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Direitos deveres e virudes

Por:   •  17/11/2015  •  Trabalho acadêmico  •  6.034 Palavras (25 Páginas)  •  557 Visualizações

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ESCOLA ESTADUAL PADRE MENEZES

CURSO NORMAL - 1º Período –

Disciplina: Filosofia da Educação _ Profª Marly Marcondes

Direitos, deveres e virtudes

Se formos ler o famoso texto de Aristóteles intitulado Ética a Nicômaco, verificaremos que o filósofo

grego coloca na sua ética virtudes como temperança, coragem, prudência, magnanimidade, etc. A

razão da inclusão de tais virtudes é clara dentro da filosofia aristotélica: uma vez que a ética é definida

como uma "arte de viver", como uma busca da felicidade, faz sentido incluírem-se nela traços de

caráter e condutas que são necessários ao alcance desta felicidade. Porém, se formos ler a obra de

Kant ( século XVIII ), teremos uma visão totalmente diferente do que seja ética: longe de ser

concebida como busca de felicidade, ela é construída a partir da noção de dever: é ético (ou moral)

aquilo que se faz com base no respeito dos direitos alheios, direitos estes que são derivados de um

imperativo categórico preciso: as pessoas nunca devem ser tratadas como meios, mas sim como fins

em si (não podem, portanto, serem "usadas" para benefício alheio). Deste ponto de vista, que, grosso

modo, corresponde à ética moderna, apenas uma das virtudes citadas por Aristóteles pode ser, sem

maiores objeções, objeto da ética: a justiça. É um dever ser justo porque é um direito de todos serem

tratados de forma justa . Assim, o valor justiça corresponde a uma exigibilidade de conduta: todos

devem procurar agir de forma justa, e toda injustiça deve ser implacavelmente condenada e abolida.

Em compensação, não é um dever ético ser corajoso, ter humildade, ser prudente, etc. Ou, melhor

dizendo, tais virtudes somente corresponderão a deveres se exercidas em nome da justiça: ser

corajoso para opor-se a arbitrariedade, ser humilde para reconhecer que não se foi justo, ser prudente

para garantir que a justiça se faça, etc.

Voltando a formação ética dos alunos, penso que, do ponto de vista dos conteúdos que serão

trabalhados com eles e cuja observância prática lhes será exigida, devemos ser kantianos. Vale dizer

que a ética a ser apresentada, refletida e exigida deve inspirar-se nos Direitos Humanos e traduzir-se

nos deveres decorrentes. Podemos exigir de todo e qualquer cidadão brasileiro que ele seja justo com

toda e qualquer pessoa? Penso que sim. Este é, portanto, um conteúdo da formação ética dos alunos,

e que confere a legitimidade ao professor para escolhê-la como tema de suas intervenções

pedagógicas e para suas exigências de comportamentos; e este é também, portanto, um conteúdo que

confere legitimidade para que os próprios alunos exijam ser tratado de forma coerente com ele. É claro

que deverá haver toda uma discussão sobre as melhores formas de ser justo, mas a busca da

concretização do valor justiça, como ideal ético, não estará em discussão. Outro exemplo: podemos

exigir de todo e qualquer cidadão brasileiro que se disponha a dialogar com as pessoas com as quais

está em conflito? Também penso que sim, pois a opção pelo diálogo traduz uma forma de respeito pelo

outro. Mas podemos exigir de alguém que seja grato, temperante, generoso, prudente? Penso que

não. Podemos aconselhar as pessoas a cultivarem estas virtudes, mas não podemos dizer que elas têm

o dever de fazê-lo. Neste sentido, tais virtudes, e outras, não podem fazer parte dos conteúdos cuja

observância é um dos objetivos da formação ética, do contrário, voltaremos ao autoritarismo, pois

transformaremos em dever aquilo que não corresponde ao direito de ninguém, mas apenas às escolhas

pessoais de determinado professor, ou às opções ideológicas de determinada instituição.

Tudo o que foi escrito até agora diz respeito aos conteúdos que devem fazer parte da formação ética e

que conferem legitimidade a professores e alunos para exigir, deles próprios e das outras pessoas,

condutas coerentes. Ficamos com o sistema de deveres e direitos éticos (não necessidade jurídicos), e

excluímos as virtudes. Todavia, do ponto de vista pedagógico, penso que seria um erro não se

trabalharem as virtudes. Isto por duas razões . A primeira é que, freqüentemente, para conseguirmos

cumprir nossos deveres éticos, precisamos de disposições de caráter que pressupõem o cultivo das

virtudes. Por exemplo, para ser justo, é preciso às vezes ser corajoso; para dialogar, é preciso ser

humilde (do contrário nem se ouve o que o interlocutor tem a dizer), para ser solidário é preciso ser

generoso, e assim por diante. A segunda razão que me faz pensar que um trabalho em sala de aula em

torno das virtudes (e não apenas em torno dos direitos e deveres) é pedagogicamente necessário é

que elas dizem diretamente respeito aos afetos, aos sentimentos, e que estes participam da

construção da "personalidade moral", ou seja,

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