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A REVOLTA DOS MALÊS E AS REPRESENTAÇÕES DO MOVIMENTO NOS LIVROS DIDÁTICOS

Por:   •  18/4/2018  •  Artigo  •  4.626 Palavras (19 Páginas)  •  189 Visualizações

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A REVOLTA DOS MALÊS E AS REPRESENTAÇÕES DO MOVIMENTO NOS LIVROS DIDÁTICOS

ANDRADE, César 1

RESUMO

O objetivo central deste artigo é apresentar os principais aspectos sociais, políticos e culturais relacionados ao levante organizado em 1835 pela comunidade negra na Bahia conhecida como Revolta dos Malês. Partindo da premissa de que as revoltas populares apresentam um caráter questionador da sociedade, na maioria das vezes excludente de parcelas significativas da população, principalmente na História do Brasil Império, visto que a escravidão era força motriz da economia brasileira, busca-se neste trabalho analisar a importância dada ao tema na historiografia, quais os principais objetivos que levaram ao levante, como se deu a revolta e qual a relevância desta nos movimentos populares na história do Brasil. Outro aspecto relevante para o ensino da Revolta dos Malês é discutir como esse movimento se apresenta nos livros didáticos em sala de aula e a figura do negro na conjuntura histórica analisada.

Palavras-chaves: Escravidão. Revolta. Islamismo. Livros didáticos. Educação.

  1. INTRODUÇÃO

Nossa sociedade atual, infelizmente, ainda é marcada pela discriminação e preconceito contra negros. As lutas sociais que estes enfrentam são as responsáveis pela crescente afirmação desta parcela na contemporaneidade.

Temas como política de cotas, discriminação em ambientes de trabalho e preconceito racial ainda permeiam a mente de muitas pessoas, seja para o bem ou para o mal. Parte defende os direitos da comunidade negra, visto que ainda temos “dívidas” a saldar por conta dos mais de trezentos anos de escravidão de negros africanos. Outros, simplesmente se calam frente a esses

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debates, alegando que discriminação racial é um tema “medieval” e não faz parte mais de nossa sociedade.

Entretanto, esses assuntos estão na ordem do dia e a comunidade negra ainda precisa lutar e se afirmar na sociedade.

Essas lutas não são um fenômeno atual, permeiam a nossa história desde que Portugal iniciou nosso processo de colonização, onde não somente os negros escravizados, mas também as parcelas populares ficaram à margem da sociedade, sempre excluídos das principais decisões políticas e econômicas.

A discriminação, a exclusão e o preconceito que o povo sofria principalmente os negros, devem ser analisados de acordo com as características de cada contexto histórico e organização social, onde o negro era tratado apenas como mais uma mercadoria a ser comercializada, sem direito nenhum, quase um inumano, ocupando o mais baixo grupo da sociedade e tratado como um ser inferior em todos os aspectos possíveis.

Contudo, mesmo ocupando a mais baixa camada da pirâmide social, isso não significa que houve luta por justiça social e mudança de vida. Se a luta de classes é o motor da história segundo as teorias marxistas, ampliar a gama de trabalhos que buscam a dicotomia negro/escravo e senhor nos leva a afirmar a importância das lutas sociais empreendidas por estes e como elas foram o caminho para a afirmação da comunidade negra em nosso país, destacando mais uma vez o papel marginal relegado ao negro na história e a constante vontade de mudança deste.

As revoltas populares não foram muitas, ainda mais revoltas levadas a cabo pela comunidade negra, porém, existiram. Cada uma delas inserida em seu contexto específico. Mas a amálgama de todas sempre foi à questão da justiça social e igualdade, palavras que parecem estranhas em uma sociedade escravocrata e mesmo após a abolição, não figurava no jargão das elites brasileiras.


Sendo assim, busco neste artigo apresentar quais os principais aspectos relacionados a um evento específico e de cunho popular, a Revolta dos Malês de 1835, levante feito pelos negros da Bahia.

A Revolta dos Malês tinha como principais reivindicações o fim da escravidão africana, o fim da imposição dos costumes católicos e a independência política dos negros muçulmanos, chamados de malês. Esse evento, deixado por muito tempo de lado por parte da nossa historiografia, possui características muito particulares, que o tornam especial para o a compreensão das manifestações populares de nossa história.

Outra questão que se coloca nesse trabalho é a figura do negro e do próprio levante nos livros didáticos.

Com material de referência e um dos mais utilizados em sala de aula, o livro didático se apresenta como o texto que mais os alunos entram em contato no período escolar.

Sendo assim, esses livros devem ser criticados à luz dos mais recentes trabalhos historiográficos que destacam a relevância da atuação dos “vencidos” dentro dos processos históricos.

Livros didáticos que apresentam somente a visão e as perspectivas dos “heróis” da história ou colocam esses personagens como os únicos responsáveis pela história nacional acabam por excluir a participação das camadas populares da sociedade e contribuindo para que os alunos não se enxerguem como seres históricos e responsáveis pela transformação social.

  1. A REVOLTA DOS MALÊS

2.1 ISLAMISMO

O termo Islamismo foi criado recentemente para designar a civilização e a religião muçulmana. Esse vocábulo vem sendo utilizado por grupos que se


identificam como “islamitas”, que visam manifestar suas tendências e práticas religiosas mais antigas do Islã.

O Islã é o termo que melhor se aplica à religião árabe fundada por Maomé no século VII. A palavra Islã significa submissão, submissão esta a Alá, seu deus único e onipotente.

Nascida na cidade de Meca pela pregação de Maomé, a doutrina islâmica está escrita no seu livro sagrado, o Corão, que contém o pensamento e os ensinamentos do profeta, embora não tenha sido escrito por ele. Desde sua fundação, o Islã se expandiu pelo mundo, onde atualmente abriga muitos seguidores na Ásia, África e em menor grau na América e Europa.

Alá não se trata do nome pessoal e sim da palavra árabe que significa “deus”. A característica monoteísta do Islã é fortemente observada entre seus seguidores.

Maomé atacou com veemência o politeísmo dos árabes. Ele ressaltou, assim como fizeram os judeus e cristãos, a crença num só deus, que é criador e juiz. Esse deus criou o mundo e tudo que nele há, e no último dia irá trazer todos os mortos de volta à vida para julgá-los.” (GAARDER 2000).

O ataque mais profundo de Maomé contra o cristianismo, que revela sua observância em relação às práticas monoteístas, aconteceu quando se dirigiu à Trindade, que segundo Maomé é a quebra do monoteísmo puro.

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