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Sobre O Atendimento Psicanalítico Ao Surdo Oralizado E Sua Família: Dificuldades E Possibilidades

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Por:   •  8/9/2014  •  2.296 Palavras (10 Páginas)  •  412 Visualizações

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Sobre o atendimento psicanalítico ao surdo oralizado e sua família: dificuldades e possibilidades

Lêda Jucá

Círculo Brasileiro de Psicanálise, seção Rio de Janeiro

RESUMO

As contribuições teóricas – de Piaget a Freud – para as dificuldades encontradas no atendimento de crianças surdas em processo de aquisição da linguagem oral. Por que a oralização é tão necessária á construção da subjetividade? Como a Psicanálise pode atender novas demandas e novos tipos de clientes.

Palavras-chave: Surdez, Oralização, Criança, Família.

INTRODUÇÃO

A criança com perda auditiva, que tem atendimento fonoaudiológico na época adequada visando sua oralização, terá alta normalmente aos 9-10 anos de idade quando apresentará bom nível no uso da linguagem oral tendo apenas o vocabulário menos extenso que o do ouvinte, sendo necessárias leituras constantes para enriquecimento desse. A partir daí essa criança pode submeter-se a terapia psicanalítica, pois seu desenvolvimento intelectual estará de acordo com sua idade cronológica, a defasagem transparecendo apenas no desenvolvimento emocional pelos aspectos psicológicos diferenciados (tendência à rebeldia, insegurança, hiperatividade, pouca assertividade, dificuldade de abstrair, etc).

Contudo, algumas crianças surdas apresentam, como dito anteriormente, problemas na aquisição da linguagem oral devido a dificuldades de inicialmente simbolizar e posteriormente usar recursos lingüísticos como a metáfora.

Estas crianças necessitam de atendimento psicológico adequado para vencer tais dificuldades (como veremos a seguir), concomitantes ao atendimento fonoaudiológico.

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA FORMAÇÃO DO SIMBÓLICO PARA PIAGET E SUA APLICAÇÃO À TERAPIA COM CRIANÇAS SURDAS

A importância do brincar, do faz de conta, torna-se premente na criança com perda auditiva, pois a falta de audição impede que perceba as alterações da voz, timbres, mudanças de tonalidades, malícias, etc, o que a deixa à margem da comunicação subjetiva. Dessa maneira, sua própria vivencia de como lidar com fatos através dos brinquedos dá-lhe uma segurança maior no trato com a realidade, fazendo com que vivencie à sua maneira suas dificuldades e desejos em relação aos outros. Além disso, o trabalho em cima do brinquedo dá novo impulso à fala, pois prepara o intelecto da criança para o uso dos símbolos expressos por palavras, ou seja, o acesso à linguagem oral.

Brincar, para a criança com perda auditiva é o recurso que encontra não só para desenvolver o simbolismo como para entender o mundo que a cerca.

O brincar torna-se sua forma natural de lidar com o mundo, para entender suas regras e exigências sociais, porque não encontra muitas vezes respostas para seus questionamentos, pois seu vocabulário ainda é precário, enquanto o da criança ouvinte é rico, pela diferença na possibilidade de ouvir.

Além disto, citando A. Stern, “a imaginação é mais importante que o conhecimento” e na criança com perda auditiva é imprescindível trabalha-la para que amplie a capacidade de sonhar, condição essencial a um desenvolvimento psicológico saudável e a potencialização de sua criatividade e do fantasiar.

Para Piaget (1978) nos primeiros meses, o bebê esforça-se por transformar e acomodar-se às situações, e este esforço sempre sobrepuja seu prazer em alcançar seus objetivos. Para entendermos isso, basta lembrarmos o esforço do bebê, em seus primeiros meses de vida, ao tentar alcançar algum objeto que o atrai, esforço este que muitas vezes não é recompensado, já que seu controle motor ainda está pouco desenvolvido.

As primeiras ações de bater, jogar e empilhar são chamadas brincadeiras de exercício motor. À medida que consegue adquirir e pode repetir o gesto (alcançar o objeto e leva-lo à boca ou bater com ele para fazer barulho, por exemplo) passa a repetir o gesto, aprimorando-o, sendo capaz, agora, de automaticamente esticar a mão, pegar o objeto e leva-lo à boca ou bater.

Podemos dizer, então, que essas ações adquirem o aspecto lúdico no momento em que a criança utiliza o que já aprendeu para tirar satisfação disso. É um aprimoramento, não mais um desafio. Após essa conquista, aparece o brincar imitando as ações dos outros, tais como passar o pente no cabelo, tentar comer só, tentar ensaboar o próprio corpo.

O passo seguinte é a imitação de situações já vividas através de objetos reais ou miniaturas. É o faz de conta ainda bem elementar, pois está preso à própria criança e aos objetos que comumente usa: faz de conta que bebe na mamadeira, faz de conta que come com sua própria colher, etc.

Até que, finalmente, a criança começa a perceber o “outro” e a aplicar suas ações sobre ele: pentear o cabelo da mãe, dar banho no seu ursinho, etc. Até aqui, a criança percebe o “outro”, mas não se dá conta que este tem sentimentos.

Isso só acontecerá na fase seguinte quando reconhece seus parceiros no brincar como alguém ou algo passível de emoções e logo passa a ser capaz de planejar ações com início, meio e fim e, conseqüentemente, há o aumento do tempo de brincar, porque se estabelece a ordem e o ritmo.

O aprimoramento dessa fase é a capacidade do domínio do símbolo, da simbolização: a criança é capaz de criar, em sua imaginação, o objeto, mesmo que este não esteja ali presente. Um exemplo disso se dá quando a criança finge ter uma piscina e entra nela, batendo mãos e pernas no movimento de nadar. Aqui o brincar independe da presença do objeto e os gestos e palavras criam a situação imaginária e a mantém. A parti daí, segundo ZORZI:

Partindo da simbolização elementar daquilo que vivência no seu dia-a-dia a criança caminha no sentido de diferenciar papeis, inventar situações e personagens novos, coordenar suas brincadeiras com as dos outros, dividir papeis com outras pessoas, criar roteiro, planejamento uma dramatização, até chegar a marcar a situação de brinquedo com a invenção de regras, criadas e aceitas por todos. (ZORZI, 1993).

Podemos dizer que a linguagem está estabelecida quando a criança fala além do que está vendo. Quando conta, por exemplo, uma situação vivida momentos antes com uma amiguinha ou como passou o fim de semana em sua casa de praia. Na criança com perda auditiva, mesmo as que não apresentam dificuldade em adquirir a linguagem oral, esse processo se dá mais lentamente, pois sua aprendizagem necessita ser estabelecida, inicialmente,

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