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A educação e os educadores do futuro

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Por:   •  25/11/2014  •  Trabalho acadêmico  •  4.889 Palavras (20 Páginas)  •  222 Visualizações

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A educação e os educadores do futuro

A educação do futuro depende dos caminhos que optarmos no presente. Os educadores devem colocar a questão fundamental: qual a educação queremos construir para as futuras gerações? A transformação da atual visão e concepção de educação passa pela transformação do paradigma - simplificador - dominante hoje. A educação é um dos seus produtos, ela é gerada e gera esse paradigma.

“(...) sendo todas as coisas causadas e causadoras, ajudadas ou ajudantes, mediatas e imediatas, e sustentando-se todas por um elo natural e insensível que une as mais distantes e as mais diferentes, considero ser impossível conhecer as partes sem conhecer o todo, tampouco conhecer o todo sem conhecer particularmente as partes”. Blaise Pascal (1623-1662), Pensamentos.

“Quem educará os educadores?” Esta pergunta instigante é feita pelo filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) em uma de suas teses sobre Feuerbach e lembrada pelo pensador francês Edgar Morin em seu livro Os sete saberes necessários à educação do futuro . Deixemos em suspenso a questão e vamos recuperar, em linhas gerais, o pensamento de Morin.

Este trabalha com a idéia de que o conhecimento - e suas estratégicas cognitivas, ou seja, as formas como operamos com o pensamento para mediar e apreender a realidade - deve ser constantemente complexificado, transformado em um conhecimento complexo. O que é isso? Vejamos: a realidade - todas as coisas, os seres e os fenômenos que nos cercam e com os quais agimos e retroagimos - é por natureza um fenômeno complexo, à medida que não podemos vivê-la de forma fragmentada, compartimentada. O real - e é bom lembrar que nossa vida está inserida nele - é constituído por intermináveis relações entre as partes que o constitui.

Vamos pensar no ser humano. Vivemos inseridos numa rede de relações extremamente complexa. Somos - ou tentamos ser - o profissional bem sucedido, o bom pai ou a boa mãe, o filho dedicado, somos namorado ou namorada, marido ou mulher, amigo ou amiga e tantas outras possibilidades de existência, mas somos tudo isso simultaneamente, somos tudo ao mesmo tempo agora. No dia-a-dia vivemos nossa existência cumprindo - ou representando - todos esse papéis sociais juntos. Ninguém chega no local de trabalho e diz: “Bom, agora vou deixar de ser fulano de tal e passarei a ser somente o profissional tal”. A vida, e suas relações sociais, culturais, amorosas e profissionais é muita mais rica. Nós mesmos, embora sejamos únicos - nossa individualidade é irredutível -, somos também múltiplos! Vale lembrar a frase do escritor mexicano Octávio Paz: “Cada indivíduo é único. Cada indivíduo se compõe de inúmeros indivíduos que ele não conhece”.

Mas voltemos as redes de relações. Quando analisamos mais profundamente um acontecimento constatamos que este é uma parte inserida num todo. No limite, tudo está ligado a tudo. A questão da violência é sempre um bom exemplo. A violência tem raízes sociais, culturais e até antropológicas, mas também é um problema relacionado aos aspectos econômicos e até mesmo psicológicos. Quando tratamos essa, e tantas outras questões, normalmente estamos condicionados a pensá-las por uma só perspectiva. Assim age o pensamento simplificador, e mais profundamente o paradigma simplificador, redutor e reducionista. O que transforma um problema tão complexo, numa questão simples. A violência (o todo) é reduzida a uma de suas partes, por exemplo, a da segurança pública. Dessa forma reduzida, segmentada, partida não reflete o real e torna-se impossível diagnosticá-la e tratá-la da forma devida. E isso serve para todas as questões e os problemas de nossa sociedade e mesmo do planeta.

Edgar Morin defende que diante de uma realidade complexa devemos pensar também de forma complexa. Etimologicamente, é bom lembrar, a palavra “complexo” vem originariamente de complexus, algo como aquilo que é (ou está sendo) tecido junto. Não podemos analisar, dialogar e trabalhar com situações tão ricas e tão dinâmicas utilizando esse pensamento simplificador que somente consegue pensar o mundo, os seres e as coisas de forma fragmentada e estanque. Em resumo, para compreendermos, analisarmos e interferirmos numa realidade por natureza complexa, onde um aspecto que a forma está ligado direto ou indiretamente a outro, não podemos continuar utilizando formas de pensar simplificadas e simplificadoras. Para dar conta de um mundo heterogêneo, diversificado em seus múltiplos aspectos, devemos utilizar formas também complexas de mediação e apreensão dessa realidade. Pensar o mundo, o real, os outros que nos cercam e as nossas vidas de forma complexa é o que propõe o pensamento complexo, instrumento necessário para um conhecimento também complexo.

Podemos agora voltar a pergunta de Marx. Morin acredita que quem educará no futuro os educadores será uma minoria de educadores, estimulados por esse pensamento complexo que irá reformar o pensamento dominante hoje -aquele reducionista - e regenerará o ensino - este também, em nossos dias, simplificador. O ensino hoje deixou de ser uma missão, no sentido mais amplo, nobre e generoso do termo, para ser, como diz Morin, uma função e uma especialização – aquilo que trata da parte, sem conseguir apreender o todo. Logo, mais um sintoma da forma redutora como tratamos o conhecimento nesse início de terceiro milênio:

Freud dizia que há três funções impossíveis por definição: educar, governar, psicanalisar. É que são mais que funções ou profissões. O caráter funcional do ensino leva a reduzir o professor ao funcionário. O caráter profissional do ensino leva a reduzir o professor ao especialista. O ensino deve voltar a ser não apenas uma função, uma especialização, uma profissão, mas também uma tarefa de saúde pública: uma missão. Uma missão de transmissão. (MORIN, 2000, p. 101).

Devemos então nos preparar para essa missão. Essa tarefa passa por transformar nossos saberes, revisionar prática pedagógicas redutoras do conhecimento, construir novas formas de cognição que permitam enfrentamos as incertezas e as interrogações deste início de século e milênio. Devemos buscar saberes que nos instrumentalizem para que possamos responder às questões fundamentais referentes à ética, à cidadania, à solidariedade planetária e global do presente e do futuro. Nesta perspectiva, MORIN (2000) sugere sete saberes “fundamentais” para a educação do futuro, indicados à “toda sociedade e em toda cultura, sem exclusividade nem rejeição, segundo modelos e regras próprias a cada sociedade e a cada cultura” . São eles, de forma resumida e comentada:

1. As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão. O conhecimento humano comporta

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