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Triade Vitruviana

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Por:   •  3/8/2014  •  6.681 Palavras (27 Páginas)  •  755 Visualizações

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Voltar a discutir o projeto arquitetônico se justifica e interessa não apenas porque se supõe que o ensino de arquitetura esteja em crise, e sempre está, mas por dois outros motivos que me parecem de particular relevância. Em primeiro lugar, porque nossa profissão passa por uma crise disciplinar sem precedentes, que ameaça torná-la obsoleta ou alterar radicalmente sua natureza. Em segundo lugar, porque não há consenso sobre os procedimentos projetuais que podem conduzir à boa arquitetura, e muito menos sobre o que caracteriza obras de qualidade superior no início deste novo século. Em uma época em que, aparentemente, vale tudo, é fundamental um olhar introspectivo para tentar entender a essência da disciplina. Só assim será possível praticar e ensinar uma arquitetura autêntica, que preserve seu papel social e cultural.

Projetar e ensinar

O verbo ensinar, quando se refere ao projeto arquitetônico, tem um sentido muito diferente de quando aplicado à outras áreas do conhecimento.

Se o projeto não pode ser ensinado, como dizem muitos, certamente pode ser aprendido. Esse aprendizado se dá na própria prática de projetos, pela repetição de um procedimento e pelo acúmulo de conhecimentos que acarreta. A transmissão de conhecimentos arquitetônicos se dá também por exemplo, seja apresentando e discutindo projetos do próprio professor, seja pelo estudo de arquiteturas exemplares.

Nenhum processo de aprendizagem nas áreas que envolvem criatividade é possível se o professor não possuir e souber apresentar uma visão clara, precisa e abrangente sobre a sua disciplina. Por isso, de muitos modos o ensino se confunde com a prática, e o conteúdo didático de qualquer professor só pode estar vinculado ao modo em que projeta e vê a arquitetura. O que segue é minha visão pessoal sobre o projeto arquitetônico, base da minha prática profissional e da minha atividade docente. Como tal, é relativa e não pretende ser a única verdade sobre o assunto, embora eu acredite fortemente na sua validade.

A crise disciplinar A crise disciplinar a que me refiro pode ser definida por uma série de fenômenos que afetam a arquitetura e o urbanismo internamente e a sua reputação, pois é evidente o retrocesso da sua influência sobre as decisões que emanam da sociedade. Uma das origens dessa crise é o fenômeno da globalização o qual, embora nem todos se dêem conta disso, vem moldando o mundo ocidental nos últimos cinqüenta anos.

De modo resumido, a situação atual se caracteriza pelos seguintes sintomas (2):

Perda da influência que a arquitetura gozava até meados do século XX como centro ideológico do modernismo, e sua conseqüente decadência como profissão relevante aos olhos da sociedade. Prova disso é o fato de que a maior parte das decisões sobre o meio ambiente construído ou os objetos de uso já não estão nas mãos de arquitetos e designers, estando agora dominadas pelos aspectos prospectivos do marketing (3).

A tematização da arquitetura: redução de suas formas visíveis a uma série de postulados determinados pelas disciplinas da comunicação e do marketing.

A grande escala: o território passa a ser concebido em termos de enclaves fechados, desconexos, e relacionados exclusivamente pelas vias de trânsito e pelas redes de comunicações. O tamanho permite aos investidores o controle total de todos os seus aspectos, inclusive o urbanismo.

A crescente importância dos não-lugares na vida cotidiana, espaços que não funcionam como pontos de encontro à maneira tradicional e são comumente relacionados com o transporte rápido, o consumo e o ócio (centros comerciais, supermercados, hotéis, aeroportos, etc.).

A mercantilização da arquitetura: os edifícios passam a ser tratados como objetos de consumo, cuja organização e aparência seguem as últimas modas ou “tendências”.

A espetacularização da arquitetura. Confunde-se ineditismo com originalidade e inovação formal com qualidade arquitetônica. Em conseqüência do desejo de criar arquiteturas impactantes, nossas cidades estão se tornando uma espantosa mistura de Disneylandia com Las Vegas (4).

Como conseqüência e causa parcial da atual crise disciplinar surge a figura do arquiteto globalizado, muito mais um homem de negócios do que um profissional da arquitetura. Para ele é menos importante fazer arquitetura do que vendê-la. Seu motto é: “o que vende é bom”.

O arquiteto globalizado é um “prestador de serviços”, não no sentido de um profissional que presta serviços à sociedade, mas de rendição quase total aos desejos do cliente e às imposições do mercado, abraçando com devoção uma prática que muda ao sabor das modas, não importando a sua relevância ou falta de. A conseqüência dessa atitude é a perda da dimensão cultural e social da arquitetura.

Para o arquiteto globalizado a arquitetura é apenas um meio de afirmação pessoal. O que importa é “construir a sua imagem”. A profissão, para ele, passou a ser apenas um meio para obter fama e, se possível, riqueza. Ele dificilmente nos ajudará a entender melhor como projetar em 2003 e nos próximos anos.

O quaterno contemporâneo

Configurado o quadro acima, impõe-se perguntar se faz algum sentido reunir-se para discutir o projeto arquitetônico. Felizmente, ainda há espaço para a arquitetura autêntica, ainda que seja cada vez menor. Só um entendimento profundo dessa autenticidade e dos procedimentos projetuais que podem levar a ela nos permitirão resistir à crise que assola nossa disciplina.

“O trabalho do arquiteto é saber colocar-se na sua época, sentir o espírito dos tempos, dissolver a nostalgia, evitar o ridículo do anacronismo, esquivar-se tanto das convenções como das modas e das novidades de decorador” (5).

Vivemos em um tempo sem certezas, e temos a consciência de que as coisas sempre podem ser de outra maneira. Portanto, sempre há vários modos de resolver um projeto. Para aqueles que tem como objetivo realizar uma arquitetura autêntica, afastar ao máximo a arbitrariedade das suas decisões é essencial. Talvez o único modo de controlar essa arbitrariedade seja fundamentar as decisões projetuais sobre as condições intrínsecas e específicas de cada problema arquitetônico.

Quais seriam essas condições no início de um novo milênio?

“Em toda construção deve-se levar em conta sua solidez, sua utilidade e sua beleza”, dizia Vitruvio 2000

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