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Ciencias do Ambiente

Por:   •  6/10/2015  •  Trabalho acadêmico  •  4.316 Palavras (18 Páginas)  •  215 Visualizações

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PARADIGMAS: DEFINIÇÕES

INTRODUÇÃO

Muitos estudantes chegam à universidade com uma perspectiva individualista e tal postura os faz perder de vista o fato de estarem sendo iniciados nos domínios de uma tradição de conhecimento. Esse fato é concomitante com um outro: a maioria dos estudantes têm o hábito de estudar de maneira quantitativa. Isto significa que ele se propõe a acumular a maior quantidade possível de dados. Dá a sensação de que a cabeça dele é um arquivo, onde ele vai acumulando um dado atrás de outro, um nome atrás de outro, uma teoria atrás de outra. O grande desafio é poder lembrar-se, nos momentos certos (provas, exames, trabalhos) do lugar onde o dado foi colocado. Com o tempo, aquele arquivo vai ficando cheio de dados perdidos, dados esquecidos ou mal lembrados, dados confundidos com outros dados.

É isso aí: o que começou com uma caixa vazia, depois de muitos semestres, termina com uma caixa cheia de dados em total desordem. Por usar essa estratégia, o estudante tem, no começo, a sensação de naufrágio, e, no final, o naufrágio.

O que fazer? A resposta parece simples: é claro, é lembrar da parte qualitativa do estudo. E o que isso significa? Bem, aí começa esta aula sobre [pic 1]paradigmas.

Foi dito que o estudante começa por acumular dados em um arquivo. De fato, isso deve ser feito, lidar com dados, com muitos dados. Em cada aula, com cada professor, em cada disciplina, no laboratório, na biblioteca, na Internet, no grupo de estudo, o que o estudante vê é uma exuberante dança de dados, que desde o primeiro dia de aula não pára de crescer e, o que é melhor, não vai parar de crescer nunca! Mas o que são esses dados? Esses dados são nomes de autores, cifras, nomes de teorias, conceitos, fórmulas, fatos, datas, referências, idéias, inclusive sentimentos e emoções.

O problema consiste no fato de o estudante perceber esses dados como coisas separadas. Cada um é um e não tem relação com o outro. Eles não parecem ter ligações entre si ou são ligações que são difíceis de explicar e que em geral ninguém pergunta. De fato, muitas vezes, o professor explicita pouco sobre as relações entre os dados que ensina aos seus alunos. Sendo assim, o que no primeiro semestre começou com uma dança difícil de acompanhar, no último semestre é só um grande caldeirão, no qual muitos dados pairam à beira do caos mental. É natural que o estudante naufrague.

O estudante pode, então, perceber como todos os dados que recebe das muitas fontes que consulta estão intimamente ligados uns aos outros, formando conjuntos de dados que guardam entre si relações de coerência e consistência. Dessa maneira, o estudante irá vislumbrar não um céu cheio de estrelas, mas, sim, constelações de estrelas, estruturando o céu; não uma enorme massa de dados soltos, mas constelações de dados organizados de maneira a reproduzir uma estrutura altamente especializada, na qual cada dado, seja da natureza que for, cumpre uma função, ocupa um espaço, tem um papel e uma direção.

Assim, mais que acumular dados, o estudante deve tentar entender como foi que cada uma das tradições de pensamento organizou um determinado número de dados, quais os limites que tal organização implica, quais são os autores que fazem parte dessa tradição, e, finalmente, como essa tradição sobreviveu historicamente.

Se ele concluir tal desafio, no final do curso, será o membro legítimo de uma das tradições de conhecimentos ou um intelectual capaz de administrar, articular, combinar e distinguir os dados provenientes das diferentes tradições de pensamento e, ao mesmo tempo, capaz de produzir conhecimento de maneira coerente, compreendendo qual é sua posição a respeito de cada uma daquelas tradições. Então, será muito simples fazer uma monografia, que não é outra coisa senão um exercício no qual o estudante demonstra que sabe navegar entre os dados que cada uma das tradições lhe oferece.

É a essa maneira de organizar os dados que cada tradição de pensamento defende, que podemos chamar, preliminarmente, de paradigma. Isto é, cada tradição defende, produz, articula e se articula em torno de um determinado paradigma.

Assim, temos pelo menos duas coisas para entender o que é um paradigma: de um lado, que eles são uma maneira de organizar dados, de outra, que alguém organiza os dados. Exploremos essas duas afirmações.

 

O MODO DE ORGANIZAR

Um paradigma é um sistema organizador de dados. Entendemos o termo dados, aqui, em sentido amplo, como o conjunto de elementos que compõem um todo organizado de maneira a dar uma visão global do que é a realidade. Entre esses elementos, encontram-se desde os fatos propriamente ditos, passando pelas técnicas e estratégias que o observador utiliza para observá-los, os problemas que tal observador coloca a respeito desses dados, as hipóteses que considera possíveis, chegando até as teorias que pode elaborar para descrever, organizar ou interpretar tais dados.

A questão da maneira como se organizam esses dados é fundamental, pois os dados não estão aleatoriamente dispostos, mas estruturados dentro de um determinado domínio de coerências. Os elementos que não combinam, isto é, que não correspondem ao padrão de organização disposto sempre a priori pelo paradigma, são descartados ou relegados à sombra. O domínio de coerências opera como um dispositivo selecionador de padrão. Como um operador binário: um dado em questão é ou não parte do domínio solicitado.

Por exemplo, se no meio de um jogo de futebol, um palhaço entra no campo, certamente o juiz detém o jogo e pede para que o palhaço seja retirado do campo. Evidentemente, o palhaço, como dado, não é coerente com os dados que fazem parte do domínio que corresponde a um jogo de futebol.

O mesmo acontece com teorias, conceitos, metodologias, técnicas de pesquisa, interpretações. Nem todas as teorias são compatíveis com outras. Os conceitos não podem ser usados sem que se perceba a que domínio de coerência teórico pertencem. Os autores não podem ser citados sem conhecermos suas afinidades e discordâncias a respeito de outros autores.Os métodos e técnicas não podem ser usados para responder perguntas que correspondem a outras maneiras de organizar os dados.

Assim, podemos colocar uma primeira conclusão: cada tradição de pensamento criou uma maneira de organizar os dados da realidade, portanto, encontrou uma maneira de entender a realidade. Essa maneira implica num certo domínio de coerências, que podemos chamar de paradigma.

O ORGANIZADOR

De fato, os dados não se organizam sozinhos. Alguém organiza os dados. Esse alguém é sempre um observador que, na verdade, nunca está sozinho; ele pertence a uma comunidade de observadores. O que estes observadores têm em comum é a maneira de organizar os fatos. Por exemplo, uma borboleta sobre uma flor, para uma pessoa comum, é apenas uma borboleta sobre uma flor. Um poeta, porém, irá organizar esses dados de modo a dizer que ali está um símbolo do amor e da delicadeza, e todos os poetas, de certa forma, verão a mesma coisa. Já um biólogo e seus colegas dirão que estamos diante de um lepidóptero diurno em processo de alimentação. Essa é a forma como a comunidade dos biólogos organiza esses elementos.

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