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Teoria Sobre Trabalhos E Tecnologias Domésticas

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Por:   •  28/6/2014  •  7.566 Palavras (31 Páginas)  •  474 Visualizações

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TEORIAS SOBRE TRABALHO E TECNOLOGIAS DOMÉSTICAS.

Implicações para o Brasil

Elizabeth Bortolaia Silva*

* Professora visitante, no Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas.

Endereço Permanente: School of Sociology and Social Policy

University of Leeds

Leeds LS8 2QA - England

INTRODUÇÃO

Trabalho de casa é tradicionalmente trabalho de mulher. Homens têm participado minimamente no trabalho do lar. A minha preocupação neste paper é discutir o desenvolvimento de tecnologias para o trabalho doméstico face aos limites desse padrão tradicional de divisão do trabalho entre os gêneros. Meu enfoque é principalmente teórico e abrange uma discussão aprofundada da literatura contemporânea existente internacionalmente. Na última seção do paper eu considero a aplicabilidade das teorias para o caso brasileiro e questiono como circunstâncias nacionais particulares desafiam a abrangência das teorias discutidas.

Variações significativas no padrão tradicional de divisão do trabalho entre os gêneros têm aparecido mais recentemente, com maior intensidade nos países de industrialização mais avançada. As mudanças históricas de padrão têm sido associadas com o aumento da participação feminina no mercado de trabalho: quando mulheres casadas têm emprego em período integral, as tarefas domésticas são compartilhadas com homens em maior proporção (Gershuny, Godwin e Jones 1994). O maior número de mulheres no mercado de trabalho também tem sido associado historicamente com o desaparecimento de empregadas (e empregados) para o serviço doméstico e o desenvolvimento concomitante de tecnologias para o trabalho doméstico (Glucksmann 1990).

As tecnologias domésticas têm sido classificadas em três grupos principais (Hartmann 1974). Serviços de infraestrutura: água encanada, electricidade, gás, esgoto e coleta de lixo. Eletrodomésticos: máquinas utilizadas para desempenhar o trabalho doméstico. Mercadorias: bens pré-processados ou semi-processados comprados no mercado. Existe uma relação muito estreita entre serviços de infra-estrutura, eletrodomésticos e mercadorias. Eles formam uma corrente de dependência na qual, por exemplo, o desenvolvimento ou utilização de tipos particulares de eletrodomésticos dependem da disponibilidade de serviços de infraestrutura particulares, e muitas mercadorias dependem da disponibilidade de certos eletrodomésticos. Por exemplo, comidas para fornos de microondas dependem da tecnologia de microondas, a qual requer acesso à eletricidade.

Esses tipos de tecnologias apareceram históricamente em momentos diferentes nas várias sociedades industriais avançadas, e não existe consenso acerca dos seus efeitos sobre o trabalho doméstico. Se há consenso geral de que a inovação tecnológica dos serviços de infra-estrutura trouxe melhorias consideráveis ao trabalho doméstico, pesquisas sobre os usos e efeitos dos eletrodomésticos sobre o trabalho doméstico têm apresentado maiores controvérsias, enquanto que as mercadorias são simplesmente consideradas em relação aos próprios eletrodomésticos ou, mais generalizadamente, a estilos de vida. Portanto, eletrodomésticos têm sido o foco principal dos estudos sobre tecnologias domésticas.

A associação entre, por um lado, o aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho, e a pequena mudança nas relações entre os gêneros no espaço doméstico e, por outro lado, o desenvolvimento de tecnologias domésticas, têm se evidenciado nos contextos da Inglaterra (Glucksmann 1990, Cockburn and Ormrod 1993, Gershuny 1983), dos Estados Unidos (Cowan 1983, Lebergott 1993) e de outros países de industrialização avançada. E possivel se encontrar tendências semelhantes no Brasil?

A participação das mulheres na força de trabalho brasileira cresceu enormemente nos últimos 40 anos e atualmente perfaz mais da metade do emprego masculino. Essa participação aparece mais acentuada na zona urbana e nos estados mais desenvolvidos, mas os dados se referem ao mercado formal de trabalho. (Espera-se que a proporçao de mulheres seja significativamente maior contando-se o mercado informal.) As proporções de mulheres casadas, unidas consensualmente e separadas (incluindo desquitadas e divorciadas) aumentou mais significativamente do que aquela de mulheres solteiras. A proporção de empregadas domésticas tem diminuído, principalmente nos centros urbanos mais desenvolvidos, onde o emprego de trabalhadoras domésticas está também concentrado. A proporção de domicílios possuidores de tecnologias para o trabalho doméstico (tecnologias "tradicionais" como fogões, geladeiras e máquinas de lavar roupas; ou tecnologias "modernas" como fornos de microondas, freezers e máquinas de lavar louça) tem aumentado, embora com flutuações de mercado acentuadas, conforme a situação econômica da população (Toledo 1989, Neto 1992).

De um ponto de vista geral, parece que as tendências apresentadas nos países de industrialização avançada poderiam se replicar no Brasil. Todavia, é importante atentar para o significado específico das relações entre homens e mulheres no Brasil e para as suas respectivas relações com o trabalho doméstico, além das tendências de emprego e do mercado de consumo. Sobretudo, é necessário refletir sobre o fato de cerca de 2/3 das mulheres brasileiras trabalharem em serviços manuais e domésticos (cerca de 4/5 das mulheres negras/pardas e cerca da metade das brancas).

É muito comum as reflexões sobre as relações entre trabalho e tecnologias domésticas enfocarem quase que exclusivamente a classe média branca vivendo em espaços urbanos. Eu quero primeiramente explorar as implicações do debate teórico sobre trabalho doméstico e tecnologias domésticas, tal como este tem se desenvolvido nos países mais avançados, para depois considerar as implicações desse debate para o Brasil, e as contribuições que as especificidades do caso brasileiro podem trazer para as teorias existentes.

AS TEORIAS

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