Trabalho de Estudos Sociais
Por: gigialeal • 14/6/2019 • Pesquisas Acadêmicas • 1.308 Palavras (6 Páginas) • 222 Visualizações
ESTUDOS SOCIAIS – 2018.2
Profa. Luciana Amorim
A2 (avaliação 2): Módulo II: Patrimônio
Questão:
Após as leituras e os debates em sala de aula, como o grupo analisa o processo
de definição daquilo que é objeto de patrimonialização no momento atual no
Brasil? Aponte conflitos e possibilidades para resolução dos mesmos.
A questão patrimonial é sem dúvida um desafio para a sociedade. Seu vasto significado mostra que seu conceito é extremamente influenciado pelo período histórico que esse está inserido. Em “Patrimônio e Mundialização” de Françoise Choay é possível perceber tais transformações e, então, entender a realidade atual do patrimônio. Na obra, o autor apresenta três definições a serem estudadas e questionadas: genealógica, etiológica e semântica. Dessa forma, é possível compreender a transformação do termo patrimônio, que antes era apenas considerado algo construído que fazia parte da história, mas que na contemporaneidade podem representar diversos aspectos como algo imaterial, ou até mesmo representar um patrimônio natural.
No entanto, principalmente após a 2ª Revolução Industrial, ocorreu uma alteração radical do comportamento de vida das pessoas e especialmente em como elas lidam com seu passado. Este, então, passa a ser visto em uma escala muito maior podendo sofrer generalização. Tal fato gera diversas contradições e ratifica o questionamento de até que ponto a “mundialização” deixa de trazer benefícios e proporciona a diminuição de uma identidade cultural. E, em meio a essa indagação sobre o mundo globalizado, pode-se admitir duas ideias opostas. A primeira, chamada de “fetichismo do patrimônio” por Françoise, exalta excessivamente o passado, podendo ser representado por meio de um sentimento de identidade ameaçada ou através da promoção de mentiras do consumo cultural. A segunda abordagem é o “fetichismo da técnica” que abdica das heranças do passado, considerando este algo obsoleto e desse jeito louvar qualquer tipo de nova técnica e reafirmar contemporaneidade. Contudo, ambos comportamentos apresentam grandes paradoxos e podem acarretar a estagnação ou até mesmo uma sociedade que sem noção de sua história, futuramente cometa os mesmos erros que seus ancestrais.
O processo de Patrimonialização brasileiro é, majoritariamente, embasado num passado que enfatiza a dor e sofrimento de povos matrizes dessa nação. No texto Maldita Memória escrito por Cecília Rodriguez e Sonia Marques (p..2) é dito “No Brasil, elas são, sobretudo, memórias de raça e de sangue, de negros e de índios, de vítimas de perseguição política e da ditadura militar.”. Tal trecho esclarece que a há um ciclo de musealização das memórias que marcaram o povo e a história com muito pesar e que, por si, são penosas de serem relembradas por meio de museus que tornam todo esse passado de amarguras parte das atrações oferecidas pela indústria do turismo, retornando ao conceito “fetichismo do patrimônio” de Françoise.
Além disso, a memória coletiva tem sido alvo de manipulação dos governantes. Com o desejo de ocultar, apagar e reger as memórias do passado há um forte impulso de repassar a história não como um fato, e sim como algo que passa por uma triagem de críticas e questionamentos originados apenas no século atual, modificando a mesma de acordo com interesses elitistas e políticos. Segundo o texto Maldita Memória “A ampliação indiscriminada do campo da memória, preservação incluída, e principalmente a politização, a ideologia e a judicialização do “dever de memória”, levaram recentemente Pierre Nora a advertir que a “memória divide, a História reúne”, denunciando uma situação que ele define como de “tirania da memória”. Dito isso, nota-se que há uma clara diferenciação na experiência da história e memória em uma sociedade que age sobre ela. A história é a representação do passado. Em paralelo, a memória se renova a cada momento, sendo um fenômeno que sofre a ação tempo e dos homens, podendo ser modificada individualmente e no coletivo de uma nação.
Sendo assim, a manipulação da memória se dá em diversas formas de maneira implícita no cotidiano, podendo simular situações que não ocorreram ou ocultar parte da história. Um exemplo é o cinema, que, mesmo que seja ficção, traz a sensação de que é factível por ser muito realista e impactante, interferindo diretamente na opinião geral sobre o passado. Um exemplo claro dessa distorção pode ser visto na maioria dos filmes de guerra que criava (e ainda criam) uma imagem de heroísmo desta, deixando em segundo plano a verdadeira realidade devastadora desse conflito. Outra forma de manipulação é o museu. Este tem o aval do senso comum de ser totalmente fidedigno ao passado, mas, assim como a recordação individual, é necessário selecionar o que irá para o museu -e será lembrado- e o que ficará de fora da memória popular.
Já em relação à conservação dos patrimônios arquitetônicos, o sociólogo Jeudy afirma que isso gera uma petrificação do espaço e, quanto mais esse processo se expande, maior será o choque entre o passado e o presente, tornando a cidade esteticamente dividida, o que propicia um julgamento baseado principalmente na imagem superficial. Desse modo, a discussão e aceitação da população com relação às novas intervenções arquitetônicas na cidade gera, então, uma dualidade entre quem é a favor e quem é contra a implementação dessas obras, reduzindo um debate complexo a esse duelo. Essa dicotomia também perpassa pelas emoções em situações de transformação, pois o que está por vir significa, geralmente, um progresso e uma sensação positiva de esperança, porém esse processo também inclui o desmoronamento do passado, formando um sentimento de tristeza e nostalgia.
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