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Eu, as escolas e o letramento: um breve relato.

Por:   •  4/4/2022  •  Trabalho acadêmico  •  2.782 Palavras (12 Páginas)  •  57 Visualizações

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CENTRO DE EDUCAÇÃO – CE

Dayana Ramos Bezerra da Silva

Eu, as escolas e o letramento: um breve relato.

Recife

2021

Dona de casa, microempreendedora, estudante, dona de casa e acima de tudo, mãe. Me chamo Dayana Ramos Bezerra da Silva, tenho 23 anos e moro atualmente com meu esposo e meu filho no bairro do Ibura, um dos maiores e mais carentes bairros da cidade de Recife. Venho de uma família simples e humilde, onde a educação sempre foi prioridade, sendo ela escolar ou não escolar. Os meus pais não concluíram a educação básica, então em certo momento eles não conseguiam auxiliar eu e meu irmão nas atividades escolares, mas sempre fizeram de tudo para que nós concluíssemos os nossos estudos. Infelizmente, não tive em casa referenciais de leitores, meus pais não tinham o hábito de ler livros, jornais, ou revistas.

Não fiz pré-escola, pois na época, meus pais não tinham condições financeiras para arcar com os custos da educação escolar infantil, e de acordo com minha mãe, não havia nas proximidades da minha moradia, uma creche ou outra instituição pública que atendesse às crianças pequenas. As minhas primeiras experiências com a educação formal foram no local onde meu irmão praticava aulas de reforço, quando algumas vezes frequentei o local para passar o tempo e permitir que minha mãe cuidasse melhor dos afazeres domésticos. Eu até tenho uma breve lembrança do espaço, lembro-me que era um ambiente simples, as paredes eram preenchidas com atividades dos alunos e algumas figuras de objetos.  De acordo com minha mãe, eu adorava passar as horas naquele lugar, me sentia gente grande como meu irmão, e implorava para ir à escola, quando via meu pai ir levá-lo com sua incrível bicicleta vermelha.

Quando finalmente chegou a minha vez, o grande dia, o dia em que finalmente eu iria para a escola, fiquei numa felicidade só (coisa que durou bem pouco). As lembranças desse momento são tão fortes que consigo lembrar até das folhas de tamarindo caídas pelo chão de alguma rua que fazia parte do trajeto entre a minha casa e a escola. No “Paulo Sexto”, nome da primeira escola que estudei, minha experiência foi muito breve e as poucas recordações que tenho de lá, incluem um garoto chato que me fazia chorar por tomar a força o meu lanche, é disso que me lembro: choro e muito desespero.

Nessa primeira escola, só frequentei alguns meses, pois pouco tempo depois da minha matrícula, os meus pais se separaram. A instabilidade desse período de separação durou algum tempo, até que minha mãe conseguiu me matricular em uma outra escola da rede privada, cujo qual não recordamos o nome. Nessa escola, minha passagem também foi muito breve, tão breve que nem tenho memórias de lá. Após um período conturbado entre idas e vindas da casa de minha mãe e da casa de meu pai, minha mãe me matriculou na chamada Escola Municipal Ibura de Baixo, foi nessa escola que estudei todo meu Ensino Fundamental I.

 Por não concluir a antiga alfabetização nas escolas anteriores, cheguei na Municipal Ibura de Baixo e fui matriculada novamente na alfabetização. Não me pergunte como (pois não lembro), mas sim, eu já estava alfabetizada e a professora, chamada Fernanda, dizia que eu era a melhor aluna da turma. A sala de aula era toda decorada com letras maiúsculas e minúsculas, todos os dias a professora nos fazia repetir o alfabeto em voz alta, coisa que eu achava muito chato. A docente costumava utilizar métodos tradicionais para alfabetizar a turma, praticamente todos os dias fazia ditado de palavras, junção de sílabas simples, decodificação de signos, memorização de sons e cópias. Durante as atividades, como eu já era alfabetizada, a professora me pedia para ajudá-la com as outras crianças, passando de carteira em carteira ajudando os meus colegas na resolução e leitura das atividades propostas.

Da alfabetização, recordo também do livro de língua portuguesa de capa marrom, suas lindas ilustrações e seus longos textos, um deles me fez até chorar durante a “atividade de casa”, pois eu me recusava a ler um texto tão grande daquele, a minha curiosidade se resumia às ilustrações que o livro trazia e não às letras, ainda que já soubesse ler. Segundo Kleiman (2000, p.) “é na escola, agência de letramento por excelência de nossa sociedade, que devem ser criados espaços para experimentar formas de participação nas práticas sociais letradas[...]”, mas infelizmente não lembro de eventos de letramento envolvendo rodas de leitura, contação de histórias, gêneros de tradição oral, trabalho com diferentes gêneros textuais ou alguma outra atividade que nos incentivasse a interagir com a leitura e a escrita dentro e fora do contexto escolar. 

Do que chamávamos de primeira, segunda e terceira série do ensino fundamental, tenho algumas lembranças que misturam-se entre os três anos que cursei essas séries, e ainda guardo em uma pequena pasta com algumas atividades que foram duplicadas naquelas copiadoras à base de álcool. Nesse período eu já costumava ajudar a minha mãe com atividades que envolviam a leitura e a interpretação de textos, como a medida exata de água oxigenada para o tudo de tinta ou para registrar as receitas culinárias que passava na TV.

Na terceira série, o que os alunos mais ansiavam (e outros temiam) era ir para a próxima série, pois o professor era um P.R.O.F.E.S.S.O.R. A feminização do magistério, resultou na grande maioria do corpo docente da educação primária ser composto por mulheres, fato que se estende até os dias atuais (GALLEGO, et al, 2014). Então o fato de o docente ser do sexo masculino nos causava certa estranheza. Apesar de ser o único do sexo masculino a fazer parte do meu ensino fundamental I, o professor, chamado Klaus, foi um dos professores que mais marcaram a minha trajetória escolar.

Klaus era um desses profissionais que despertam a curiosidade das crianças e as impulsionam a querer descobrir e aprender. Mesmo com todo aquele jeito de durão, onde alguns dos meu colegas se sentiam intimidados por ele, de alguma forma ele me cativou. Suas aulas, para mim, eram mágicas, principalmente as aulas de língua portuguesa e de história. Ele costumava a usar diferentes gêneros textuais como jornais e revistas para chamar a nossa atenção e fazer com que todos nós se envolvesses em suas dinâmicas. Ainda que timidamente, foi na quarta série que o letramento foi sendo inserido em minha vida.

Para além da escola, nesse período também, recordo-me dos meus registros feitos nos diários (no plural porque tive vários) costumava passar horas escrevendo sobre o meu cotidiano, sobre amizades e também sobre as paquerinhas da escola. Escrever era uma das coisas que mais amava fazer, era uma atividade diária e eu adorava fazer isso. Fazia questão de deixar tudo organizadinho, sem erros ortográficos e sem borrões.

Quando mudei novamente de escola novamente, para cursar o ensino fundamental II, estava no auge da minha timidez e nessa fase comecei a ter que apresentar oralmente os trabalhos para toda a turma, o que me deixava nervosa, pois eu tinha uma extrema dificuldade em expor as atividades em público, consequência da falta de atividades envolvendo a oralidade no fundamental I.

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