Administração - o básico e a evolução
Seminário: Administração - o básico e a evolução. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: EdenilsaFreire • 8/3/2014 • Seminário • 8.124 Palavras (33 Páginas) • 265 Visualizações
Administração – fundamentos e evolução
Cláudio Gurgel, DSc.*
Neste capítulo, situaremos a evolução do estudo das relações sociais de produção e identificaremos as principais fontes de conhecimento que, posteriormente, foram usadas como referenciais para a racionalização do trabalho produtivo, as teorias da administração. A seguir, concentraremos nossa atenção nos principais objetivos do estudo moderno e contemporâneo do trabalho e da gestão.
1. Um objeto de estudo contemporâneo
O estudo sobre o trabalho e as teorias dele decorrentes são produtos da nossa época. Diferentemente da física, da matemática, da química, da biologia, da economia e da política, a sociologia do trabalho e as teorias sobre a produção da riqueza foram sistematizadas no século XIX e XX.
Esta é a razão que faz das teorias de gestão teorias tardias.
Seu marco inicial data dos últimos anos do século XIX. Não é possível dizer qual o primeiro estudo rigorosamente destinado à administração de empresas. As Notas Sobre Correias, apresentadas, em 1895, por Frederick Taylor, (1856-1915), na Sociedade Americana dos Engenheiros Mecânicos, talvez seja uma das primeiras obras das teorias da administração.
Para uma ligeira ilustração da juventude destas teorias, basta lembrar que Lilian Gilbreth, companheira de Frank Gilbreth e parceira dos estudos de Taylor, faleceu nos anos 1970. Foi, portanto, contemporânea de muitos de nós que falamos e escrevemos sobre o seu pensamento e seus trabalhos teóricos.
O que terá retardado o estudo do trabalho humano e o seu tratamento como objeto relevante da ciência social ?
Há um histórico de desvalorização do trabalho, que remonta desde os povos primitivos. Na antiguidade, Aristóteles dizia, na Política, que nenhum artesão será cidadão, e na Idade Média, o nobre se orgulhava de não trabalhar.
De certo modo relacionado com este estigma, que chegou aos tempos modernos, com a versão do trabalho manual versus trabalho intelectual, podemos alinhar especificamente os seguintes motivos:
• o pequeno desenvolvimento do mercado e das empresas nas sociedades, quando prevaleciam atividades artesanais e de subsistência, cabendo os grandes empreendimentos aos governos.
• a desqualificação da atividade empresarial, considerada pelos ilustres pensadores do passado como uma atividade inferior. O próprio Adam Smith, na sua célebre obra Investigação sobre a natureza da Riqueza das Nações, descreve o empresário como um indivíduo sem escrúpulo, cuja atividade se aproxima do estelionato. Vale lembrar que Smith é um dos principais pensadores do capitalismo liberal e que, embora fazendo este julgamento, valoriza a livre iniciativa e o empreendimento.
• a predominância da preocupação com a macroeconomia. Em grande medida, pelos motivos anteriores, os principais pensadores do passado voltavam suas atenções para questões tais como a origem da riqueza, da acumulação e/ou a circulação e distribuição dos bens. São assuntos como estes que ocuparam o já citado Smith, assim como Karl Marx, David Ricardo e Stuart-Mill.
• a política e a filosofia centradas sobre as relações sociais e entre as nações. O alcance do poder e sua manutenção, a distribuição da justiça, a liberdade e a relação entre os homens, assuntos que no máximo tocam à gestão pública, foram objetos da atenção de estudiosos como Nicolo Maquiavel, Montesquieu, Hobbes, Locke, Rousseau, Montaigne, Mill, Bentham, Fourier, Saint-Simon e outros pensadores. Eles tinham olhos para a grande organização social e apenas subsidiariamente para o papel que a organização empreendedora de fins específicos - a empresa - poderia representar no conjunto da sociedade. Pela mesma razão, a guerra também ocupa grande espaço na literatura da antigüidade e do medievo. A constância com que se recorria à guerra para a tomada e/ou manutenção do poder fizeram das armadas e da organização militar objetos de estudo. Afinal, como diria Karl Clausewitz, influente general prussiano, em sua obra Princípios da Guerra, "a guerra é a continuação da política, pelas armas".
• a idéia da gestão, da liderança, do comando e da dominação dos homens sobre os homens como arte ou dom inato, foi durante muitos anos uma concepção corrente que tornou o estudo e o ensino destas qualidades algo secundário e até mesmo impertinente.
O reduzido mercado, a desvalorização da atividade empresarial, a suposição de que administrar é um dom e as questões relativas à tomada e manutenção do poder, que ocuparam a atenção dos principais pensadores dos séculos passados, retardaram o estudo do trabalho produtivo e a construção de estruturas teóricas sobre a gestão da produção.
Em contrapartida, a chamada Revolução Industrial proporcionou o ambiente necessário para a emergência do trabalho como uma categoria importante da vida social. Exatamente porque:
• estimulou o capitalismo e o crescimento das cidades, onde surgiu um mercado interessado em inúmeros produtos e assim incentivando o surgimento de novas e muitas empresas produtoras de bens e serviços.
• Tendo necessidade de atender à demanda crescente, promoveu-se o desenvolvimento da especialização, substituindo-se o processo artesanal de produção, pela divisão horizontal do trabalho. O produtor passou a executar apenas uma parte do produto - a tarefa - operando no que se chama linha de produção.
A divisão de trabalho ganha créditos como grande descoberta do sistema de produção de riqueza e a especialização do trabalhador, em uma dada função, a acompanha nesta valorização.
No capítulo I do seu livro já citado, Adam Smith se dedica a estudar este novo processo, dizendo que "0 maior aprimoramento das forças produtivas do trabalho e a maior parte da habilidade, destreza e bom senso com os quais o trabalho é em toda parte dirigido ou executado, parecem ter sido resultados da divisão do trabalho".
Ele cita um exemplo que se tomou célebre: o caso da produção de um fábrica de alfinetes em que se aplicava a divisão do trabalho. Segundo Smith, "As pessoas conseguiam produzir entre elas mais do que 48 mil alfinetes por dia (..) cada uma produzia 4.800 alfinetes por dia. Se, porém, tivessem trabalhado independentemente um do outro, e sem que nenhum deles tivesse sido treinado para esse ramo de atividade, certamente cada um deles não teria conseguido fabricar 20 alfinetes por dia".
Como se percebe, pelo que diz Smith, a divisão horizontal do trabalho
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