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Resenha do Filme: Hoje quero voltar sozinho

Por:   •  20/2/2018  •  Trabalho acadêmico  •  1.302 Palavras (6 Páginas)  •  691 Visualizações

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ANÁLISE DO FILME “HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO”

O filme “Hoje eu quero voltar sozinho” foi escrito e dirigido por Daniel Ribeiro (2014) e retrata a dificuldade no dia-a-dia do personagem Leonardo, um adolescente com deficiência visual. Além da temática da deficiência, estão presentes no filme conflitos relacionados à homossexualidade e ao bullying. Leonardo tem que lidar diariamente com colegas de classe da escola que praticam o bullying, com outras questões ligadas a deficiência e a superproteção da sua mãe. No longa, o personagem tem o apoio de Giovana, sua melhor amiga e de Gabriel, um novo colega de sala com quem terá um romance. E diante desse contexto, é possível analisá-lo a partir de alguns conceitos da Psicologia Comunitária e pensar em uma possível ação interventiva de uma psicóloga comunitária.

A psicologia comunitária de acordo com Góis (1993 citado em Campos, 1996) “é a área da psicologia social que estuda a atividade do psiquismo decorrente do modo de vida do lugar/comunidade” (p.11). Essa área tem como principal objetivo desenvolver a consciência dos moradores como sujeitos históricos e comunitários, onde se pode verificar como se dá as relações desses sujeitos bem como suas representações sociais, identidade, níveis de consciência e pertinência na comunidade e nos grupos.

Nesse campo de estudo, comunidade pode ser concebida como um exercício da comunicação livre onde todos participam com igual poder, sendo uma categoria orientadora pela ação e reflexão, que tem seu conteúdo influenciado pelo contexto na qual os indivíduos estão inseridos. (Sawaia, 1996) E esse fenômeno se dá, de acordo com o filósofo Tönnies, por uma participação profunda dos membros no grupo, onde são colocadas em comum as relações primárias, como o próprio "ser", a própria vida, o conhecimento mútuo, a amizade, os sentimentos. (Freitas, 1996).        

A ética da solidariedade, direitos humanos e a busca da qualidade de vida para as populações menos favorecidas fazem parte do enfoque da psicologia social comunitária, onde os trabalhos comunitários partem do levantamento das necessidades e carências vividas pelo grupo no que se refere às péssimas condições de saúde, educação e saneamento básico.  (Bomfim, 1978, citado em Campos, 1996, p. 11) E a partir de métodos e processos de conscientização os psicólogos comunitários procuram trabalhar para possibilitar o desenvolvimento de autonomia para que esse sujeito assuma seu papel dentro da sua própria história de vida, bem como no processo ativo de busca por soluções para problemas enfrentados.         

Diante contexto teórico, é possível analisar a cena, onde Leonardo está digitando a tarefa dentro da sala de aula e alguns alunos começam a zombar do barulho feito pela máquina de escrever em Braille, e pensar numa atuação de um Psicólogo Comunitário. Nessa cena, a professora intervém e pede para um desses alunos sentar em um lugar que está vago atrás de Leonardo, a fim de separá-lo do outro amigo que juntamente com ele estava zombando. O aluno se nega e em seguida menciona que se recusa a fazer isso, pois não quer ficar fazendo “favorzinho” para Leonardo já que ele “não faz nada sozinho”.

É interessante pensar uma ação interventiva psicológica, frente à questão da exclusão de pessoas com deficiência e à necessidade de conscientização, presente na cena descrita, juntamente com a instituição escolar, além da colaboração da comunidade e família de Leonardo. Dessa forma, como afirma Nasciutti (1996), é imprescindível pensar as relações entre instituições e comunidade, uma vez que a instituição pode ser tida como um campo de pesquisa e ação sobre a comunidade, onde o psicólogo poderá promover momentos de diálogo, reflexão e transformação acerca do modo como a comunidade tem se relacionado e se preocupado com as pessoas com deficiência e suas necessidades.  

Sobre isso Campos (1996), ao tratar das relações entre comunidade, cultura e consciência, vai trazer reflexões acerca de como teorias construídas pela psicologia social podem se aproximar das práticas da psicologia comunitária principalmente no que se refere ao processo de conscientização. Isso se dá na medida em o psicólogo que atua na comunidade se preocupa com problemáticas relacionadas ao convívio e diálogo “(...) em grupos de diferentes inserções sócio-culturais e com histórias diversas (...)” (p.164), que é o caso, no filme, do grupo da comunidade que não possuem muito ou nenhum contato com pessoas deficiência, que ajudam na reprodução e manutenção de discursos excludentes e preconceituosos, dentro da escola, e do grupo constituído por pessoas com deficiência e por pessoas mais conscientes a respeito desse modo diferente de ser no mundo em relação com os outros, que muitas vezes é marginalizado.

Dentre essas teorias, de acordo com Campos (1996), é possível apontar a abordagem sócio-interacionista, que considera a interação social como base para a elaboração do conhecimento. Vygotsky emerge como o primeiro psicólogo a pensar nessa produção de conhecimento mediante as relações, que, portanto, se dá primeiro a nível social e somente depois a nível individual por meio da internalização da cultura, mediada, por sua vez, por elementos culturais criadas pela atividade do homem e pela linguagem.  Nessa perspectiva o homem é visto como ser ativo e passivo no processo de transformação social o que implica em duas necessidades ao psicólogo, no estudo da vida em comunidade: “conhecer a cultura local e contribuir para a construção de novos significados através da interação” (p.170).        

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