Citizen Kanebr
Resenha: Citizen Kanebr. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: murure • 17/9/2013 • Resenha • 1.336 Palavras (6 Páginas) • 246 Visualizações
Kirkpatrick Sale. Inimigos do futuro. A guerra ludista contra a revolução
industrial e o desemprego. Rio de Janeiro, Editora Record, 1999.
Publicada originalmente no Jornal do Brasil, Caderno Idéias, 13 de julho de 1999, p. 6.
Jorge Ferreira
Muitas vezes preocupados com o presente, os historiadores voltam-se para
estudar certos episódios do passado. Os exemplos são vários e basta lembrar que
durante o regime militar diversos estudos surgiram sobre o Estado Novo varguista, bem
como após a eclosão das greves no ABC paulista, em 1978, muitas pesquisas trataram
dos anarquistas, na Primeira República. É dessa maneira que Kirkpatrick Sale,
historiador do PEN American Center, escreveu Inimigos do futuro. A guerra ludista
contra a revolução industrial e o desemprego, publicado pela Editora Record. Sem
esconder suas inquietações como o acelerado avanço tecnológico neste final de
milênio, Sale volta no tempo e recupera as lutas dos ludistas ingleses, no início do
século passado.
Mas quem eram estes homens que negavam radicalmente o progresso
industrial? Na Inglaterra, em fins do século XVIII, na mesma área em que surgiram as
histórias sobre o lendário Robin Hood, viviam cardadores, tecelões, alfaiates, artesãos,
ferreiros, entre outros, que moravam em casinhas distribuídas por várias aldeais. O
pequeno comércio garantia a distribuição de alimentos e meios necessários à vida. No
entanto, muito depressa, multidões de homens e mulheres, pobres, mas dignos,
tiveram que lidar com o aparecimento de máquinas complexas alojadas em prédios
imensos. Toda a ordem social baseada nos ofícios, nos costumes tradicionais e na vida
comunitária cedeu lugar à sociedade industrial e a tecnologias que lhes escapavam à
compreensão. Acostumados aos princípios morais de "ganhos honestos", traduzidos
em "boas mercadorias por preços justos", eles ainda não conheciam o significado do
lucro capitalista.
Suas terras foram tomadas pelos novos ricos e, sem o que fazer no campo,
aldeões, arrendatários e posseiros rumaram para as cidades. De pobres dignos
transformando-se, da noite para o dia, em miseráveis, mendigos e prostitutas. Os que
conseguiram empregos nas fábricas recebiam salários insuficientes até mesmo para a
alimentação. Limitavam-se a comer pão, mingau de aveia e nabos. Homens, mulheres
e crianças se submetiam a uma jornada de trabalho de 16 a 18 horas por dia. Com
ruído ensurdecedor, temperatura elevada e enevoada por fumaça, as fábricas se
tornaram um abatedouro humano devido, sobretudo, aos acidentes de trabalho. Para
piorar, as novas tecnologias ainda lhes roubavam os poucos empregos existentes.
Uma atividade que necessitava do trabalho de 27 homens passou a exigir, com a
invenção de máquinas mais sofisticadas, o trabalho de apenas 2 crianças. O
liberalismo político e econômico apoiava e legitimava o industrialismo, permitindo lucros
altíssimos aos empresários e acuando os trabalhadores. Os sindicatos eram proibidos
por lei. A ideologia do laissez-faire, desde seus primórdios, nunca foi imparcial
A Revolução Industrial inglesa, no entanto, não se satisfez em degradar os
seres humanos: em nome do progresso, dilapidou, igualmente, a natureza. Em poucos
anos, os rios foram completamente poluídos e o ar tornou-se irrespirável. Devido à
poluição, a cidades se transformaram em lugares infames, com ar fuliginoso e
enegrecido, os rios se tornaram verdadeiras lixeiras, enquanto 95% dos bosques foram
derrubados. "Estamos em guerra contra a natureza", declarou Carlyle nessa época. Um
relato oficial dizia que "a água da chuva é igual a tinta".
Diante do caos cultural, da destruição de rios e bosques, de uma ordem
econômica opressiva e de uma sociedade geradora de injustiças e misérias, os
trabalhadores se revoltaram. Inicialmente, eles elegeram como líder um tal de Ned
Ludd, figura imaginário que remonta à antigüidade. Os manifestos de protestos eram
assinados pelo "General Ludd", da "Caverna de Robin Hood" ou do "escritório de Ned
Ludd, na Floresta de Sherwood". A associação de Ned Ludd com Robin Hood,
portanto, não era casual, e falava de noções de justiça e injustiça presentes na cultura
popular. Utilizando o estratagema das cartas anônimas, eles ameaçavam os industriais
com represálias se insistissem em utilizar máquinas e a explorar os trabalhadores.
Entre 1811 e 1812, os ludistas entraram em ação, destruindo maquinarias, prédios
industriais, propriedades, causando prejuízos astronômicos e ameaçando o deslanchar
a Revolução Industrial inglesa. A tática era a mesma em várias regiões: à noite, um
grupo de homens armados com grandes martelo, machados e pistolas
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