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O CAMPO CIENTÍFICO

Por:   •  14/8/2018  •  Projeto de pesquisa  •  1.143 Palavras (5 Páginas)  •  143 Visualizações

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1

O CAMPO CIENTÍFICO

1

Pierre Bourdieu

A sociologia da ciência repousa no postulado de que

a verdade do produto

− mesmo em se tratando desse produto particular que

é a verdade científica −

reside numa espécie particular de condições sociais

de1produção; isto é, mais

precisamente, num estado determinado da estrutura e

do funcionamento do

campo científico. O universo "puro" da mais "pura"

ciência é um campo social

como outro qualquer, com suas relações de força e m

onopólios, suas lutas e

estratégias, seus interesses e lucros, mas onde tod

as essas

invariantes

revestem formas específicas.

A luta pelo monopólio da competência científica

O campo científico, enquanto sistema de relações ob

jetivas entre posições

adquiridas (em lutas anteriores), é o lugar, o espa

ço de jogo de uma luta

concorrencial. O que está em jogo especificamente n

essa luta é o monopólio

da

autoridade científica

definida, de maneira inseparável, como capacidade

técnica e poder social; ou, se quisermos, o monopól

io da

competência

científica,

compreendida enquanto capacidade de falar e de agir

legitimamente

(isto é, de maneira autorizada e com autoridade), q

ue é socialmente outorgada

a um agente determinado.

2

Dizer que o campo é um lugar de lutas não é simples

mente romper com a

imagem irenista da "comunidade científica" tal como

a hagiografia científica a

1

Reproduzido de BOURDIEU, P. Le champ scientifique.

Actes de Ia Recherche en Sciences

Sociales,

n. 2/3, jun. 1976, p. 88-104. Tradução de Paula Mon

tero.

2

Duas observações rápidas para evitar possíveis mal

-entendidos. Primeiramente, não se pode

reduzir as relações objetivas que são constitutivas

do campo ao conjunto das

interações,

no

sentido do interacionismo, isto é, ao conjunto das

estratégias

que, na realidade, ele determina.

Por outro lado, é necessário precisar o que signifi

ca ser socialmente reconhecido. Veremos que

o grupo que confere esse reconhecimento tende, cada

vez mais, a reduzir-se ao conjunto dos

cientistas (ou concorrentes) à medida que crescem o

s recursos científicos acumulados e,

correlativamente, a autonomia do campo.

2

descreve − e, muitas vezes, depois dela, a própria

sociologia da ciência. Não é

simplesmente romper com a idéia de uma espécie de "

reino dos fins" que não

conheceria senão as leis da concorrência pura e per

feita das idéias,

infalivelmente recortada pela força intrínseca da i

déia verdadeira. É também

recordar que o próprio funcionamento do campo cient

ífico

produz e supõe uma

forma específica de interesse

(as práticas científicas não aparecendo como

"desinteressadas" senão quando referidas a interess

es diferentes, produzidos

e exigidos por outros campos).

Falando de interesse científico e de autoridade (ou

de competência)

científica, pretendemos afastar, desde logo, as dis

tinções que habitam,

implicitamente, as discussões sobre a ciência. Assi

m, tentar dissociar o que, na

competência científica, seria pura representação so

cial, poder simbólico,

marcado por todo um "aparelho"

...

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