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FLORESTAN FERNANDES E AS RELAÇÕES RACIAIS NO BRASIL

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Por:   •  9/7/2014  •  2.708 Palavras (11 Páginas)  •  789 Visualizações

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1 INTRODUÇÃO

Os debates acerca da problemática da discriminação racial e da consequente desigualdade de oportunidades a que estão sujeitos brancos e negros no Brasil é urgente e tem se ampliado cada vez mais.

A década de 1960 foi marcada pelo aumento dos estudos sobre os negros brasileiros. Durante muitos anos, a participação do descendente de africano no Brasil começou a ser reavaliada, mas segundo alguns, de maneira um tanto idealizada (como ocorre em Casa-grande & Senzala, de Gilberto Freire). Nos anos seguintes, os estudiosos assumiram posições mais realistas, pondo de lado velhos chavões como a inexistência de preconceito racial no país e buscando enfoques inéditos de abordagem do problema, amparando-se em pesquisa de campo e levantamento minucioso de dados para analisar aspectos não percebidos até então.

Florestan Fernandes consagrou-se não apenas como um grande sociólogo brasileiro, mas como um grande sociólogo que é brasileiro (FLORESTAN..., 2004). Entre os seus muitos trabalhos de impacto nas Ciências Sociais, destacam-se suas reflexões sobre a supremacia da raça branca e o controle do poder que ela exerce em nossa sociedade, fazendo do Brasil um universo social modelado pelo branco para o branco. Estudando a situação do negro e do mulato na sociedade brasileira, Florestan Fernandes aborda os caminhos labirínticos assumidos pelo preconceito, a sua dissimulação e o processo de segregação racial, sem agravar ou atenuar o problema.

Este trabalho propõe analisar as contribuições deste grande sociólogo para as discussões sobre as disparidades raciais no Brasil e as alternativas de enfrentamento às mesmas. A partir da exposição de uma breve biografia de Florestan Fernandes, nos debruçaremos sobre as principais noções elaboradas por ele no conjunto dos quatorze ensaios publicados na obra O Negro no Mundo dos Brancos (1972).

2 FLORESTAN FERNANDES: BREVE BIOGRAFIA

Florestan Fernandes foi um político e sociólogo brasileiro, considerado fundador da sociologia crítica no Brasil. Foi deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores (GARCIA, 2002).

Florestan nasceu em São Paulo, no dia 22 de julho de 1920. Em função do restrito poder aquisitivo da família, teve dificuldades em seus estudos iniciais. No entanto, isso não impediu que desenvolvesse o interesse pelos estudos: filho de mãe solteira e afilhado e criado por Hermínia Bresser de Lima, filha de Carlos Augusto Bresser, Florestan aprendeu com ela tal dedicação:

O fato é que embora eu não estudasse organizadamente, pelo fato de ter nascido na casa de dona Hermínia Bresser de Lima, aprendi o que era livro, a importância de estudar e com pouco mais de seis anos adquiri uma disciplina. (FERNANDES, 1995; apud GARCIA, 2002, p. 32).

Florestan nunca conheceu o pai. O avô materno trabalhou como colono numa fazenda no interior de São Paulo e morreu de tuberculose; a mãe, após se mudar para a capital paulista, trabalhou como empregada doméstica. Ganhou o nome do motorista de sua madrinha (que era alemão), amigo de sua mãe. Começou a trabalhar como auxiliar numa barbearia aos seis anos de idade. Mais tarde, foi engraxate. Estudou até o terceiro ano do primeiro grau e só mais tarde retomaria os estudos, fazendo curso de madureza, estimulado por frequentadores do bar Bidu, no centro de São Paulo, onde trabalhava como garçom. Finalmente, em 1941, ingressou na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, concluindo o curso de Ciências Sociais (GARCIA, 2002).

Segundo Borges (2007), em 1945, trabalhou como assistente do professor Fernando de Azevedo, na disciplina de Sociologia II. Na Escola Livre de Sociologia e Política, com a dissertação "A organização social dos Tupinambá", obteve o título de mestre. Em 1951, defendeu, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, a tese de doutorado "A função social da guerra na sociedade tupinambá", posteriormente considerado um clássico da etnologia brasileira. Uma linha de trabalho particular de Florestan nos anos 50 foi o estudo das perspectivas teórico-metodológicas da sociologia. Seus ensaios mais importantes acerca da fundamentação da sociologia como ciência foram, posteriormente, reunidos no livro "Fundamentos empíricos da explicação sociológica". Seu comprometimento intelectual com o desenvolvimento da ciência no Brasil, entendido como requisito para a inserção do país na civilização moderna, científica e tecnológica, situa sua atuação na Campanha de Defesa da Escola Pública, em prol do ensino público, laico e gratuito enquanto direito fundamental do cidadão do mundo moderno.

Segundo Garcia (2002), em 1969, foi afastado das atividades acadêmicas porque foi perseguido pela ditadura militar brasileira. Nesse mesmo ano, escreveu "A Integração do Negro nas Sociedades de Classe". O sociólogo desenvolveu outros estudos referentes às sociedades indígenas e ao processo de dependência da América Latina em relação aos Estados Unidos, sobre o qual escreveu o livro "Capitalismo Dependente e Classes Sociais na América Latina" (1973). Outro livro importante foi “A Revolução Burguesa no Brasil” (1975), que abordava questões sobre a resistência que a classe dominante brasileira tinha às mudanças sociais.

Na USP, foi assistente catedrático, livre docente e professor titular na cadeira de Sociologia, substituindo o sociólogo e professor francês Roger Bastide em caráter interino até 1964, ano em que se efetivou na cátedra com a tese "A integração do negro na sociedade de classes". Como o título da obra permite entrever, o período caracteriza-se pelo estudo da inserção da sociedade nacional na civilização moderna, em um programa de pesquisa voltado para o desenvolvimento de uma sociologia brasileira (WILD, 2012). Nesse âmbito, orientou dezenas de dissertações e teses acerca dos processos de industrialização e mudança social no país e teorizou os dilemas do subdesenvolvimento capitalista. Inicialmente, no bojo dos debates em torno das reformas de base e, posteriormente, após o golpe de Estado, nos termos da reforma universitária coordenada pelos militares, produziu diagnósticos substanciais sobre a situação educacional e a questão da universidade pública, identificando os obstáculos históricos e sociais ao desenvolvimento da ciência e da cultura na sociedade brasileira inserida na periferia do capitalismo monopolista (BORGES, 2007).

Florestan Fernandes destacou-se pela militância no PT, pelo qual se elegeu deputado Federal em 1986. Faleceu em São Paulo, no dia 10 de agosto

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