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Relações de Poder em Focault

Por:   •  1/12/2016  •  Artigo  •  3.160 Palavras (13 Páginas)  •  302 Visualizações

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PERSPECTIVAS FOUCAULTIANAS DO PODER COMO ELEMENTO INDISSOCIAVEL DO SUJEITO

Jader Antônio Trajano Duarte[1]

RESUMO: Um dos autores mais citados do Séc. XX Michel Foucault foi um filósofo Francês inovador e muito polêmico que se preocupou com as questões de sua época. Nasceu em 15 de outubro de 1926 em Poitiers, França. E Morreu em 25 de junho de 1984 em Paris, França. Deixou obras que refletem muitas experiências vividas por ele, dentre elas, experiências em hospitais psiquiátricos, experiências com sua própria biografia, o modo como rejeitou vários intelectuais Franceses, como Sartre, tornaram-no um autor muito visado. Possui discursos, que foram traduzidos em obras, que abordam temas que são raros na filosofia, como por exemplo, a loucura, as prisões, a sexualidade, o poder, e neste último desenvolveu uma grande teoria a respeito de como o poder pode influenciar os indivíduos e caracteriza-los em sua individualidade, a partir das formas como se dão essas relações de poder na vida dos indivíduos, bem como os efeitos de dominação que ele provoca em todas as malhas sociais, e ainda as possibilidades de liberdade frente a essa dominação.

A QUESTÃO DO PODER EM FOUCAULT

O poder sempre fora associado à punição. Até o fim do Séc. XVIII era comum o poder ser exercido por meio da força física. O ritual do suplício era um grande exemplo disso, uma cerimônia pública em que um criminoso era torturado ate a morte. Mais do que uma reparação moral, o suplicio era uma prova de força: a manifestação do poder politico do rei. Aqui no Brasil, temos o exemplo do ocorrido com Tiradentes. O líder da inconfidência mineira foi enforcado e esquartejado, para servir de exemplo aos que ousassem desafiar a coroa. Com o tempo, o habito de punir publicamente deixou de ser viável. Nasce a prisão, como forma de humanizar os castigos, mas que verdadeiramente serviu apenas para levar o suplicio para longe dos olhos da sociedade.

Para entender a dinâmica do poder, o Filósofo Michel Foucault, de maneira inovadora, resolveu estudar as prisões. Pois nelas, “o poder não se esconde, não se mascara cinicamente” (FOCAULT, 1979, p. 73). Ao contrário, nas prisões, o poder pode se manifestar em seu estado bruto, em suas formas mais excessivas. Aí encontra sua inteira justificativa como um poder moral. Em nome do “bem” e da “ordem”, é permitido punir.

O poder não é uma coisa, nem uma propriedade, nem está localizado somente no governo ou no estado. O poder é uma rede de relacionamentos que está presente em todos os lugares, em todas as classes sociais. No entanto, Foucault não considera o poder coercitivo como única forma existente de poder, mas também como relação de forças com outras forças, que são capazes de produzir efeitos na sociedade.

AS RELAÇÕES DE PODER SÃO RELAÇÕES DE FORÇAS COM OUTRAS FORÇAS QUE CARACTERIZAM O INDIVIDUO ENQUANTO SUJEITO.

 As relações de forças de poder submetem os indivíduos e caracterizam-no de acordo com os efeitos que essas mesmas forças são capazes de produzir em si. Esses efeitos são o que justamente caracterizam o indivíduo em sua singularidade. Portanto, o objetivo principal do poder, enquanto relação de forças com outras forças é produzir os efeitos que categorizam o indivíduo, assinalando-o em sua própria individualidade e firmando-o à sua própria identidade verdadeira, reconhecendo-se a si mesmo em sua relação de força consigo, fazendo-se e se fazendo conhecer enquanto sujeito. A partir de uma análise de como se dá o exercício interno do poder, Foucault nos remete a um regime discursivo de reflexões sobre os mais variados acontecimentos, com diferentes alcances e amplitudes cronológicas, e que tem a capacidade de gerar os mais diversos tipos de efeitos.

Foucault não emprega a palavra sujeito como pessoa ou forma de identidade, mas os termos ‘subjetivação’, no sentido de processo, e ‘si’ no sentido de relação a si. E do que se trata?  Trata-se de uma relação de força consigo, ao passo que o poder é uma relação de força com outras forças. (DELEUZE, 1998, p.120)

Primeiramente se faz necessário entender a autêntica concepção de poder para o filósofo Francês, já que para ele a visão coercitiva do poder, simplesmente a partir de uma força de negação ou proibição, é uma concepção debilitada que fora concebida e aceita majoritariamente durante muito tempo.

Se o poder fosse somente repressivo, se não fizesse outra coisa a não ser dizer não, você acredita que seria obedecido? O que faz com que o poder se mantenha e que seja aceito é simplesmente que ele não pesa só como uma força que diz “não!”, mas que de fato ele permeia, produz coisas, induz ao prazer, forma saber, produz discurso. Deve-se considera-lo como uma rede produtiva que atravessa todo o corpo social muito mais do que uma instância negativa que tem por função reprimir. (FOCAULT, 1979, p. 8).

Nesse sentido, faz-se necessário buscar uma concepção mais racional, e menos ingênua, de poder. Foucault ressalta que “não há poder sem verdade.” E ainda, sustenta que a verdade é um fruto da vontade de verdade, que tende a influenciar diretamente em processos de ressignificação do sujeito. Ou seja, o poder só produz seus efeitos, enquanto fundamenta-se em uma ‘suposta’ informação, em uma ‘suposta’ verdade desenvolvida, que justifica e fundamenta seu poder e produz os efeitos esperados. “A noção de verdade preserva seu estatuto de construção histórica, mas é determinada pela exterioridade do próprio saber; ou seja, pelas práticas sociais, por relações de poder”. (BOTH, 2009, p.47).

As explicações da realidade, de acordo com a linha de pensamento do filósofo, não têm conexão com o modo como as coisas realmente são, mas somente servem para justificar o status quo daqueles que criam as ‘verdades’ que as colocam no poder. A verdade, portanto, não passa de uma espécie de poder social, e quem o detém, usa para escrever a história e estruturar a sociedade. Para compreender a visão de Foucault sobre verdade e poder, Se faz necessário desfazer-se daquela concepção ingênua de saber, que produz uma concepção também ingênua de verdade absoluta e universal. Para o filósofo não existe verdade absoluta e universal. Existe a verdade autêntica, que só pode ser encontrada dentro do domínio ou das relações de poder.

A verdade cumpre uma tarefa calculada e precisa na sociedade, garantindo que as relações de poder se ramifiquem no corpo social e tenham efetiva funcionalidade. Neste sentido, ao invés da verdade ser, por si só, um instrumento, uma arma para limitar o poder, como tradicionalmente se entendia, é fabricada por ele porque necessita dela. A verdade é atravessada por interesses. (BOTH, 2009, p.53)

Existe um jogo de interesses por trás da “verdade”, pois ela contém o poder de produzir efeitos que podem vincular a vida e a existência dos indivíduos na sociedade, e determina-los em suas particularidades sociais e individuais. “o saber está profundamente conectado às relações de poder que o originam e dele dependem. Igualmente, que as sociedades tramam essa conectividade, selecionando e controlando os discursos através da produção da verdade.” (BOTH, 2009, p.61).

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