocada na espera do atendimento telefônico do sistema previdenciário. A conjunção de tais óbices empurra os protagonistas para situações constrangedoras e humilhantes, como a prostituição de Katie e a necessidade de furtar absorventes em um supermercado, mas são mostrados como medidas desesperadas, que ao invés de desassociar, só reforçam a empatia do espectador com a vida sofrida dos heróis da trama. Para Daniel, a humilhação se traduz na necessidade de comprovação de que buscou trabalho 35 horas na semana, mesmo sem poder aceitá-lo devido a sua condição médica, sob risco de sanção de suspensão do pagamento, e a indicação para um banco de alimentos, algo para quem não tem condições de prover a própria alimentação.