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Shitosoma

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Por:   •  25/3/2015  •  2.813 Palavras (12 Páginas)  •  277 Visualizações

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A história nos mostra que ao invés de existir um processo linear e relativamente simples de transição epidemiológica, no qual as chamadas doenças de pobreza são substituídas pelos males da modernidade, o que se observa é um quadro complexo de alterações, mudanças, adaptações e emergências típicas A relação entre as populações de homens, vetores e agentes etiológicos é bastante complexa e não parece estar no horizonte, para os pró- ximos anos, a miragem de uma vida livre de infecções (Barata, 2000). Entre as doenças decorrentes da “pobreza”, destacamos as parasitárias, ou as parasitoses. Entende-se que parasitismo é apenas um dentre muitos tipos de associação de dois organismos e não há um caráter único possível para rotular um animal como parasita (Wilson, 1980). O parasita obtém alimento às expensas de seu hospedeiro, consumindo-lhe os tecidos e humores ou o conteúdo intestinal, sendo que o relacionamento do parasita com seu hospedeiro tem base nutricional não podendo lesar drasticamente o hospedeiro, evitando altera- ções comprometedoras, o que o faria perder o seu hospedeiro. O parasitismo ideal é aquele que não causa dano ao hospedeiro e, por conseguinte, não provoca doença. Isso é o que acontece com alguns parasitas que, ao longo de milhares de anos, se adaptaram de tal forma aos seus hospedeiros que passaram a viver outro tipo de relação entre dois organismos denominada simbiose. Por volta de 1860, os fundamentos da ciência chamada de parasitologia foram estabelecidos e os parasitas se tornaram então os responsáveis por importantes doenças do homem e dos seus animais domésticos. Apesar de muitos parasitologistas terem qualificações médicas, a parasitologia se estabeleceu como um ramo da história natural na metade do século 19; muitos dos personagens que se distinguiram na parasitologia eram médicos, zoólogos, ou de outros ramos da história natural. Embora houvesse muita especulação se os parasitas seriam os responsáveis pelas sérias condições patoló- gicas apresentadas pelas doenças, foi nesse período que se constatou que a hidatidose e a trichinelose tinham como agentes patogênicos os parasitas (Foster, 1965). Segundo Foster, a história da parasitologia não é uma história de grandes eventos; ela se desenrolou ao longo dos séculos 19 e 20 nos laboratórios das universidades, na grande maioria das vezes, em precárias condições. Os maiores avanços e descobertas da parasitologia tropical foram realizados por homens isoladamente ao redor do mundo pertencentes a algumas universidades: Army e Laveran, na Argélia; Bunch, na África do Sul; Ross, na Índia; Manson, na China; e Bancroft, Queensland e Wucherer, no Brasil. Na Europa, podemos destacar Rudolphi, Von Siebold e Leuckhart, apoiados por grandes universidades e Kcheinmeister e Cobbold, indivíduos independentes, que nunca tiveram posição acadêmica de muita importância. Em 1872, Timoty Lewis localizou o nematóide causador da filariose no sangue de hematúricos, denominando-o Filaria sanguinis hominis. Os primeiros relatos dos parasitas adultos apareceriam anos depois em um abscesso linfático examinado por Bancroft. Manson, atento a essas observações, desvendou grande parte do ciclo da filária, entre 1877 e 1878. Conseguiu comprovar o mecanismo de infecção pelo mosquito Culex e a “periodicidade” que a filária realizava invadindo a circulação periférica ao cair da tarde e refluindo durante o dia, de acordo com o ciclo de vida do vetor, através da dissecação progressiva dos mosquitos (Foster, 1965). A descoberta de Manson consagrou um novo modelo de experiência e reformulou uma série de questões no campo da patologia. Questões que requeriam novos saberes e dinâmicas de pesquisa para dar conta dos complexos ciclos de vida dos parasitos patogênicos, envolvendo mudança de hospedeiros e numerosas adaptações e metamorfoses nos organismos parasitados e no meio externo (Benchimol, 2000) Inspirado nas idéias de Patrick Manson, Ronald Ross, médico do serviço inglês na Índia, identificou, em 1897, o parasito da malária desenvolvendo-se nas paredes do estômago de um mosquito do gênero Anopheles. Em 1898, estudando malária aviária, Ross estabeleceu, de maneira definitiva, seu mecanismo de transmissão (Matos, 2000). As oportunidades de desenvolvimento da parasitologia aumentaram com a criação e o estabelecimento das escolas de medicina e hospitais nos trópicos, fato que só ocorreu no final do século 19, criando assim oportunidade de estudar os parasitas tropicais. Embora não houvesse clara distinção entre a medicina dos tró- picos e das regiões temperadas, a maioria dos trabalhos de parasitologia no final do século foi realizada nos trópicos (Lacaz, 1972). A primeira escola de medicina tropical em clima temperado foi inaugurada em Liverpool em 1899, com Boyce como professor de patologia e chefe organizador, e Ross como conferencista convidado. Os maiores trabalhos da escola foram inicialmente testar as idéias de Ross na erradicação da malária através da destruição do vetor, e foi também nessa escola que Dutton identificou o primeiro tripanossomo humano, Trypanossoma gambiense, no sangue de um paciente e descrevendo logo após o segundo, o T. rhodesiense. A London School of Tropical Medicine desenvolveu dois ramos de atividade sob a dire- ção de Manson: a “muck-room”, ou sala de fezes, como o laboratório ficou conhecido e o Seaman’s Hospital, em Greenwich. Nessa escola foram descritos pela primeira vez, pelo mé- dico inglês George Low, embriões de Wuchereria bancroft na probóscide dos mosquitos (Foster, 1965). A exemplo da Inglaterra, outras escolas de medicina tropical e de parasitologia se estabeleceram: o French Institute de Médicine Coloniale, em 1902 e o original Pasteur Institute, fundado em 1888, em Paris, que encorajava seus alunos a saírem da França e alçar vôos, fundando outros institutos. O primeiro Pasteur Institute no Norte da África francesa foi fundado em 1893 em Tunis. Dentre os trabalhos desses institutos destacavam-se os de investigação na área da biologia e da medicina tropical, mas inevitavelmente muitos dos trabalhos eram sobre parasitologia médica. Outro importante centro de pesquisa foi o de Cambridge, fundado em 1906, responsável pela editoração da segunda revista científica de parasitologia – Parasitology que, juntamente com o primeiro periódico de parasitologia – Archives de Parasitologie –, editado em 1898, constitui os primeiros traços da história da parasitologia. Parasitologistas de renome deixaram neles seus artigos: Davaine, Cobbold, Nuttall, Blanchard e Hoeppli (Foster, 1965). O estudo da parasitologia iniciou-se nos EUA em 1850 com Joseph Leidy, que ficou sozinho por aproximadamente 20 anos, publicando, entre outros trabalhos relevantes, a descri- ção, em 1860, do parasita Trichinella spirallis. Em 1910 foi fundada

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