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Considerações teóricas acerca do conceito de bairro rural e de comunidade rural

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Por:   •  28/2/2014  •  Pesquisas Acadêmicas  •  2.731 Palavras (11 Páginas)  •  361 Visualizações

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CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS ACERCA DO CONCEITO DE BAIRRO RURAL E DE COMUNIDADE RURAL.

Raphael Medina Ribeiro

João Cleps Júnior

RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo empreender uma reflexão acerca do conceito de bairro rural e/ou comunidade rural, partindo tanto de elementos teóricos associados aos campos da Sociologia Rural e da Geografia Agrária. Nossos procedimentos metodológicos consistiram em recorrer inicialmente, ao entendimento de bairro rural entre alguns autores e obras clássicas da temática em questão, como são Maria Izaura Pereira de Queiroz e Antônio Candido da sociologia rural e Lílian Fernandes da Geografia Agrária. Assim, observamos entre os autores estudados as várias definições e entendimentos do que venha a ser um bairro rural, bem como identificamos alguns princípios e lógicas sociais que operam no mundo rural, fazendo com que um determinado espaço possa ser designado como um bairro rural/comunidade rural. Desse modo, a existência e a manutenção dos vínculos sociais estabelecidos entre moradores, vizinhos e/ou parentes de uma determinada área rural, expressos por meio de relações de vizinhança, de amizade, de solidariedade e de cooperação; em diferentes esferas de vida dos sujeitos, como o trabalho, a produção e os momentos festivos e religiosos, apontam para a identificação dos princípios e lógicas sociais que caracterizam os bairros/comunidades rurais.

1. Introdução

Este trabalho tem como objetivo interpretar à luz do princípio da dádiva, as relações de vizinhança, cooperação mútua e solidariedade, as quais se configuram como um traço cultural característico entre grupos sociais e comunidades do mundo rural brasileiro, em tempos passados ou na atualidade, especialmente entre categorias sociais designadas por camponeses, pequenos produtores, sitiantes, roceiros, sertanejos e caipiras.

A partir de leituras sucintas de autores que pesquisaram núcleos e comunidades rurais, especialmente Antônio Candido e Maria Izaura Pereira de Queiroz, localizaremos algumas passagens e momentos em que percebemos alguma aproximação com o princípio da dádiva, especialmente, quando eles tratam dos vínculos sociais criados entre os moradores rurais, por meio das relações de vizinhança, de solidariedade e de cooperação. A prática do mutirão configura como um exemplo importante da noção de dádiva inscrita no universo sócio-cultural dos caipiras, sitiantes e demais camponeses, mas seguramente não seria o único.

Tentaremos a partir da idéia de dádiva e alguns de seus princípios, como a noção maussiana – dar, receber e retribuir, a criação e manutenção do vinculo social e o endividamento mútuo, fazer um leitura dos traços culturais e valores característicos das sociedades rurais. Nesta tarefa, buscando explicitar melhor o conceito de dádiva, recorreremos a dois autores, Allan Caillé e Leonardo de Araújo Mota, que lançam luzes acerca da teoria da dádiva e a sua aplicação na análise de contextos sociais.

2. Desenvolvimento.

2.1. As características principais dos bairros rurais e das comunidades rurais.

Neste breve exercício, em que tentaremos localizar o princípio da dádiva nas relações de vizinhança, solidariedade e cooperação entre grupos sociais rurais, devemos inicialmente, caracterizar a área ou espaço em que estamos interessados. Trata-se das unidades sociais e espaciais designadas pelas categorias bairro rural e comunidade rural, que são discutidos pelos mais diversos autores de diferentes campos do conhecimento, com destaque para as disciplinas de sociologia rural, antropologia rural e geografia rural.

Para Fernandes (1978), o termo “bairro” é largamente difundido entre a população do mundo rural paulista, sendo utilizado para indicar determinada porção de território, de limites nem sempre muito precisos, geralmente definidos em função de um sentimento de localidade, não raro reforçado pela presença de algum elemento social de coesão como escola, igreja e venda. A autora afirma ainda, que os bairros rurais teriam surgido nas áreas de povoamento mais antigo, à medida que se ia estabelecendo um habitat fixo e suficientemente denso para que se pudessem estabelecer contatos entre os vizinhos. Na época de formação dos primeiros bairros, as relações de vizinhança desempenhavam importante papel na vida do habitante rural, e estas se manifestavam tanto no plano econômico, como no social e espiritual.

Nas afirmações da autora citada podemos notar o entendimento do bairro rural como uma unidade espacial e social elementar, uma célula, um agrupamento humano ou grupo social, onde são estabelecidos diversos tipos de relações e laços, que garantem certa coesão social, de forma especial a partir das relações de vizinhança.

Para Maria Izaura Pereira de Queiroz, socióloga responsável por várias pesquisas acerca dos bairros rurais paulistas, os bairros rurais

(...) se organizam como grupos de vizinhança, cujas relações interpessoais são cimentadas pela grande necessidade de ajuda mútua, solucionada por práticas formais e informais, tradicionais ou não; pela participação coletiva em atividades lúdico-religiosas que constituem a expressão mais visível da solidariedade grupal (...)” (QUEIROZ, 1973 p.195)

Consideramos a partir do exposto, a existência de uma rede social que se cria no interior do bairro rural ou da comunidade rural, que se organiza como um agrupamento de produtores rurais e demais categorias de atores socais, os quais habitam um domínio espacial em comum e estabelecem entre si relações sociais. Neste espaço social se inter-relacionam diversos tipos de sujeitos, com papéis e posições sociais distintas, operando de acordo com hierarquias sociais e diferentes condições sócio-culturais.

Na comunidade rural, os vários atores sociais, como empregados, proprietários, agregados, parentes e vizinhos estabelecem entre si relações interpessoais diretas, próximas, face a face.

Esta relação de proximidade e os vínculos construídos incidem sobre os vários círculos de vida, trabalho, parentesco, religião e momentos festivos da comunidade rural, tecendo uma gama de trocas, obrigações e vínculos entre os moradores rurais.

Assim sendo, em nosso entendimento, as sociedades camponesas se aproximam da noção de sociedade de interconhecimento, atribuída ao mundo tradicional ou “primitivo”, principalmente devido à proximidade das relações produzidas pelo universo simbólico camponês. Outro ponto que reforça

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