Papel Da Arte

DIVERSIDADE CULTURAL: NOVOS DESAFIOS PARA

A GESTÃO ESCOLAR

Elma Júlia Gonçalves de Carvalho

Universidade Estadual de Maringá

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Resumo: As políticas educacionais para a diversidade têm ocupado lugar central nas duas

últimas décadas, expressando o desafio enfrentado por educadores e gestores na construção

de novas práticas pedagógicas e administrativas. Neste texto, na expectativa de contribuir para

esse debate, pretende-se levantar alguns pontos para reflexão. Focaliza-se especialmente o fato

de que a questão ultrapassa o campo da educação e, abrangendo governos e empresas, constitui

uma resposta às novas exigências do capital.

Palavras-chave: diversidade cultural; gestão escolar; políticas educacionais.

INtrodUção

A temática da diversidade cultural tem assumido grande centralidade na política

educacional brasileira atual das duas últimas décadas. Em linhas gerais, almeja-se construir

democracias multiétnicas e promover a paz e a coesão social, por meio da convivência pacífica de

opiniões divergentes, do respeito e valorização da diversidade, cuja visibilidade era obscurecida

pelos chamados discursos dominantes. As minorias e os grupos marginalizados ou socialmente

vulneráveis são valorizadas por políticas públicas compensatórias e ações afirmativas, sob o

argumento da necessidade de compensar ou reparar perversasseqüelas do passado.

Dois aspectos podem ser ressaltados nestas políticas: o respeito à igualdade na diferença

- tratamento igualitário sob o ponto de vista dos direitos humanos e da justiça social e o respeito

à diferença na igualdade – e a individualização de tratamentos.

Tais políticas resultam em novos desafios para educadores e gestores escolares,

especialmente porque têm conduzido à necessidade de repensar o papel da escola. Observamos

que muito pouco tem se discutido sobre a questão da diversidade no campo da gestão escolar e

quealiteraturaemgeraltemabordadoosaspectosrelacionadosaocurrículo,conteúdosepráticas

pedagógica da perspectiva da oposição à homogeneidade, à padronização e à uniformização do

antigo modelo.

Por isso, procuramos, nesse texto, organizar algumas informações ou levantar alguns

aspectos que podem contribuir para o debate. Demonstraremos que a preocupação com a gestão

da diversidade ultrapassa o campo da educação, abrangendo governos e empresas. Em seguida,

identificaremos o que alguns documentos oficiais e artigos de diferentes autores têm priorizado

ao abordar esse assunto. Por fim, teceremos algumas considerações sobre o que não tem sido

levado em conta nessas discussões.

1 Escola e diversidade cultural

O tema da diversidade cultural tem sido abordado contemporaneamente a partir da

perspectiva dos estudos culturais e pós-coloniais, que nascem da problematização dos

conceitos de cultura, sujeito, linguagem e história. Tais abordagens teóricas inscrevem-se na

luta intelectual contra as formas de dominação e de hegemonia do sistema capitalista,

trazendo para o campo de investigação novos objetos de pesquisa, sobretudo as manifestações

culturais das minorias relegadas ao esquecimento, subestimadas ou mal interpretadas pelos

discursos canônicos.

Os fluxos migratórios, o cosmopolitismo das redes e o hibridismo cultural

transformaram o multiculturalismo em um tema não apenas acadêmico, como também uma

questão política com a qual as sociedades se veem obrigadas a lidar. Assim, campanhas em

defesa da tolerância e do respeito à diversidade e políticas afirmativas de inclusão passam a

fazer parte dos programas de governo, afetando diretamente instituições como a escola, que se

*

Mestre em Letras (PPGL UniRitter); professor da FTEC.

** Doutora em Teoria da Literatura. Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Letras UniRitter. Nau Literária • ISSN 1981-4526 • VOL. 06, N. 02 • JUL/DEZ 2010 • seer.ufrgs.br/NauLiteraria

Alex Caiel, Rejane Pivetta de Oliveira. Literatura e Diversidade Cultural na Escola • [página 2/10]

vê obrigada a revisar suas práticas, teorias, métodos e conteúdos de ensino. Exemplo disso é o

cumprimento de leis, como a que estabelece o ensino de história, literatura e cultura africanas

nas disciplinas escolares e, mais recentemente, a que introduz nos currículos o estudo do

Holocausto.

Esse discurso da diversidade cultural, pauta corrente na pedagogia contemporânea,

impõe de fato a necessidade de repensar as instituições de ensino e os aparatos conceituais

que sustentam seus programas de formação – tarefa complexa, que exige muito mais do que

boas intenções. No filme Entre os muros da escola (2008), dirigido por Laurent Cantet,

baseado no romance de