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O Medo Social

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Por:   •  22/12/2013  •  3.816 Palavras (16 Páginas)  •  364 Visualizações

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"Uma Desconstrução da problemática das Drogas na atuação do Psicólogo”

Junho 2010- Anita Vaz

“Ser terapeuta é devolver para o outro a pró-cura de si mesmo”

A partir de um semestre inteiro de discussões e atividades nesta eletiva temática na qual se abordou o tema drogas creio que devo começar este texto com a constatação mais do que clara que existem drogas e drogas, usuários e usuários, aos quais os modelos predominantes de prevenção nesta área vem se apresentando mas que pouco se preocupam em voltar-se para estes usuários como sujeitos capazes de levar uma vida própria, mas sim como grupos estigmatizados e classificados por critérios pouco consistentes no que concerne de fato a vida singular de cada um. Neste sentido, percebi a importância de ser realizada uma desconstrução deste tema tão estigmatizado pela mídia, desconstrução esta que dá para nós estudantes de psicologia novos sentidos de visão e atuação na área de Uso de Drogas e Prevenção. Procuro fazer aqui um esboço desta desconstrução feita em sala de aula, sinalizando os pontos que mais me chamaram a atenção e contribuíram para que eu me voltasse a questão das drogas de uma maneira mais ampla.

O trajetória das aulas na disciplina contribuiu para que se criasse um terreno no qual fosse possível iniciar a desconstrução olhando para as diferentes problemáticas da questão em relação principalmente a área da Psicologia. Nas aulas iniciais, sob o acompanhamento do livro “Uso de drogas e Prevenção” pude me familiarizar um pouco não apenas com a definição do conceito de droga mas principalmente com a questão dos modos de uso possíveis no contexto do contato com a droga. Digo isto porque o tema de drogas para um estudante de Psicologia acaba aparecendo em diferentes disciplinas como exemplos diversos ou digressões pautadas no contexto atual das políticas públicas por exemplo, mas até então para mim sempre foi abordado como algo abrangente visando uma discussão mais social do contexto da droga na sociedade e menos aprofundado nas possibilidades pelas quais o uso pode se dar. Vi que nesta disciplina por termos mais espaço uma vez que o tema proposto era exclusivamente o de Drogas foi válido apresentar os padrões de uso mais estudados – Uso experimental, ocasional, habitual e a Dependência propriamente dita- uma vez que propõe-se um direcionamento para a relação entre o homem e o uso de drogas, que como qualquer relação envolve a complexidade de todos os fatores envolvidos e cercados por suas contingências e decorrências possíveis, sendo articuladas neste caso pela substância(droga), o usuário( sujeito) e o meio social ( contexto). Abordando de forma mais cuidadosa o fenômeno acaba ficando mais que viável incorporar um novo sentido para se lidar com a questão uma vez que fica claro que de fato o “dependente” não é um tipo de pessoa nem tão pouco insere-se um contexto previamente determinado mas se dá como uma condição inserida dentre a inter-relação de fatores uma vez que sejam considerados e compreendidos os padrões de uso para com a substância.

Em relação a estes padrões de uso apresentados creio que o que ficou para mim de mais impactante e que acompanhou o restante das aulas durante as discussões foi as considerações a respeito da autonomia do sujeito em relação a sua condição, no caso, envolvendo a droga. Isto porque pelo menos pra mim pareceu que era esta a variável mais evidente que discriminava um padrão do outro: a autonomia ou não que o sujeito mantém sobre si mesmo uma vez envolvido com a droga. Acho que entrar em contato com a questão da autonomia e do cuidado de cada um para consigo próprio é para nós estudantes de Psicologia um parâmetro mais que relevante ao lidarmos com o outro, enquanto sujeito. Neste sentido, creio que as discussões a respeito dos antigos e atuais modelos de prevenção me serviu de base para esclarecer de fato em que “crença” cada modelo parece se basear, seja explicitamente seja pelos interesses alheios à área de saúde, que como foi dito e discutido em sala são não são poucos e nem tímidos. Articular portanto o modo como a sociedade enxerga e age diante da questão das drogas com os tratamentos mais comumente realizados serve de base para uma ampla discussão de como esta sociedade se constrói e se mantém, e qual é o espaço do sujeito nesta sociedade o qual de fato precise de ajuda quanto a uma situação de dependência.

A partir de uma discussão trabalhada em sala a respeito pressupostos teóricos do Modelo Proibicionista na área de drogas- “É possível um mundo sem drogas” e “O uso de drogas, invariavelmente, acarreta uma patologia”- fica evidente o distanciamento daqueles que propõem este modelo ou trabalham em função dele para com a condição propriamente dita do sujeito que apresenta complicações em sua vida com o uso da droga. O primeiro pressuposto pode ser questionado primeiramente a partir do histórico das drogas na humanidade. Sabe-se que deste a Antiguidade o homem sempre se relacionou com as drogas de diferentes maneiras, não apenas para fins de diversão- como mais se vê hoje em dia- mas por conta também de aspectos culturais, relacionados com a maneira como cada sociedade se organizou. Tendo como definição de droga “substâncias que modificam o estado de consciência do usuário e cujos efeitos podem ir desde uma estimulação suave até perturbações na percepção do tempo, do espaço e de si próprio”(Seibel e Toscano, 2001) é possível relacionar então o conceito de Vulnerabilidade apresentado em aula sob o viés da Fenomenologia, pois ele encadeia um raciocínio bastante proveitoso para entender onde se situa a abertura do homem para a possibilidade de vir a usar drogas. Partindo da compreensão Fenomenológica busco aqui expor um pouco mais o que ficou para mim deste conceito de Vulnerabilidade e como ele serve de base para que seja questionado o pressuposto proibicionista que pouco se aproxima da condição existencial dos usuários.

No mundo ôntico a aparência engana, a manifestação dos fenômenos se mostra e se esconde concomitantemente. O método representativo, sustentado pelo positivismo, conseguiu estabilizar a manifestação dos fenômenos, seja facilitando-os seja simplificando-os, mas com isto pagou-se caro pois perdeu-se a relação com os entes, de forma a perder também a natureza singular de cada fenômeno. A representação dá a ideia de uma “permanência” que ofusca o fenômeno. De modo que às ciências positivistas ficam atrelados os ideais de “controle” e “solução” para com situações que como no caso

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