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O Amor é Uma Falacia

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Por:   •  8/9/2014  •  780 Palavras (4 Páginas)  •  474 Visualizações

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Eu era frio e lógico. Sutil, calculista, perspicaz, arguto e astuto — era tudo isso. Tinha o cérebro poderoso como um dínamo, preciso como uma balança de farmácia, penetrante como um bisturi. E tinha — imaginem — só 18 anos. Não é comum ver alguém tão jovem com um intelecto tão gigantesco. Tomem, por exemplo, o caso do meu companheiro de quarto na universidade, Escobar. Mesma idade, mesma formação, mas burro como uma vaca. Um bom sujeito, compreendam, mas sem nada lá em cima. Do tipo emocional. Instável, impressionável. Pior que tudo, dado a manias. Eu afirmo que a mania é a própria negação da razão. Deixar-se levar por qualquer nova moda que apareça, entregar-se a alguma idiotice só porque os outros a seguem, isso, para mim, é o cúmulo da insensatez. Escobar, no entanto, não pensava assim. Certa tarde, encontrei-o deitado na cama com tal expressão de sofrimento no rosto que o meu diagnóstico foi imediato: Apendicite! — Não se mexa. Não tome laxativos. Vou chamar o médico. — Marmota... – balbuciou ele. — Marmota? – disse eu interrompendo minha leitura. — Quero um casaco de pele de marmota – gemeu ele. Percebi que o seu problema não era físico, mas mental. — Por que você quer um casaco de pele de marmota? — Eu devia ter adivinhado – gritou ele, dando tapas nas próprias têmporas. — Devia ter adivinhado que eles voltariam com o a moda boca-de-sino. — Como um idiota, gastei todo o meu dinheiro em livros para as aulas e agora não posso comprar um casaco de pele de marmota! — Quer dizer – perguntei incrédulo – que estão mesmo usando casacos de pele de marmota outra vez? — Todas as pessoas importantes da Universidade estão. Aonde você tem andado? — Na biblioteca – respondi, citando um lugar não freqüentado pelas pessoas importantes da Universidade. Ele saltou da cama e pôs-se a andar de um lado para o outro do quarto. — Preciso conseguir um casaco de pele de marmota. — Preciso! — Por quê, Escobar? Veja a coisa racionalmente. Casacos de pele de marmota são anti-higiênicos. Soltam pelos. Cheiram mal. São pesados, são feios, são... — Você não compreende – interrompeu ele com impaciência. — É o que todos estão usando. Você não quer andar na moda? — Não – respondi sinceramente. — Pois eu, sim! – declarou ele. — Daria tudo para ter um casaco de pele de marmota. Tudo! Aquele instrumento de precisão, meu cérebro, começou a funcionar a todo vapor. — Tudo? – perguntei, examinando seu rosto com os olhos semicerrados. — Tudo! – confirmou ele, em tom dramático. Alisei o queixo, pensativo. Eu, por acaso, sabia onde encontrar um casaco de pele de marmota. Meu pai usara um nos seus tempos de estudante; estava agora dentro de um baú, no sótão de nossa casa. E, também, por acaso, Escobar tinha algo que eu queria. Não era dele, exatamente, mas pelo menos ele tinha alguns direitos sobre ela. Refiro-me à sua garota, Capitu. Eu há muito desejava Capitu. Apresso-me a esclarecer que o meu desejo não era de natureza emotiva. A moça, não há dúvidas, despertava emoções, mas eu não era daqueles que se deixam dominar pelo coração. Desejava Capitu para fins engenhosamente calculados e inteiramente cerebrais. Cursava eu o primeiro ano de Direito. Dali a algum tempo estaria me iniciando na profissão. Sabia muito bem do papel da esposa na vida e na carreira de um advogado. Os advogados de sucesso, segundo

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