Reflexões sobre boa arquitetura

Dois ou três décadas atrás, algum camisa 10 chutou que somente 5% das construções no Brasil tinham sido projetadas por um arquiteto (ou que dizia ser o tal, o que dá na mesma), não necessariamente bom, claro. Por exclusão, poder-se-ia então supor que 95% das construções eram uma porcaria. Hoje, eu, que não visto camisa 10 (ou 9, ou sequer a 2) posso chutar que 80% das novas construções urbanas (vamos excluir as construções rurais, ou das ocupações, dentre outras) são projetadas por arquitetos de formação. Ou seja: que de alguma maneira conseguiram um diploma que os habilita para trabalhar LEGALMENTE como tais. O que nos coloca em condições (teóricas) de afirmar que boa arquitetura é o que ultimamente vem caracterizando o crescimento urbano.

Não, é serio...

Ou deveria ser...

Entretanto, caminhando pelas cidades ou pela periferia e olhando ao redor, poderia afirmar (chorando) que 99% das construções são de arquitetura MUITO RUIM.

O que é isso?

É só visitar um stand de vendas, onde encontram-se belas peças gráficas, algumas assinadas por medalhões da arquitetura para se verificar que nem todo o que reluz é ouro. Tente avaliar o que é oferecido e poderá verificar que minha dúvida (ou melhor: certeza) é verdadeira e procedente. Mas isso pode ser mais efeito do produto do mercado imobiliário (e dos seres predadores que comandam estas operações que são eloqüente e soberbamente designados como “empreendedores imobiliários”, ou apenas “empresários” e não como deveriam ser em sua maioria: ambiciosos de poucos -ou nenhum- escrúpulos). Os arquitetos não somos tão ruins assim (bom, há exceções) para sermos autores de tanta coisa ruim. Se cúmplices por ganância, sobrevivência ou não é outro papo). Mas o fato é que o que se encontra edificado é, no mínimo, de qualidade duvidosa. Isso sim: embrulhado em belas (e enganosas) peças de propaganda e em pele de vidro.

Portanto: estamos acostumados a ver e vivenciar porcarias. Tão acostumados que nem conseguimos enxergar claramente o que é tão somente ruim.

Ou, apara ser moderado, digamos que de baixa qualidade.

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