A IMPORTÂNCIA PATRIMONIAL E HISTÓRICA ESCRAVOCATA DO CAIS DO VALONGO
Por: npstc • 17/2/2020 • Monografia • 3.995 Palavras (16 Páginas) • 235 Visualizações
UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES[pic 1]
NICOLAS PISTECO
A IMPORTÂNCIA PATRIMONIAL E
HISTÓRICA ESCRAVOCATA DO CAIS DO VALONGO
Mogi das Cruzes, SP
2019
UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES[pic 2]
NICOLAS PISTECO
A IMPORTÂNCIA PATRIMONIAL E
HISTÓRICA ESCRAVOCATA DO CAIS DO VALONGO
Monografia apresentada ao oitavo semestre do curso de Arquitetura e Urbanismo, na matéria Patrimônio Histórico e Técnicas Retrospectivas, para ser utilizada como parte da avaliação semestral.
Profª. Bianca Lupo
Mogi das Cruzes, SP
2019
RESUMO[pic 3]
O objetivo dessa monografia é analisar o sítio arqueológico do Cais do Valongo, localizado no Rio de Janeiro, antigo local de comércio e principal ponto de desembarque dos africanos escravizados ao chegar ao Brasil, tendo recebido uma expressiva quantidade entre 500 mil e 1 milhão de escravos entre os anos de 1811 e 1831. Sendo parte importante da história escravocrata do Brasil, bem como seu papel cultural e patrimonial, e reconhecido em 2017 com o título de Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), a finalidade desse trabalho é apresentar desde sua história, seu desaparecimento quando foi aterrado em 1843, até sua redescoberta em 2011, durante as obras de revitalização da Zona Portuária do Rio de Janeiro.
Traçando um paralelo com os textos e autores estudados em aula durante o semestre, e apoiando a análise em estudos e artigos disponíveis sobre o tema, essa monografia se dispõe a apresentar como o Cais do Valongo é reconhecido como patrimônio para a sociedade, e principalmente para o povo brasileiro, já que conta uma história sensível, tendo sido um local de sofrimento da história negra do nosso país que é maioritariamente afrodescendente.
Essa monografia resulta da leitura de diversos materiais, desde artigos e matérias veiculadas em revistas e jornais, até os materiais de divulgação da proposta de de inscrição do sítio arqueológico na lista de Patrimônios Mundiais.
Palavras-Chave: Cais do Valongo, patrimônio, escravos, história negra, sítio arqueológico.
SUMÁRIO[pic 4]
1 INTRODUÇÃO 5
2 A HISTÓRIA DO CAIS DO VALONGO 7
3 A RELEVÂNCIA CULTURAL DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO 9
4 A PATRIMONIALIZAÇÃO DO CAIS DO VALONGO 11
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 14
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 15
1 INTRODUÇÃO
Documentos registrados informam que o Rio de Janeiro foi, no século XIX, o principal porto de entrada de africanos para serem escravizados nas Américas, com números que estimam centenas de milhares de negros passando pela cidade. As justificativas para tamanha demanda de escravos eram atender sobretudo as grandes lavouras de café do Vale do Paraíba fluminense, dependente vigorosamente da força de trabalho escravo.
Ao chegarem a cidade, os navios tumbeiros atracavam e eram sujeitos à inspeções de oficiais da saúde, por conta de doenças e pragas contagiosas que acometiam durante o transporte com carga humana. Passando por um período de quarentena até que ficassem disponíveis para o comércio, os africanos que tivessem sobrevivido às severas condições da travessia oceânica, seguiam enfim para o mercado do Valongo, na região periférica da cidade, para onde havia sido transferido o complexo comercial relacionado ao mercado de escravos no final do século XVIII. Contando com um lazareto para os afastamentos, com um cemitério para as pessoas que não resistiam às doenças e maus tratos das viagens, e com lojas onde eram expostos e vendidos os escravos, foi adicionado a esse complexo um cais, construído formalmente em 1811 pela Intendência Geral de Polícia, bem próximo ao mercado, embora tenha funcionado não tão bem estruturado anteriormente a essa data.
Por conta da lei de 1831, que declarava livres todos os africanos chegados ao Brasil, esse complexo foi inativado. Duramente sentido pelo tráfico em um primeiro momento, logo em seguida novos esquemas foram viabilizados para burlar a lei, e ele seguiu até que uma nova lei que penalizava mais severamente os traficantes acabou desativando o mercado. O Cais do Valongo seguiu funcionando para o transporte de todo tipo de mercadoria e pessoas até 1843. Nesse ano, por decisão do Imperador D. Pedro II, o cais foi inteiramente reformado para a recepção de sua futura esposa que chegava da Itália para ser Imperatriz do Brasil. Sobre o Cais do Valongo foi erguido um novo porto, restando ao seu antecessor o esquecimento.
No começo do século XX, por conta de obras da construção de um novo porto no Rio de Janeiro, os restos do Cais do Valongo, bem como o Cais da Imperatriz foram aterrados, terminando de afundar de vez os vestígios e lembranças de uma etapa ultrapassada e esquecida.
Um século depois, o programa de reestruturação da zona portuária da cidade, em virtude dos Jogos Olímpicos realizados em 2016, através de intervenções feitas em subsolo para as obras de infraestrutura urbana, possibilitou a oportunidade para a arqueologia investigar se remanescentes dos dois cais teriam sido conservados nos seus locais de origem histórica. Com foco maior no Cais do Valongo por toda sua indiscutível importância para a comunidade descendente e para a história da escravidão no Brasil, um projeto especial foi desenvolvido para encontrar vestígios dessa história que foi varrida da memória social do povo brasileiro. Nas situações em que o passado é deliberadamente esquecido e enterrado para que dele não se fale mais, a arqueologia histórica é um poderoso instrumento para recuperar e fazer lembrar o que em algum momento se pretendeu esquecer, funcionando como um antídoto contra amnésias sociais. E o Valongo foi trazido de volta, exatamente duzentos anos depois, em 2011.
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