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Reflexão Teórica do restauro e da sua aplicação ao patrimônio cultural

Por:   •  12/3/2019  •  Trabalho acadêmico  •  1.207 Palavras (5 Páginas)  •  226 Visualizações

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Aluna: Janaina Aparecida Ferreira Silva R.A: 5135475

Reflexão Teórica do restauro e da sua aplicação ao patrimônio cultural

Iniciamos a reflexão teórica do restauro pela leitura dos textos propostos em sala onde podemos perceber diferentes linhas teóricas que mostram claramente o quanto a teoria da Restauração evoluiu a partir de duas teorias fundamentalmente: a de Viollet-le-Duc e a de John Ruskin.

Sendo de um lado, a teoria do Restauro Estilístico do arquiteto francês Viollet-le-Duc, que tem como máxima a ideia de que o restauro deveria recompor o monumento a um estado completo que pode não ter existido nunca; e por outro, a linha puramente conservacionista do inglês John Ruskin, que rejeita toda e qualquer restauração em um monumento por considerar seus resultados uma mentira, admitindo apenas ações conservativas.

Ao longo de quase dois séculos de consolidação da restauração do patrimônio histórico através de teorias fundamentadas e amplamente discutidas, novas orientações contemporâneas surgiram, evitando perigos comuns como posicionamentos subjetivos, suposições ou ações superficiais.  

Dentre estas teorias, temos a do Restauro Crítico, preconizado por Cesare Brandi que entende a restauração essencialmente como processo histórico-crítico que parte de uma pormenorizada análise da obra e não de categorias genéricas predeterminadas. Na visão de Cesare Brandi, compreende a questão da restauração como sendo uma intervenção complexa, reflexiva e única (cada caso é um caso) que deve visar à integridade do bem em sua dupla polaridade estética e histórica, sem que seu aspecto documental sacrifique suas características estéticas e vice-versa. Para tanto, esta corrente propõe que a preferência deve ser dada por práticas conservativas e de manutenção, admitindo-se, porém, a restauração em último caso – desde que atendendo a princípios de distinguibilidade, reversibilidade e postulando a mínima intervenção na matéria original.

Outra teoria que podemos destacar é a de Camillo Boito que em seu texto chama a atenção para o fato de que restauração e conservação não são a mesma coisa. Os conservadores são tidos como “homens necessários e beneméritos” ao passo que os restauradores são quase sempre “supérfluos e perigosos”.

Ele também abordagem sobre a relação das formas de restauração de diversas artes: escultura, pintura e arquitetura, cada uma tendo suas particularidades e complexidades. A regra geral para a escultura era a de que não houvesse completamentos, excetuando-se quando fossem devidamente documentados, pois os mesmos poderiam desfigurar a obra, levando-a por um caminho totalmente diferente do que aquele previsto por seu autor.

Todas as adições (restaurações sucessivas) deveriam ser descartadas. Em relação à pintura, preconizava que se deveria saber o momento de parar e ser a intervenção menor possível. Boito admitia contradições em suas próprias teorias, uma vez que o assunto era contemporâneo e as mesmas estavam, ainda, em formação.

Agora falando sobre o texto da Beatriz M. Kuhl, ela vai nos apresenta três principais vertentes de conservação, presentes na Itália: o “restauro crítico-conservativo”, a “pura conservação” e a “hipermanutenção-repristinação”.

A primeira, o “restauro crítico-conservativo”, parte das ideias de Brandi e dos demais teóricos do restauro crítico, propondo uma ação prudentemente conservativa, mas que ao mesmo tempo admite soluções criativas para tratar de problemas na restauração, como remoção de adições ou tratamento de lacunas. Para tanto, fundamenta-se no juízo histórico-crítico para avaliar a dialética entre as instâncias históricas e artísticas ao tomar qualquer decisão quanto ao monumento.

As duas outras vertentes adotam posições que remetem à dualidade original das teorias de restauração: por um lado, a “pura conservação” atualiza as ideias de John Ruskin e outros autores como Camillo Boito, e posicionam-se quanto à preservação do patrimônio de modo a privilegiar sua instância histórica. A obra é vista como primordialmente um documento histórico e a intervenção deve respeitar todas as fases do monumento ao longo do tempo, apenas procurando conservá-lo de modo a tratar patologias e prolongar sua existência. A instância estética do monumento é percebida como indissociável da instância estética, de modo que, para os adeptos desta linha teórica, toda e qualquer alteração na imagem do monumento com vistas a uma reintegração da imagem é rejeitada. Nesta linha, embora os resultados finais deste tipo de intervenção possam em alguns casos serem entendidos como muito radicais ou até mesmo questionáveis, as reflexões propostas por autores como Ruskin a respeito de questões como o tempo, a morte, a reverência pelo antigo (a relação do homem com a história), e a autenticidade são profundas e, talvez justamente pelo seu contraste com os fenômenos contemporâneos de reificação da imagem descolada do objeto, devem ser ponderadas e rediscutidas. A terceira linha, conhecida como “hipermanutenção” ou “repristinação”, adota a instância estética como preponderante, visando à reintegração da imagem do passado. Atualizando em certa medida alguns princípios propostos por Viollet-le-Duc, os adeptos desta linha propõem manutenção e integrações de modo a recompor uma imagem prístina, imaculada e íntegra de suas fases original – muitas vezes trabalhando por meio de analogia ou de mimetismo. Um dos autores desta linha é Paolo Marconi, que considera que a autenticidade numa obra de arquitetura se coloca de forma distinta de outras obras de arte, e que inevitavelmente o uso e a exposição às intempéries acabam por alterar a morfologia de um dado monumento ou conjunto urbano. Deste modo, se considera-se que preservar o patrimônio consiste em transmitir às gerações futuras o legado de determinada obra, Marconi afirma que é impossível fazê-lo sem intervir na “pele” de um monumento, pois, caso contrário, os significados perdidos não atingem as novas gerações. Daí o entendimento de que o restauro deve ser um movimento contrário ao desgaste e à alteração, visando restabelecer a imagem inicial ao longo do tempo. É importante ressaltar que, embora cada vertente faça uma interpretação distinta de conceitos de restauração (principalmente com relação à pertinência absoluta ou relativa de determinadas práticas ao campo da restauração enquanto ação cultural), todas “preconizam o respeito absoluto pelos aspectos documentais das obras e excluem, por completo, a possibilidade de reconstrução que, do ponto de vista da preservação e do ponto de vista histórico-documental, constitui um falso” . As três correntes baseiam-se, antes de tudo, nos documentos e princípios que consideram que a preservação do patrimônio deve atender a princípios e práticas bastante específicos, no tocante ao respeito pelos aspectos documentais, materiais, estéticos, sociais e simbólicos.

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