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As Crianças Mimadas

Por:   •  6/10/2022  •  Tese  •  1.224 Palavras (5 Páginas)  •  65 Visualizações

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CRIANÇASMIMADAS.COM

Rony Meisler

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Outro dia assisti a um documentário sobre Jiro, o melhor sushi-man do mundo – octogenário! No filme, Jiro contava que seus pais o largaram no mundo aos 9 anos de idade e que a isso ele deve o seu sucesso. Louco?! Nem tanto. Quando nada mais se tem a perder, obviamente não temos medo de correr os maiores riscos. Quando não se tem fartura, somos obrigados a brigar enlouquecidamente pela excelência, tanto naquilo que produzimos como na administração de nossos negócios.

Ele começou em um pequeno restaurante em um metrô de Ginza, Tókio, e até hoje, mesmo depois de receber as famosas 3 estrelas do Guia Michelin, ainda agenda clientes com um mês de antecedência e dispostos a pagar aproximadamente R$1000 por pessoa para degustar seu famoso sushi no mesmo pequeno e modesto estabelecimento comercial.

Jiro me motivou a escrever este texto não pela gastronomia japonesa, mas pela loucura que tenho observado no mercado .COM. Enfim, fazendo um paralelo com o que vivemos na Reserva:

Há alguns anos, montamos a Reserva, eu e Fernando, um dos meus sócios. Éramos duros feito cocos. Se, por um lado, o nosso tesão estava na moda como instrumento transformador, por outro nunca esquecemos de que tínhamos contas para pagar. Por isso, além de um produto bacana e diferente, precisaríamos ser criativos também na parte comercial e na administração do negócio. Desde os primeiros dias, forçados pela restrição, nos obrigamos a ser lucrativos e a nos sustentar.

Se foi fácil?! Não, foi uma guerra! Quase quebramos um milhão de vezes, tomamos canos atrás de canos e muitas vezes tínhamos que escolher entre pagar a luz ou o telefone. Se foi bom?! Foi excelente. A Reserva é lucrativa desde sempre. Tem gente que faz marcas para ganhar dinheiro, nosso tesão sempre esteve na possibilidade de ganhar dinheiro para fazermos marcas e loucuras criativas, sempre nesta ordem. Enfim, derrubar a Reserva hoje é muito mais difícil do que seria se as coisas tivessem sido mais fáceis financeiramente no início, porque nos acostumamos a viver sob restrição. Assim, sabemos viver e construir com poucos recursos. Aqui vale a máxima: "Quem sabe fazer, faz de novo.".

E o que a internet tem a ver com isso?! Hoje observo uma molecada boa até dizer chega por aí. Turma que vem com sonhos incríveis, pensados por mentes brilhantes. Definitivamente, nosso país vive uma linda mudança onde realizar seus sonhos e ser dono de seu próprio nariz passa a ser uma tendência natural e não uma exceção.

Prato cheio para os fundos de investimentos que, não à toa, passam a reparar nessa molecada. Meninos não nascem homens. É a vida que os transforma em homens. E atochá-los de dinheiro quando o sonho ainda é ideia é praticamente um homicídio empresarial. A internet está transformando moleques talentosos em crianças mimadas que gastam muito mais do que ganham e que todos os meses recorrem ao papai e à mamãe por um aumento de mesada quando o dinheiro acaba.

Muitos conhecidos se tornaram empreendedores .COM e quase todos hoje operam empresas que faturam tão alto quanto dão prejuízo. A desculpa?! Para se fazer negócios online, precisa-se comprar muita propaganda porque é ela que gera o tráfego para a venda. Aham... E gastam muito mais do que faturam para cadastrar clientes em seus bancos de dados sob o argumento de que um dia esse banco será tão grande que não precisarão mais gastar em propaganda - e por isso darão lucro. Tolinhos, estão correndo atrás do próprio rabo. A possibilidade de isso acontecer é tão pequena quanto o de um craque de futebol se tornar o Neymar.

Façamos um paralelo com o mundo offline. Imaginemos que eu abra um restaurante ou uma loja e que, para cadastrar meus primeiros clientes por muitos meses, eu gaste muito mais do que aquilo que eu faturo. Para isso, sem a menor experiência profissional, ainda em meus primeiros dias de vida profissional, eu teria que contratar um batalhão de gente, CIOs, CFOs, MARKETEIROS, PROGRAMADORES etc. Além disso, como no caso do mundo online, esse dinheiro viria de fundos de capital de risco, e, obviamente, eu o trocaria por capital do meu negócio. Em resumo, além de focar apenas na venda e sem me preocupar com a lucratividade, nesse primeiro momento eu já partiria com um % menor do capital da empresa.

Terminado o "primeiro" dinheiro, sem dinheiro em caixa, ainda com pouquíssima experiência profissional e com uma megaestrutura para bancar e administrar, eu precisaria de uma nova rodada de investimentos, agora maior. E assim eu seguiria, recorrentemente pedindo arrego aos capitalistas de risco. Até que num determinado momento terei um % simbólico de um negócio altamente deficitário. Nesse instante eu já não mais sou o dono do meu sonho e muito provavelmente meus sócios capitalistas me convidarão a sair dele para que contratem um CEO – e assim tentar tornar o negócio lucrativo gerindo-o profissionalmente. E então eu sairei do business, sem saber como construir um sonho que seja sustentável a longo prazo - por inexperiência, e não incompetência, achando que eu sou o melhor vendedor do mundo. Tolinho, a vida não terá me ensinado ainda que o melhor vendedor não é aquele que mais vende, mas sim aquele que mais deixa no final.

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