Fenomenológica
Por: Ana Naito • 1/11/2016 • Trabalho acadêmico • 35.877 Palavras (144 Páginas) • 181 Visualizações
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Análise Psicológica (2006), 3 (XXIV): 289-309
Introdução à psicoterapia existencial
JOSÉ A. CARVALHO TEIXEIRA (*)
1. INTRODUÇÃO conjunto heterogéneo de possibilidades de intervenção
terapêutica de base fenomenológico-existencial,
Com as influências da fenomenologia e do uma pluralidade de métodos e de teorias que, contudo,
existencialismo desenvolveram-se vários modelos podem classificar-se em dois grupos diferentes: a
terapêuticos que podem ser genericamente psicoterapia experiencial e a psicoterapia existencial.
designados por psicoterapia existencial e definidos As diferenças podem estabelecer-se ao nível dos
como métodos de relação interpessoal e de análise seus objecto, objectivos e propostas ou modelos de
psicológica cujo objectivo é o de facilitar na pessoa intervenção (Quadro 1).
do cliente um auto-conhecimento e uma autonomia As diferenças essenciais entre psicoterapia
psicológica suficiente para que ele possa assumir experiencial (humanista) e psicoterapia existencial
livremente a sua existência (Villegas, 1988). Importa situam-se na forma como conceptualizam a capacidade
desde já referir que não se constituem como técnicas do indivíduo para o processo de mudança, nos
de cura da perturbação mental, mas sim como conceitos-chave que estão em jogo e, ainda, na
intervenções cuja finalidade principal é ajudar o finalidade da intervenção (Villegas, 1989). A finalidade
crescimento pessoal e facilitar o encontro do indivíduo da intervenção define-se pela auto-descoberta
com a autenticidade da sua existência, de forma (conhecer-se e compreender-se) na psicoterapia
assumi-la e a projectá-la mais livremente no mundo. experiencial e pela construção mais autêntica e
Em qualquer caso, o centro é o indivíduo e não a significativa da sua existência na psicoterapia
perturbação mental. Esta, quando presente, é vista existencial (Quadro 2).
como resultado de dificuldades do indivíduo em Na psicoterapia existencial enfatizam-se as
fazer escolhas mais autênticas e significativas, dimensões histórica e de projecto e a responsa-
pelo que as intervenções terapêuticas privilegiam bilidade individual na construção do seu-mundo.
a auto-consciência, a auto-compreensão e a auto- Visa a mudança e a autonomia pessoal. Contudo,
-determinação. vários autores definem a finalidade principal da
Do encontro entre a fenomenologia, o existen- psicoterapia existencial de diferentes modos: procura
cialismo, a Psicologia e a Psicopatologia resultou de si próprio (May, 1958); procura do sentido da
um amplo movimento de ideias, reflexão, investigação existência (Frankl, 1984); tornar-se mais autêntico
e intervenção (Jonckeere, 1989). Trata-se de um na relação consigo próprio e com os outros (Bugental,
1978); superar os dilemas, tensões, paradoxos e
desafios do viver (Van Deurzen-Smith, 2002);
facilitar um modo mais autêntico de existir (Cohn,
1997); promover o encontro consigo próprio para
(*) Médico Psiquiatra. Instituto Superior de Psicologia
Aplicada, Lisboa. Sociedade Portuguesa de Psicoterapia assumir a sua existência e projectá-la mais livremente
Existencial. no mundo (Villegas, 1989) e aumentar a auto-cons-
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QUADRO 1
Diferenças entre psicoterapia experiencial e psicoterapia existencial
PSICOTERAPIA EXPERIENCIAL PSICOTERAPIA EXISTENCIAL
Influências Kierkegaard / Buber / William James Husserl / Heidegger / Sartre
Objecto Vivência Existência
Dimensão Actual Histórica
Objectivo Crescimento Autonomia
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