A Doença de Kawasaki

Doença de Kawasaki e COVID-19 em crianças: uma revisão sistemática

INTRODUÇÃO

A doença de Kawasaki (DK), descrita pela primeira vez em 1967, é caracterizada por um distúrbio multissistêmico com processos inflamatórios agudos em vasos de pequeno e médio porte, principalmente nas artérias coronárias. Se não for tratada, pode levar a várias complicações e até morte súbita.

A DK afeta predominantemente crianças, geralmente menores de 5 anos, e é a segunda vasculite mais comum nessa população, com risco 1,5 vezes maior de ocorrer em meninos do que em meninas; no entanto, é considerado raro em crianças menores de 6 meses de idade.

Os padrões epidemiológicos da KD são bastante distintos quanto à localização geográfica, com diferentes valores de incidência entre os continentes. Nos países do nordeste da Ásia, incluindo Japão, Coréia do Sul, China e Taiwan, a incidência é de 10 a 30 vezes maior do que nos Estados Unidos e Europa, com índices que vêm aumentando continuamente.

Nos EUA, a incidência de DK é estimada entre 17,5 e 20,8 por 100.000 crianças menores de 5 anos, enquanto no Canadá é de 19,6 por 100.000. Enquanto na Europa é cerca de 5 a 10 / 100.000.

O diagnóstico da DK é um desafio clínico, dada sua grande variedade de sinais e sintomas, pois pode se assemelhar a outras infecções virais e bacterianas. Nesse sentido, o diagnóstico clínico é feito pela identificação de sinais e sintomas, bem como pela utilização de diversos parâmetros laboratoriais que podem complementar o diagnóstico final.

Alguns parâmetros são considerados no momento do diagnóstico, como a presença de febre por cinco ou mais dias, acompanhada de lábios rachados, linfadenopatia cervical, eritema ou rash polimórfico. Dada a alta taxa de complicações cardíacas desta doença, biomarcadores cardíacos são usados para fins diagnósticos.

As sequelas cardíacas estão principalmente relacionadas às artérias coronárias. Para esses pacientes, o monitoramento regular por imagem é fundamental, e técnicas como imagem de perfusão miocárdica, angiografia e, mais recentemente, ressonância magnética são ideais.

Relatos médicos descrevem a presença de resposta hiperinflamatória decorrente da infecção viral pelo novo coronavírus (COVID-19) em crianças, com alterações nas artérias coronárias semelhantes à DK. As hipóteses apresentadas indicam que algumas crianças podem ser geneticamente predispostas a uma resposta inflamatória mais robusta ao vírus. Estas descobertas recentes demonstram a necessidade de mais esforços a fim de elucidar as razões por trás desses resultados, que permanecem desconhecidos.

A incidência de COVID-19 em todo o mundo aumentou e acelerou significativamente. Até o momento, 215 países, áreas ou territórios notificaram casos e mais de 254.000 mortes foram atribuídas ao vírus, além de mais de 4 milhões de casos confirmados.

Embora ainda seja cedo para confirmar a associação entre as infecções por KD e COVID-19, estudos mostram a incidência de casos de KD durante a primavera e o inverno, sugerindo sua associação com alguns tipos de infecções virais, como as de adenovírus, enterovírus, parvovírus, rovírus , varicela, Epstein Barr, sarampo e dengue.

Estudos têm descrito uma associação entre infecções respiratórias virais e DK, variando de 9% a 42% dos pacientes com teste positivo para infecção respiratória viral 30 dias antes do diagnóstico de DK.

Uma análise inicial dos dados obtidos de pacientes adultos com COVID-19 na China mostrou um aumento significativo com altas taxas de troponina cardíaca, um parâmetro que está associado ao aumento da mortalidade. Foi relatado que, em pacientes com COVID-19, o dano microvascular no coração causa efeitos de perfusão, hiperpermeabilidade do vaso e vasoespasmo, levando a lesão miocárdica.

Diante da atual pandemia e das incertezas ainda geradas em torno da associação entre as infecções por KD e COVID-19, esta revisão sistemática tem como objetivo apresentar as evidências científicas disponíveis, até o momento, sobre a associação entre doença de Kawasaki e COVID-19 em crianças.

MÉTODOS

- Caracterização da pesquisa e estratégias de pesquisa:

Uma revisão sistemática foi conduzida de acordo com as recomendações dos Itens de Relatório Preferidos para Revisões Sistemáticas e Meta-análises (Prisma)

As buscas de artigos científicos foram realizadas por dois pesquisadores independentes no Medline (PubMed) (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/), Lilacs (http://lilacs.bvsalud.org/) , Bases de dados eletrônicas, SciELO (http: // www. Scielo.br/), Cochrane (https://www.cochrane.org/) e Bireme (https://bvsalud.org/), sem restrição de idioma ou localização , de abril a maio de 2020.

A pesquisa foi estruturada e organizada de acordo com a metodologia PICO, que é a sigla para População, intervenção, controle, resultados, estudo ( Tabela 1)

DESCRIÇÃO DOS COMPONENTES PICOS

Acrônimo	Definição
P	Crianças
I	Doença de Kawasaki
C	Associação
O	Coronavírus
S	Estudo descritivo / estudo transversal Estudo observacional

Fonte: Elaborado pelos autores.

CRITÉRIO DE SELEÇÃO

-Critério de inclusão:

Os desenhos dos estudos selecionados incluíram estudos descritivos, ensaios clínicos randomizados ou não randomizados controlados, estudos transversais, estudos de coorte e estudos de caso. Incluímos estudos sem restrições de idioma ou local, publicados de janeiro de 2010 a maio de 2020.

-Critério de exclusão:

Foram excluídos estudos publicados em formato de cartas ao editor, diretrizes, revisões de literatura, revisões sistemáticas, metanálises e resumos.

A (Tabela 2) apresenta os critérios de inclusão e exclusão usados neste

RESUMO DOS CRITÉRIOS DE INCLUSÃO / EXCLUSÃO

Critério de inclusão
Projeto	Relatos de caso Estudos de caso-controle Ensaios clínicos controlados Estudos de coorte Estudos de triagem Estudos observacionais
Localização	Sem restrições
Língua	Sem restrições
Critério de exclusão
Projeto	Cartas ao editor Diretrizes Revisões da literatura Revisões sistemáticas Meta-análises
Estudos	Estudos pouco claros Descritos mal ou inadequados
Tipo de publicação	Apenas resumo

Fonte: Elaborado pelos autores.