A Biossegurança

                                                                        Marco Aurélio Santana

                                                                        Biossegurança        

Breve resenha do fato reproduzido pela reportagem.

Com a mudança do endereço de uma clínica médica, a inobservância da retirada de algumas máquinas e materiais potencialmente perigosos, causa a curiosidade de dois amigos que adentram essa antiga dependência. Um dos equipamentos, utilizado para radioterapia, chama a atenção de um deles pelo porte e peso, e decidem retirar do local essa máquina com intenções financeiras.

Mesmo antes da comercialização, os efeitos do césio 137, material altamente radioativo extraído do dispositivo hermeticamente fechado, já manifestavam seus sintomas nos amigos, causando diarreia, fraqueza, manchas no corpo, queda de cabelo, entre outros. Após a negociação concluída com um dono de ferro velho, todo material ficou exposto para curiosos da família e amigos que, deslumbrados pelo acentuado brilho azulado, aumentaram exponencialmente a exibição do exuberante material. Os agravos na saúde de uma das crianças que entraram em contato com o material, faz com que sua mãe o entregasse em um hospital, certa de que “aquilo” estava causando um enorme mal a sua família.

Vários profissionais manusearam, até que um médico, desconfiado que a peça continha material radioativo, contatou um físico da secretaria de saúde, que por sua vez, aferiu elevados índices de radioatividade na família. Após o fato reportado aos principais órgãos de controle, o governo do Estado decretou uma operação de emergência. A defesa civil e os bombeiros removeram as vítimas do local para um estádio. Uma triagem separou os que poderiam ser dispensados daqueles que precisavam de maiores cuidados. Os locais mais afetados foram isolados, e as vítimas tiveram bens confiscados para destruição e descarte. Vários moradores, e também o Estado, como um todo, ficaram com marcas claras de discriminação.

 As vítimas fatais foram enterradas em locais apropriados, longe dos cemitérios. Os afetados, vítimas não fatais, tiveram morte psicológica, por depressão e isolamento social. O governo do Estado e o órgão fiscalizador, foram condenados a pagamentos de indenizações. Os responsáveis pela clínica foram presos. Todo lixo radioativo ficou durante muito tempo ao ar livre, e maiores providências foram tardiamente tomadas. Muitas casas foram demolidas, e inúmeras vítimas não tiveram o tratamento adequado da saúde pública quanto aos efeitos causados pelo acidente. O resgate da cidadania dessas pessoas, ainda, é uma problemática social.    

Aspectos não observados da Biossegurança:

1 - O equipamento de radioterapia foi abandonado na antiga clínica médica, quando da sua transferência para outro endereço. O descarte inadequado causou consequências graves à população goianiense que ficou exposta à radiação;

2 – Ficou claro, também, que o órgão fiscalizador não foi efetivo em suas atribuições quanto a Biossegurança, pois pelo que consta na reportagem, mesmo que abandonada no local, a máquina estava acessível. Bloqueios ou barreiras não resguardavam o material potencialmente perigoso;