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A Crise 1922

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Por:   •  12/3/2014  •  2.871 Palavras (12 Páginas)  •  231 Visualizações

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A década de 1920 é uma das mais importantes do ponto de vista da história econômica, política e cultural brasileira, e mesmo mundial. É um período de transição, de grande efervescência, que tem paralelos interessantes com o que acontece hoje. Minha intervenção aqui se centrará, contudo, no ano de 1922, momento em que talvez se tenha chegado mais perto de uma ruptura, exceção feita evidentemente para o final da década, quando a ruptura realmente ocorreu. Talvez eu focalize mais a árvore e perca um pouco da floresta da década de 20, mas como o desafio daqueles anos foi uma espécie de tentativa de resolver a ressaca da crise econômica de 1921-1922, 22 é um bom começo.

Mil novecentos e vinte e dois é um ano de profunda crise econômica, só comparável, na experiência republicana anterior, à gigantesca crise da década de 1890, que só acabou com o enorme esforço de ajustamento do período Campos Sales sob a tutela financeira britânica. Tem-se em 22 uma crise do café, uma inflação em alta e, especialmente, uma crise fiscal. É o final do governo Epitácio Pessoa, que, no entanto, havia começado com uma grande esperança de prosperidade, com grande otimismo, depois de anos de guerra, apreensões e dificuldades – de certa maneira, o fim do governo Epitácio parece muito com o fim do governo Sarney.

É desse clima de crise do Estado que surge ou que é renovado, como também se pode

interpretar, o acordo Minas – São Paulo, que garante a eleição do mineiro Artur Bernardes, mas dá aos paulistas o controle absoluto da economia, com Sampaio Vidal no Ministério da Fazenda e Cincinato Braga no Banco do Brasil. Se se quiser recortar um exemplo de acordo café com leite, não existe nenhum melhor do que este, que solidifica a candidatura Bernardes contra os ataques violentos dos militares, numa situação de crise fiscal e crise do Estado como a que marca o final do governo Epitácio. Essa aliança marca também o primeiro compromisso formal do governo federal com a valorização permanente do café, que será uma bandeira do governo Bernardes mais à frente. Vinte e dois é, portanto, um ano de crise, mas de uma crise que gera uma reação de continuidade do regime, que sacode Minas e São Paulo para uma aliança formal. Por que, afinal, 22 foi tão ruim? A partir de que momento o governo Epitácio degringolou na gestão da economia? Quais as origens da crise?

A crise que começa na segunda metade de 1920 chega ao auge em 1922, mas, na verdade, se arrasta até o final do governo Bernardes. Ela é um exemplo de livro-texto de choque externo adverso, ou seja, daqueles choques que marcam o comportamento de uma economia primária exportadora muito dependente do preço do seu produto básico. Epitácio Pessoa assume o governo em ótimas condições em 1919. É um período de alta do preço do café sem precedentes na memória das pessoas que viveram naquela época. Em 1918, uma imensa geada havia arrasado os cafezais de São Paulo. Ora, a produtividade logo depois de uma geada é muito pequena, pois as árvores demoram um tempo para se recuperar. Em 1919, portanto, os estoques estão baixos. Além disso, há um grande crescimento da demanda nos países centrais devido ao fim da guerra e à desmobilização das tropas. O medo do desemprego que a desmobilização rápida dos homens, com as mulheres ainda nas fábricas, poderia provocar, conduz esses países a uma política econômica expansionista, levando os governos a soltar o crédito. Diga-se de passagem, também, que na Europa a população civil não tomava café havia muito tempo. Esse crescimento da demanda mundial, combinado à restrição da oferta, eleva o preço do café até as nuvens.

A entrada no Brasil de uma receita de exportação muito grande leva, por sua vez, a uma enorme apreciação cambial, exatamente numa época em que a indústria está querendo investir. Os bens de capital tornam-se mais baratos, e abre-se um período de aumento das importações. O crescimento da atividade econômica tem um impacto muito favorável sobre a receita fiscal do governo, e o ano de 1919 se abre com grandes perspectivas de boa saúde financeira do governo. Com os Estados Unidos ainda no começo de sua disputa com Londres pela posição de centro financeiro, o Brasil começa a negociar empréstimos norte-americanos em 1920. Essa melhora na posição fiscal, somada a uma espécie de visão consensual sobre a necessidade de investimento público, leva finalmente a um grande programa de obras.

De fato, Epitácio Pessoa assume o governo em 1919 com um programa de obras que se ergue sobre duas pernas. A primeira delas está no Nordeste – afinal tratava-se de um presidente nordestino, o que aliás constitui outro ponto de semelhança com Sarney. Pouco tempo antes tinha havido também uma grande seca que se tornou famosa. O primeiro grande programa de obras contra as secas, com a construção de açudes, é assim lançado no governo Epitácio Pessoa, e isso nos custa uma grande quantia de dinheiro em libras e dólares, pois não tínhamos, na época, oferta interna de serviços e tecnologia, e as obras tiveram de ser contratadas no exterior.

Em segundo lugar, mas não menos importante, vem o programa de investimentos nessa espécie de sala de visitas que era o Rio de Janeiro da época, com vistas à Exposição do Centenário de 1922. A importância que as elites brasileiras davam à preparação da cidade para a exposição pode ser vista na epígrafe do capítulo 2 do livro de Marly Silva da Motta, onde se lê: É preciso que quem aqui aportar encontre, como primeira cidade brasileira, alguma coisa que provoque louvores. As obras para a exposição são monumentais. O que havia sobrado – e havia sobrado muito – do morro do Castelo, foi levado para dentro d'água. Vários pavilhões foram construídos, muitos deles com o dinheiro dos governos dos países participantes. De toda forma, a infra-estrutura da exposição consome um colosso de dinheiro. Também no governo Epitácio, tem início a urbanização de Ipanema e da Lagoa Rodrigo de Freitas, com arruamentos, calçamento com paralelepípedos e construção de redes de esgotos. O imenso programa de obras do Rio de Janeiro beneficia ainda outras áreas públicas.

É engraçado observar, lendo os depoimentos da época, que como num reflexo do que se passava na Europa, Epitácio justificava seu imenso programa de obras como uma medida para combater o desemprego que iria se seguir à guerra, o que no Brasil não fazia o menor sentido. O desemprego no Brasil era estrutural, o país não empregava, mas também não tinha mobilizado um grande número de tropas para a guerra. Obviamente o programa do Nordeste se justificava por si só, devido aos efeitos sociais e econômicos da seca. Porém,

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